Rubens Espejo
Sou caso de bar não vou casar
sobre ontem, só sei que vou amar.
Andava sem rumo puxando fumo
comprava cocaína e lhe fodia na vagina.
Sou caso de bar não vou casar
sobre ontem, vou explicar.
Navegava sobre asfaltos aflitos
embrigado de vinho, sem ninho.
Sou caso de bar não vou casar
sobre ontem , vamos encerrar.
Ontem tive um sonho queria casar
mas sou caso de bar, não quero lar.
Bebi tantos copos de angústia
que fiquei embriagado de dor,
mas o pior é esta ressaca de amor.
Nas cartas fomos amantes,
e na cama dois farsantes,
nos beijos fomos admirados,
e nas lingüas separados.
No corrego não nos banhamos
acabamos sempre como somos,
sós e juntos, na desigualdade
de ser tentativa de verdade.
Como o náufrago sem naufrágio,
descoberta feito plágio,
gama e delta sem equação,
dura facilidade de ser em vão.
Cláusula morta seria desistir,
caluniar a chama da vida,
derramar lágrimas em vão,
correr em pleno verão
entrar sempre na contramão
e se achar na razão.
Cláusula morta seria cair,
cair em sono profundo,
e com olhos fundos,
dizer, estou cansado.
Um a um somos acusados de sermos sós,
dois a dois somos chamados de amantes,
três a três somos increpados de traição.
A maior traição é ser vivo em vão, com
o copo cheio,
grito nu, sobre o ventre do horizonte, paixão.
Em comunhão com nossos desejos,
regozijo-me em teus olhos,
faço das explicações nossas mentiras,
coragem no teu lábio.
Afago o um com dois, esqueço o dois
com o três, e peço segredo as estrelas.
Água, água que cai e cai,
caindo assim como véu,
da eterna calma que é o céu,
inutíl seria não ver o dia que se vai.
São assados na marmita,
o frango com destino,
e na garganta se esquece o hino,
do operário que no Brasil habita.
Porque se importar com a fome alheia,
temos caviar em nosso almoço
e nem o suor deste moço,
será lembrado em nossa ceia.
Como quem governa,
e enche-se de ambição,
como quem lava prédios em vão,
e assim é meu país uma grande taberna.
Sílnei Lopes & Rubens Espejo
Estanquei meu brio,
andei com quem estava no cio,
sorri com quem não entende
me liguei a quem não surpreende
agradeci com interesse.
Criei expectativas, amarguei o canto
perdi meu encanto.
Achei alguns trocados, neste pequeno
sonho.
Lambi e engoli todos os sapos
desta grande lagoa chamada vida.
Hoje sou profundo,
não lavo mais roupa suja
não bebo mais aguardente
Só tomo cervejas geladas.
Hoje não sou nocivo
sou socialmente ativo,
Canto canções
recito poesias
embaralho as cartas
mas não sou jogador.
Hoje sou guerreiro
tomo ônibus lotado
sofro achando bom.
Não cheiro mais pó
nem me faço ter dó.
Agora sou profundo
homem destinado a vencer.
O que ?
Sou feito vidro, tome cuidado,
não me tome por um desgraçado.
Frágil seria se fosse o fogo que incendeia,
despedaçado posso dilacerar tua veia.
Vidro inteiro transparente, não reflito.
O espelho não é alma, e a carne já é dito,
é como fogo que incendeia o aflito,
e faz parecer diamante o que é vidro.
Alavanquei toda a raiz embrutecida
engrandeci toda aguardente,
enriqueci os pulmões de nicotina.
E cantei canções, fingi emoções,
sem razão aparente.
As quimeras foram pequenos jazigos
de muitos copos e moças.