Somente em 3 de Julho de 1642 é que o Governador Maurício de Nassau recebeu a noticia da assinatura do tratado e dois dias após deu conhecimento aos moradores de Recife, em conseqüência do não cumprimento por parte do monarca de Portugal do prazo para ratificação do tratado, e por ter os holandeses conquistado algumas colônias após o acordo do tratado, devido aos fatos houve muitos protestos na Bahia e em Lisboa aonde o sentimento geral era de que os portugueses haviam caído numa cilada dos holandeses. Mendonça Furtado queixou-se acerbadamente e exigiu em Haia a entrega das terras anexadas a Companhia das Índias Ocidentais desde o dia 12 de Junho de 1641. Em resposta da solicitação do encarregado dos negócios português foi dito que de acordo com o texto da convenção a Companhia das Índias Ocidentais ficara autorizada a ampliar o seu domínio até a cessação das hostilidades, e o tratado assinado entre Portugal e Holanda não foi aceito nos círculos comerciais da Holanda, pois os diretores das companhias de comércio preferiam pela continuação da guerra do que o tratado de paz.

33.jpg (43321 bytes) No inicio de 1642 o poder colonial holandês no Brasil abrangia a oito capitanias: Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe foi quando Maurício de Nassau concedeu a cinco capitanias os seus brasões especiais que foram as seguintes: Rio Grande do Norte uma ema em pé sobre uma trave ondeada, Paraíba seis pães de açúcar, Itamaracá três cachos de uva, Pernambuco uma virgem coroada com uma cana de açúcar na mão direita e um espelho na mão esquerda, Alagoas três peixes e a de Sergipe um sol brilhante sobre três coroas abertas.

    Com a publicação do armistício cessaram as hostilidades militares e os ataques dos bandos de depredadores com isto ia surgindo um rápido desenvolvimento econômico para a Nova Holanda por este motivo o  Governador Maurício de Nassau escreveu uma carta ao Colégio dos XIX relatando que dentro de pouco tempo o Brasil cobriria todas as despesas efetuadas com a conquista do norte do Brasil. E era justamente na remessa de dinheiro da Nova Holanda e que estava faltando aos diretores da Companhia das Índias Ocidentais, porque quanto mais apertada se encontrava a companhia, tanto mais eles exigiam de suas possessões ultramarinas e como o resultado das vendas dos produtos brasileiros não fossem compensadores os diretores da Companhia das Índias Ocidentais e o Colégio dos XIX recomendavam a Maurício de Nassau que cuidasse da cultura das especiarias da Índia em Pernambuco tais como arroz, do algodão, do anil e do gengibre produtos que o norte do Brasil produzia em abundância porém cuja exploração era negligenciada pêlos agricultores da colônia.
Porém não foi fácil a tarefa para Maurício de Nassau, em virtude dos insuficientes recursos a sua disposição reparar todos os danos causados pelas guerras em Pernambuco e ao mesmo tempo em satisfazer as solicitações dos diretores em suas anciãs de maiores lucros, entretanto o Governador Maurício de Nassau apesar de tudo soube insuflar um novo alento a política agriculta ao estimular o plantio da cana e a fabricação de açúcar, acabou com as vendas forçadas, anulou as confiscações, e aos portugueses fugitivos foi permitido as suas volta sem imposição de qualquer penalidade, as antigas dividas foram prorrogadas, foram concedidos adiantamentos para a reconstrução e reparos dos engenhos de açúcar e foi reduzidos os elevados impostos de exportação do pau brasil, foi dado incentivo a cultura do fumo e empreendeu o desenvolvimento da pecuária na capitania do Rio Grande do Norte e junto as tribos indígenas ele incentivou as culturas do feijão e da ervilha. Sendo detentora dos direitos de comercialização e transporte no norte do Brasil a Companhia das Índias Ocidentais não estava em condições financeiras para desempenhar o seu papel, pela deficiência dos seus navios para o  transportes de suas mercadorias, com isto o comércio paralisou em Pernambuco e como um pesadelo oprimia o monopólio da Companhia das Índias Ocidentais. Devido ao fato em Amsterdã os membros da Companhia das Índias Orientais e os comerciantes da metrópole se rebelaram e pediram que o monopólio concedido a Companhia das Índias Ocidentais fosse estendidos a todo circulo comercial da Holanda para que pudessem participar do lucrativo comércio do açúcar.

