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ACERVO
 

Jorge Lúcio de Campos
 

Nome: Jorge Lucio de Campos
Data de nascimento: 15 de setembro de 1958
Endereço: Rua Lopes Trovão, 28/602, Icaraí, CEP 24220-071, Niterói/RJ
Telfax: (021) 711-2890
Email: enescamp@cruiser.com.br
Profissão: Professor Universitário (ESDI/UERJ)
Coletâneas publicadas: Arcangelo (1991), Speculum (1993), Belveder
(1994), A Dor da Linguage (1996), A Dor da Linguagem (1997) e Lição de
Alvura (no prelo)
 

O MISTÉRIO DE ISIDORE DUCASSE

                a Man Ray

Devo-lhe a alma mais
do que a um vulto

em becos que se agitam -
às vezes tremo de prazer

na voltagem que não pára
de tornar-me o mais

infame dos enigmas; a
que devagar me rendo

pra onde quer que me
olhe - eis que me digo

e curvo sob um halo
de opalas desdentadas -

                                        Livro: A Dor da Linguagem (1996)
 
 

A TENTAÇÃO DE SANTO ANTONIO

                  a Claudio Bravo

        Há muitas maneiras de se dizer o óbvio. Às vezes, já bem posta a luz do
dia, o sol se cobre de manchas engraçadas e danamos a rir, um pouco
alucina-damente, ainda mais velozes que o caos em nossos cabelos.
                                                                                Outras vezes, contudo, nada tem a ver com nada e nossos risos
- eles próprios - se interrompem. As bocas, visivelmente perturbadas
pelo silêncio, começam a salivar e o mar se esvai numa língua de fogo.
 

                                        Livro: A Dor da Linguagem (1996)

O MITO DA PROFUNDIDADE

              a Mark Tansey

Manhã contém certo balido
algum corpo intraduzível

Às vezes, posta pela casa
fica entre os livros

tempo de acordar
(de novo deitar)

e dormir

                                        Livro: Belveder (1994)
 

O MARIDO FIEL

                a Vincent Van Gogh

Gosto dos cachos
turbilhões, fiapos
de barba engraçada

Ligo-me no esboço
dos sulcos de tinta
dois vidros, dois

pares, duas vezes
dois identifico
dois cachimbos

cheios de cor
e construção

                                        Livro: Belveder (1994)
 
 

VICTORY BOOGIE-WOOGIE

                a Piet Mondrian

Surrada a noite -
de trapos e ciclones

- inábil pra soprar
o dia. Numa espécie

de delícia inevitável
deixo de sentir-lhe

o fogo, goste ou
não seu algoritmo

- de certo modo
um sol forrado

de dourado, ali
presente em duas

linhas semiprontas
- dia e noite

na mecânica
das tardes -

difícil ter
o entardecer

                                        Livro: À Maneira Negra (1997)
 
 
 
 
 
 
 
 

MIRAGEM
 

Não vejo como prever
a pele despida, funâmbula

com detalhes de âncoras
e arpejos de sol
 
Embora seja estranho
o riso triste, pousado

nos lábios - o olhar
distante, bifurcado

encharcado
de mar

                                        Livro: Lição de Alvura (Inédito)
 
 

MOHAMMED DE GHOR (? - Damyak, 1206)
 

        Logo após derrotar os Punjab e fundar o sultanato dos Ud Nin, Mo-hammed
de Ghor caiu em profunda prostração. Movido pelo que con-siderou ser um
sinal divino (viu, durante toda uma noite, o próprio rosto estampado nos
prados afegãos), chegou a duvidar da nobreza de seus atos. Depois, já
in-teira-mente cego pela fé, levou a destruição a todo o norte da Índia.
Os que sobreviveram-lhe à espada, afundaram sob o peso de sua sanha. A
partir dali a maior infe-licidade de um Mohammed passou a ser a
não-semelhança com o outro. A fideli-dade dos traços é, ainda hoje, uma
dádiva no Oriente.

                                        Livro: À Maneira Negra (1997)
 
 
 
 
 

A PARTIR
 

Ver o
outro lado
borbole-

tear a
vocação
noturna

de encher
desaguar
-

Até gosto
e queimo
(recuso)

aquele sol
sempre
dá cores

Se ainda
diz que
o vento

lufa -
em resumo
: isso

                                        Livro: Lição de Alvura (Inédito)
 
 
 
 
 
 
 
 

25
 

olhar a finitude
de quem olha

o infinito
é só pensar

o falso de
onde diz

ser o sol
de cada um

                                        Livro: Magneto (Inédito)
 
 

27
 

ao longo do tempo
o que faz torna

o desejo um
corpo griso

diante do espelho
a água o copo

fala a condição
de algo a ver

dizer nanquim
como de um ovo

que múltiplo
adormece

                                        Livro: Magneto (Inédito)
 
 

Poetas
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