E-MAIL DE UM ZAMBOWNIANO À UM TERRÁQUEO:

 

Meu nome é Snurk Svalarovitz. Sou amigo do Marcelo , que é  quem está me emprestando este e-mail. Pensei em enviar a mensagem diretamente do mainframe central do meu cruzador espacial, mas verifiquei uma incompatibilidade com os  sistemas operacionais de seu planeta. As diferenças são muitas. Para começar, os sistemas de algoritmos de processo de Zambow obedecem à leis de cálculo um pouco mais avançadas, uma vez que nos utilizamos de bases de cálculo 12. Em segundo lugar, os sistemas de compressão de dados utilizados pelo
meu mainframe são direcionados para utilização exclusiva de códigos trinários. Há também divergências entre os métodos de criptografia e de emulação das informações. Redimensionar meu mainframe e configurar todos os sistemas é nitidamente mais complicado do que utilizar o e-mail do Marcelo. E além do mais, não tenho permissão de meus superiores para alterar a metodologia de raciocínio do cérebro-eletrônico de meu cruzador-espacial.

O nome do meu cruzador é uma homenagem que fizemos a uma constelação do universo. Poderia ser traduzido como "Centaurus", que é o nome dado por vocês à essa constelação polar austral, compreendida entre as ascenções retas de 11h3min e 14h59min, e declinações de -29°,9 e -64°,5. Isso é para o caso de você querer consultar uma carta celeste. A carta da constelação Centaurus é a de número XXII pelos seus padrões.  O sistema de propulsão do Centaurus é básico: Os reatores funcionam à base de hidrogênio, que é o átomo mais abundante do universo. O hidrogênio é captado, carregado elétricamente antes de atingir o ponto crítico, acelerado em máquinas de fusão e ejetado pela parte traseira. Não vou entrar em detalhes sobre os sistemas de resfriamento, de manutenção de vida, de gravidade artificial e principalmente do pavimentador-paracrônico-WARP II-antigravidade, que é o que nos permite viajar mais rápido que a luz. Se você quiser, posso explicar-lhe isso em outro mail, falando sobre a unificação das teorias relativísticas, "efeito tesseract" e sobre como isso age sobre os corpos dos tripulantes durantes as espaçodistorssões.

O Marcelo já lhe falou sobre a localização do meu planeta: "... Zambow, q se situa na órbita de Alrisha, a 98 anos-luz daTerra, na constelação de Piscis. O sol q o Snurk vê quando acorda, Alrisha, é também conhecido por Alpha Piscium, ou Alfa dos Peixes. Alrisha é , na verdade, não uma, mas duas estrelas, ambas com o mesmo tipo espectral (A2), típico das estrelas de hidrogênio. As magnitudes dessas duas estrelas são 4,33 e 5,23. Elas descrevem uma órbita de 720 anos-luz em torno de um centro de gravidade comum. O nome Alrisha tem origem árabe, pode significar a corda que une dois peixes ou uma referência ao poço que os antigos astrônomos imaginavam
existir nessa região do céu..."

Sou um sujeito de pele azulada, denominado em minha língua, o "turbalim", como Belkai. Todos os Zambownianos são KAIR ( o singular de KAIR é KAI). Kai pode ser então traduzido como zambowniano. Bel significa "azul". Há também os "KORUNTARTOKAIR", ou "Zambownianos de nariz preto" e os simplesmente KAIR. Um Belkai, pra você entender melhor, nasce, como todo
Zambowniano, branco. Não branco como a pele de um humano. Branco como uma folha daquilo que vocês chamam de papel. Como nós usamos um manto azul sobre o corpo, e vivemos em um sistema solar com dois sóis, o que nos expõem a um calor bem alto (para vocês, cerca de 75°. Nenhum humano sobreviveria em Zambow sem trajes especiais), O manto vai soltando uma tinta que se mistura ao nosso suor e acaba nos deixando  assim, azuis. E não há banho que tire o azul. Para nós, Belkai, o azul era uma cor sagrada, pois é a cor de nosso céu (afinal também respiramos oxigênio) que para os nossos ancestrais era também o Todo-Poderoso. Atualmente, apenas os Belkair mais ortodoxos ainda crêem e cultuam o Todo-Poderoso. Nossa ciência já confirmou a teoria da criação do universo, e descobrimos que tudo o que hoje existe, surgiu do "Nada". Após a descoberta do "Nada", iniciou-se o projeto de desenvolvimento da "Arma de reverso-desatomização universal única", projeto que foi abortado pela Federação pelo alto grau de periculosidade. A arma em questão teria poder de destruição equivalente ao do "Big-Crunch". O "Nada" é , na verdade, é uma poderosa arma de criação e destruição. A elaboração de "Nada" em qualquer local da "FEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA" é expressamente proibida. Estados e civilizações que insistirem nessa criação pra quaisquer fins, serão instantâneamente eliminados, com consentimento escrito do "Comitê Federativo de Integridade e Defesa" por naus alfitas de aniquilação total. Parece confuso essa história de "Nada", mas na verdade é bastante simples. Ela não exclui aquilo o que vocês chamam de DEUS, mas lhe dá uma nova forma e uma nova concepção. Se quiser, e estiver preparado para a verdade, posso lhe falar sobre isso em outra oportunidade. Basta pedir.


