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ComunismoDesignação dada originalmente a um modelo ideal de organização da sociedade, fundado sobre o princípio de que a propriedade deve pertencer a todos em comum e os bens devem ser distribuídos a cada um de acordo com suas necessidades. Hoje, o termo é usado principalmente com referência ao regime econômico e político que se estabeleceu em países como a antiga União Soviética (em 1917) e em seus países-satélites da Europa Oriental, assim como na China, durante e após a Segunda Guerra Mundial. O ideal comunista foi de um modo ou outro proposto por muitos pensadores, entre eles Platão, os cristãos primitivos e o humanista do Renascimento Thomas Morus (ver utopismo), que viam nesse ideal a mais alta expressão da natureza social da humanidade. Através da obra de Karl Marx, onde o comunismo aparece como o resultado final da luta cada vez mais acirrada entre as classes ao longo da história, o ideal comunista tornou-se a base de um movimento revolucionário que pretendia extinguir o capitalismo e instaurar o governo do proletariado. No pensamento de Marx, o comunismo expressava ainda o ideal de uma sociedade na qual as pessoas cooperariam voluntariamente, sem a presença do Estado (que simplesmente desapareceria); mas com o líder russo Vladimir Ilyich Lênin (1870-1924) e seus sucessores na União Soviética, o comunismo tornou-se uma doutrina política que pregava o controle, pelo Estado, de todos os aspectos da vida social. Essa doutrina tinha dois elementos principais. O primeiro era o papel de liderança absoluta do Partido Comunista, considerado o legítimo representante dos interesses dos trabalhadores. O partido deveria controlar os órgãos estatais e deveria se organizar internamente segundo um 'centralismo democrático': a composição de cada órgão ou setor dentro da hierarquia do partido era formalmente escolhida pelo voto dos membros ou órgãos subordinados, mas as decisões eram tomadas nas instâncias superiores e deviam ser cumpridas rigidamente pelas esferas inferiores da hierarquia. O segundo elemento da doutrina comunista era a socialização da propriedade e o planejamento centralizado da economia (isto é, sem sujeição às variações do mercado, como na economia liberal capitalista). Em princípio, toda propriedade privada dos meios de produção e todos os elementos da economia de mercado deveriam ser abolidos e a vida econômica deveria ser controlada e planejada pelos ministérios, responsáveis pela definição das metas de produção das fábricas e fazendas agrícolas coletivas, pela fixação dos preços, alocação de trabalhadores etc. Embora esse princípio nunca tenha sido completamente implementado, o comunismo soviético, no seu auge, foi o exemplo mais característico de uma sociedade em que todos os aspectos eram controlados por uma pequena elite política (durante o período stalinista, 1928-53, tal controle se concentrou nas mãos de um só indivíduo); por isso, foi por muitos considerado um caso típico de totalitarismo. No entanto, as conquistas econômicas e militares do regime soviético inspiraram muitos movimentos políticos e sociais; em alguns países não-desenvolvidos, como China, Vietnã, Coréia do Norte e Cuba, os partidos comunistas tomaram o poder e instauraram regimes mais ou menos baseados no modelo soviético. Na Europa Oriental, os governos comunistas se instalaram sob influência soviética ao final da Segunda Guerra Mundial. Mas o modelo comunista, tal como realizado, foi sendo cada vez mais criticado, nos países desenvolvidos ocidentais, pela ineficiência econômica, e mesmo intelectuais simpáticos ao marxismo condenavam a ausência de uma democracia genuína e de respeito aos direitos humanos. Na década de 70, a maioria dos partidos comunistas dos países ocidentais adotaram as idéias da corrente chamada 'eurocomunismo', basicamente caracterizada pela defesa das instituições democráticas e da conquista do poder pela via eleitoral, com abandono da teoria leninista da 'ditadura do proletariado'. Na década seguinte, o questionamento do comunismo mais 'ortodoxo' começou a se disseminar na Europa Oriental e na União Soviética, culminando numa série notável de transformações, às vezes revolucionárias e na maioria pacíficas, que tiraram os partidos comunistas do poder, abrindo o caminho para a democracia liberal e a economia de mercado. No entanto, em vários países verificaram-se, em um segundo momento, resultados eleitorais moderadamente favoráveis aos partidos comunistas, concorrendo em eleições multipartidárias. Hoje, alguns comentaristas já afirmam que o significado histórico do comunismo terá sido oferecer uma via de transição de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial, e não (como ele mesmo se considerava) o objetivo final da história humana. Lenin, Vladimir Ilyich (1870-1924), estadista revolucionário russo. Vladimir Ilyich Ulyanov, como foi chamado por seus pais, teve sua vida marcada pela execução (1887) de seu irmão mais velho aos 19 anos, por estar implicado em um golpe contra o imperador. O próprio Lenin foi detido em 1895 por propagar as doutrinas de Karl Marx entre os trabalhadores de S. Petersburgo (cidade posteriormente chamada Leningrado e, com a queda da União Soviética, novamente S. Petersburgo) e exilado na Sibéria. Vivendo na Suíça a partir de 1900, tornou-se líder do partido bolchevique e teve importante papel na organização e propaganda socialistas nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial. Retornou à Rússia com a deflagração da Revolução Russa e rapidamente estabeleceu o controle bolchevique, emergindo como presidente do Conselho dos Comissários do Povo e virtual ditador do novo Estado. Lenin retirou a Rússia da guerra contra a Alemanha e resistiu com sucesso às forças contra-revolucionárias na Guerra Civil Russa (1918-21). Sua política econômica inicial (chamada 'guerra do comunismo'), incluindo a nacionalização das maiores indústrias e bancos, e o controle da agricultura, foi uma política de emergência exigida pela guerra civil, substituída, após esta, pela sua Nova Política Econômica, que permitia a produção privada e dava maior liberdade ao comércio agrícola. Esta veio tarde demais para evitar a terrível crise de fome que se abateu sobre a U.R.S.S. (1922-3). Lenin não viveu para ver a recuperação de seu país com o crescimento da produção agrícola e industrial. A imagem e o caráter de Lenin afetaram profundamente o perfil assumido pela revolução; ele estabeleceu um exemplo de austeridade e imparcialidade que logo passaram a ser o padrão do partido. Vários teóricos e ativistas do comunismo continuaram a seguir como inspiração os escritos de quem talvez tenha sido o maior revolucionário de todos os tempos. |