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E com respeito a esta solicitação o Governador Maurício de Nassau foi consultado e se colocou totalmente a favor, pelo fato de que sem liberdade de ação comercial não se podia pensar em desenvolvimento da colônia, o seu parecer foi resolutorio com isto os portos do norte do Brasil foram abertos a todos os comerciantes holandeses, e para Companhia das Índias Ocidentais restou apenas o monopólio da exportação do pau brasil e a importação de material bélico e de escravos negros.

    Com as redes do governo em suas mãos Maurício de Nassau, a Nova Holanda se mantinha em paz, para isto o que muito contribui foi a reforma da administração municipal e a criação das camarás dos escabinos em substituição das antigas e mal organizadas camarás portuguesas, que contava com igual número e o mesmo direito de holandeses e portugueses, e como chefe de administração, procurador do estado e arrecador dos impostos foi colocado o Governador Maurício de Nassau, e para a direção dos hospitais e orfanatos foram chamados os portugueses de Recife, e aos portugueses também foram dados os direito de  formarem aos lados dos diretores das diferentes capitanias um corpo consultivo.

Na assembléia geral dos escabinos, portugueses e pessoas consideradas entre os habitantes das capitanias de Pernambuco, de Itamaracá e da Paraíba se reuniram em Recife afim de tratarem da situação política e econômica da Nova Holanda e sobre as medidas a serem adotadas contra os grupos de bandoleiros baianos, esta reunião foi o primeiro parlamento que se reuniu na América do Sul, os representantes portugueses deram um voto de confiança ao Governador Maurício de Nassau porém criticaram severamente a situação em que se achavam e exigiram para a religião católica a igualdade de direito em relação ao calvinismo.

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    E por mais que fosse ao encontro dos portugueses e procurasse desfrutar de suas amizades, Maurício de Nassau nunca confiou qualquer cargo de responsabilidade embora tivesse entre os portugueses muitos amigos íntimos e entre eles João Fernandes Vieira, Manuel Calado e outros. Nesta época a sede do governo holandês no norte do Brasil era na cidade de Recife que se tornara demasiadamente pequena para conter a expansão da população que sofria com a alta dos valores das moradias, então o governador e o conselho resolveram repovoar a cidade de Olinda que por causa das guerras se encontrava em escombros e abandonada, e uma parte dos antigos habitantes portugueses foram se estabelecer em Olinda com o auxilio do governador que lhes fornecia material de construção e apesar da proposta da mudança da capital para a Ilha de Itamaracá localizada exatamente no meio da Nova Holanda aonde se poderia ser facilmente defendida por uma pequena esquadra, o Governador examinou a proposta, porém não acatou devido ao fato de que Recife já possuía um ancoradouro bem defendido por excelentes fortificações e que se achava organizada para o trafego ultramarino e era até então o principal porto de embarque de açúcar brasileiro, porém o Governador Maurício de Nassau via perfeitamente que era indispensável aumentar a área da cidade afim de poder acolher os imigrantes holandeses e portugueses que afluíam para Recife nesta época, e para esta expansão foi escolhida a Ilha de Antônio Vaz cujos pântanos ele mandou aterrar e construir dois palácios; o de Friburgo a beira do rio Beberibe e de Boa Vista a margens do rio Capibaribe ao lado ocidental da ilha, que serviu como residência oficial de Maurício de Nassau, para lá também mudaram o pintor Franz Post e o seu irmão o arquiteto Pieter Post que foi o autor do plano para a cidade nova "Mauricia" que se levantou entre o Forte Ernestus e a Fortaleza Friedrich Heinrich. O cientista Dr. Villem Piso e seu amigo Georg Maregraf, colecionaram no Parque de Friburgo material necessário para a grande obra Historia Naturais Brasileira, e pesquisaram as doenças  tropicais reinantes na colônia e estudaram  as ervas medicinais indígenas e os antídotos empregados pêlos indígenas e empregou  com bom êxito nos pacientes europeus, observaram também os insetos, repteis, peixes e moluscos fizeram algumas pesquisas sobre a geografia e o clima em relação aos habitantes, da terra, a fauna e a flora e sobre o plantio e tratamento da cana de açúcar e da raiz da mandioca.