Não sei mais o que pode lhe parecer interessante sobre mim. Sei que devo ter lhe falado mais do que não lhe interessa do que sobre o que lhe interessa. Portanto, me faça perguntas e então eu tentarei respondê-las. Ao fazer perguntas, evite termos exclusivamente terrestres, como nomes de plantas e animais, por exemplo. Leões só existem na Terra, Assim como Felinos em geral. E não há orquídeas em lugar algum do Universo, a não ser no seu planeta. Evite termos técnicos e também fatos históricos exclusivamente terrestres. Se ficar confuso, fale com o Marcelo, ele poderá ajudá-lo.

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Bem, mas eu também posso enviar agora as 9 perguntas que uma vez me foram feitas , pra você ver como as pessoas da Terra ficam assim, impressionadas, ao perceber que estão falando com um extraterrestre :



1. Como você conheceu o Marcelo?


RESP: O Marcelo chegou até mim de uma maneira que pode lhe parecer confusa. Lembra-se de quando lhe falei sobre uma coisa chamada espaçoreversão? Pois então. Espaçoreversão é o nome que damos a uma espécie de "salto" no espaço, através de uma coisa que vocês denominam "ponte Einstein-Rosen". Uma ponte Einstein-Rosen é uma espécie de túnel que liga dois pontos muito distantes através de um espaço espantosamente curto. É mais ou menos como curvar o espaço existente entre dois pontos  de modo a deixá-los bastante próximos e fazer um túnel curto interligando-os. Faça um ponto em cima de uma folha de papel e outro embaixo. Entorte a folha, como se a estivesse dobrando ao meio. Os pontos não estão próximos agora? É mais ou menos isso. Parece simples, não é? E você deve estar pensando: Mas onde o Marcelo entra nessa história? Pois é. Ele entra justamente na parte onde começa a complexidade da entrada em uma Ponte Einstein-Rosen. Para se entrar numa ponte dessas, precisa-se criá-la. Para criá-la, você precisa gerar uma força gravitacional estupidamente forte, de forma a forçar uma curvatura involuntária do espaço. E quando você gera essa força, antes de abrir a ponte, ela cria uma coisa chamada "singularidade". Singularidade é o nome dado a um local onde qualquer coisa pode acontecer, pois a anomalia física naquele ponto de gravidade incrívelmente concentrada possibilita desde o deslocamento mais rápido que a luz à transformação ilógica de ouro em água, por exemplo. Naturalmente, singularidades só existem no centro de buracos-negros e sempre protegidas por um "horizonte de eventos". A passagem pela ponte possibilita então uma visão panorâmica totalmente inusitada. Numa dessas visões, minha janela captou o planeta Terra, mais precisamente o estado de São Paulo. Aliás, captou a imagem do Marcelo, trabalhando diante de uma coisa que vocês chamam computador, e que é por onde você deve estar recebendo este mail agora. Achei o computador um aparelho que remetia possivelmente a uma civilização com nível de tecnologia mínimo para contato com a Federação Intergaláctica. Fiz um relatório para o comitê de estudos da Federação, e então me mandaram para uma missão na Terra, onde precisei fazer contato com o Marcelo, que era o ser que eu havia avistado. O resto é isso que você deve imaginar. O Marcelo é o único representante da Terra na Federação. E ele deve manter segredo sobre isso. Espero que você também mantenha.   

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2. Quantos anos você tem? Quanto tempo vocês vivem em média?


RESP: Tenho 86 anos terrestres, ou 126 anos Zambownianos, como você preferir. Um Zambowniano médio vivia, antes da revolução médica, cerca de 240 anos Zambownianos. Agora, 3868 anos zambownianos após a revolução, vivemos em média 840 anos zambownianos. Algo próximo de 1230 anos terrestres. Poderíamos viver mais, mas o acordo que assegura o direito de formação e autonomia total de novas gerações em Zambow, firmou que este era o limite máximo para um zambowniano fazer a sua última aplicação de luzes de reorganização e revitalização celular.

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3. Com quem você mora?