O Governador Maurício de Nassau que mantinha grande interesse pela exploração da colônia e para satisfazer aos interesses da Companhia das Índias Ocidentais mandou o administrador da Capitania da Paraíba Elias Herckmans de empreender uma expedição ao interior da capitania a  procura de minas de ouro e prata, todavia esta expedição não apresentou o resultado desejado, porém melhores resultados vieram abater mais tarde, no Ceará quando uma expedição dirigida por Mathias Beck encontrou uma mina rica em prata, porém em conseqüência da situação cada vez mais ameaçadora em que se achava a Nova Holanda não pode ser explorada. 36.jpg (27704 bytes)

Nesta época na cidade de Mauricia o Governador Maurício de Nassau fez de tudo para o seu crescimento, com as melhorias efetuadas ela se tornou a preferida dos conselheiros, comerciantes e funcionários superiores, ao passo que a parte mais antiga de Recife ia se tornando um bairro comercial, onde se localizavam os escritórios, armazéns, e as residências dos empregados do comércio, dos operários do porto, e mandou construir uma ponto para estabelecer uma comunicação mais comada entre Recife e a Ilha Antônio Vaz, e nas proximidades do Palácio de Boa Vista também ergueu outra ponte sobre o rio Capibaribe para de melhorar as comunicações e a defesa da nova cidade contra possível invasão.

     E pelo fato de não confiar nos portugueses Maurício de Nassau, em varias correspondências com o Conselho dos XIX, solicitava o aumento das forças militares na Nova Holanda, apesar da suspensão das hostilidades. Os Altos Conselheiros em resposta a Maurício de Nassau declaram que estavam fartos de suas solicitações no tocante ao envio de reforços para suas tropas e que os diretores e os acionistas, desejavam ver o capital investido no Brasil render juros e não prejuízos como vinha sendo apresentado e exigiram dele que as suas cartas fossem mais polidas e respeitosas e ele se empenhasse mais pela Nova Holanda e que fosse mais econômico em seus gastos e que reduzisse para dezoito companhias o efetivo de suas tropas. Estas medidas do diretório fez Maurício de Nassau enviar a Holanda em principio de Maio de 1642 o seu secretário particular Johan Carl Tolner com a incumbência de fazer uma exposição detalhada aos Estados Gerais da exata situação em que se achava a Nova Holanda e de que não era possível manter um território tão vasto como o norte brasileiro com a quantidade de soldados a seu dispor, pois a qualquer momento poderia haver uma revolta dos portugueses descontentes e que a libertação de Portugal do jugo espanhol tinha reanimado na América do Sul o sentimento nacional português, e que Dom João IV não descansaria enquanto a Nova Holanda voltasse a ser de Portugal, quanto mais não fosse por vingança pela tomada do Maranhão, Angola e São Tomé.

As advertências do Governador Maurício de Nassau eram bem fundadas, prova disto foi a grande rebelião que surgiu na Capitania do Maranhão em 1642 quando portugueses e os índios Tapuias assaltaram o Forte Monte Calvário em Itapicurú, sitiando a Cidade de São Luiz, quando o governador de Recife mandou em auxilio dos sitiados o Tenente Coronel Henderson com algumas companhias e quando as suas tropas chegaram  para combate a rebelião já tinha ganho grandes proporções, e logo após as primeiras investidas Henderson se viu obrigado a se retirar do combate com suas tropas, devido a este fato a cidade de São Luiz resistiu por mais de um ano aos ataques dos holandeses até que em 28 de Fevereiro de 1644 Antônio Teixeira entrou triunfante com suas tropas na Cidade de São Luiz salvando o Maranhão do jugo estrangeiro e livrou o Pará da perigosa vizinhança inimiga, e também na Ilha de São Tomé os portugueses nesta época se revoltaram, porém o governador despachou de Recife uma expedição em socorro as tropas holandeses na ilha, que conseguiram sufocar o levante após muita luta.

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    Profundas consternação se abateu sobre os habitantes de toda a colônia quando souberam de que o governador tão querido e respeitado, insistia em suas intenções de se retirar do Brasil, e de todas as partes, de modo comovente partiram manifestações para sua permanência a frente do governo de Recife, todavia Maurício de Nassau sentia que por trás das constantes negativas dos diretores da Companhia das Índias Ocidentais a respeito de seus atos, pretensões e gastos se ocultava algo mais, do que o espirito mercantil dos diretores, queriam eles se descartar de Maurício de Nassau que tanto custava para a Companhia das Índias Ocidentais, que não lhe perdoavam pelo insucesso contra a Bahia, e não concordavam com o tratamento que ele despedia aos portugueses e aos indígenas. E em suas obsessões esperavam os diretores da Companhia das Índias Ocidentais salvarem as finanças da empresa mais rápido que possível, e para que isto acontecesse passaram a recorrer ao velho expediente de pilhagem aos navios mercantes inimigos, e assim foi que o Conselho dos XIX insistia pela destruição do Governador. Por isto em 6 de Maio de 1644 o Governador Maurício de Nassau renunciava ao governo da Cidade de Recife junto ao Alto Conselho, entregando ao mesmo tempo um  relatório que deu o nome de Testamento Político do Conde, logo que os habitantes da Nova Holanda tomaram conhecimento que Maurício de Nassau estava realmente disposto a regressar a Holanda, apoderou-se em todas as classes uma verdadeira consternação a que se aliava uma grande inquietação pelo futuro do Brasil-Holandes; apelos e petições foram dirigidas ao governador, ao Estados Gerais e aos diretores das Câmaras, para que ficasse sem efeito a fatal resolução de Maurício de Nassau, e apesar das noticias chegada do Ceará, que lá havia sido levantada uma revolução e que havia sido assassinado Gildeon Morris juntamente com os seus em Fortaleza, mas os diretores da Companhia das Índias Ocidentais sabedores de tudo, não mudaram as suas atitudes a respeito da situação.

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E no dia 11 de Maio de 1644 Maurício de Nassau acompanhado de grande séquito deixou a Cidade de Recife e dirigiu-se a Olinda e de lá seguiu viagem para a Paraíba, aonde foi recebido de uma maneira triunfal, de todas as partes corriam pessoas para contemplar o governador pela última vez e sob a salva da artilharia e ao som da canção Wilhelmus Von Nassaven foi realizado o embarque do Conde Maurício de Nassau em uma frota composta de treze navios que partiu em 13 de Maio com destino ao porto de Texel.

    Quando de sua chegada teve uma recepção digna para com os seus atos no Brasil, e em principio de Agosto ele apresentou suas contas perante a Assembléia dos Altos Poderes e entregou um relatório sobre a situação então reinante na Nova Holanda, e solicitou a eles que dessem mais atenção aos lavradores individuais, aos naturais do pais e aos negros escravos e fez criticas a Companhia das Índias Ocidentais por não haver depositado confiança ao seu governo e de não terem fortalecido o seu prestigio perante aos conselheiros, funcionários, portugueses e naturais do pais, e opinou; que se tinham a intenção de conservar o Brasil, o melhor seria convertê-lo numa verdadeira Nova Holanda, tomando do inimigo espanhol todas as possessões sul-americana, e fundindo as duas companhia em uma só para se formar uma grande Companhia de Comércio.

 

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