RESP: Eu moro a maior parte do tempo no Centaurus, que é o meu cruzador-espacial, com a minha tripulação, cerca de 450 elementos. Quando permaneço no meu planeta, em período de descanso, moro com mihas 3 esposas e meus 5 filhos. Mas não se assuste. Temos aqui em Zambow, 3 tipos de
"fêmeas". Não é possível conceber um zambowniano sem a mistura de 4 fluídos sexuais. O bebê é gerado por um tipo de fêmea, mas à partir do sétimo mês de gestação ele "nasce" e "migra para dentro da outra espécie de fêmea, de onde só vai sair depois de mais sete ou oito meses. É estranho para você, não é? Imagine um bebê saindo por uma vagina de uma humana e entrando em outra.
Mal comparando é isso. Essa segunda fêmea é quem tem os hormônios que determinarão qual dos 4 sexos o bebê vai ter. A terceira fêmea é a única capaz de "amamentar". "Amamentar" não é a palavra certa, pois ela gera 6 tipos básicos de substâncias. Uma delas é o "sangue" do bebê. Eles nascem
com o mínimo de "sangue" e só adquirem o suficiente através desta mãe.

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4. O que você come?


RESP: Posso comer praticamente tudo o que for biodegradável. Tenho enzimas capazes de digerir até ferro bruto. É claro que devemos evitar comer isso. No Centaurus  eu como uma espécie de ração, que consiste em uma "mistura equilibrada de tudo aquilo que um zambowniano precisa para crescer forte e saudável" (peguei essa frase de uma coisa da Terra que vocês chamam propaganda). Posso comer animais e vegetais da Terra e equivalentes de outros planetas. Aliás, posso comer um humano se quiser. Mas é claro que não sou capaz disso. Os zambownianos só bebem água quando estão na região tropical do planeta. Nas outras regiões, nosso organismo é capaz de sintetizar dos alimentos toda a água  de q nescessitamos. Mas eu adoro beber água. Embora os zambownianos sintam muito menos o gosto das coisa do que os humanos. Só conseguimos diferenciar entre o muito doce e o muito salgado. Mas cheiramos muito melhor do que os seus cachorros. Isso ajuda um pouco na percepção do sabor, uma vez que olfato e paladar estão
intimimamente ligados, como vocês, humanos, já devem ter notado.

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5. Como vocês se reproduzem?


RESP: Acho q já lhe falei sobre isso na pergunta 3. Mas posso dizer mais uma coisa: nós também usamos o sexo como lazer. E com 4 pessoas é muito mais legal!!!

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6. Vocês têm sentimentos?


RESP: Mas é claro. De todas as raças conhecidas na Federação, os únicos que não expressam sentimentos, são os Alfitas. Ainda há uma discussão entre os "estudiosos"da Federação, pois alguns acham que os sentimentos são, na verdade, a manifestação de uma determinada reação química no organismo dos indivíduos, enquanto outros acham que se tratam de manifestações psiquícas comuns a todos os seres, mas no caso dos Alfitas, a evolução natural do tipo de memória da espécie para memória do tipo "Coletiva por conveniência", tipo de memória único entre as raças conhecidas, tenha eliminado genéticamente a capacidade de sentir emoções. É uma longa e acirrada discussão sobre algo que na verdade deve ser sentido, não discutido. Afinal, como você acha que me senti quando o meu primeiro filho nasceu??? E o segundo??? E os outros???  Você acha que
gostamos de "morrer"??? Nós também sentimos saudade, medo, raiva, amor e tristeza. Só há um sentimento q parece não nos acometer: O ciúmes. Talvez seja pela própria natureza  Zambowniana de 4 sexos. O terceiro tipo de fêmea, a que amamenta, é bastante raro. É comum que uma dessa fêmeas viva com mais de uma, ou duas, ou até mesmo três ou mais famílias ao mesmo tempo. Acho que ciúmes é mais uma questão cultural do que um sentimento.

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7.Como é o sistema de governo do seu planeta?


RESP: Não há sistema de governo em Zambow  do modo como vocês compreendem. As fronteiras entre os antigos países de Zambow foram extinguidas há milhares de anos, depois dos primeiros vôos espaciais tripulados por aqueles que vocês convencionariam chamar por reis ou presidentes. Para um melhor entendimento, vou tentar simplificar pra vocês: possuímos apenas um conselho onde se reúne um grupo de 7 Zambownianos escolhidos através de "plebiscito" e que decidem a situação. Pequenos problemas são resolvidos por comum acordo entre as partes, sem a mediação de terceiros. Vem dando certo, 100%, há milênios. Não é exatamente isso, mas é mais ou menos isso. Temos superiores apenas para questões militares, que são as que envolvem, por exemplo, o meu cruzador espacial. Isso acontece apenas para evitar confusões diplomáticas com outros Estados-membros da Federação, com culturas diferentes da nossa. Os superiores são os especialistas em cada Estado-membro em particular, e mudam de acordo com a missão em questão. Superiores, neste caso, estão mais para professores e estudiosos do q para generais e coronéis. Novamente aqui há uma disparidade com a Terra, acredito mais por uma questão cultural do que qualquer outra coisa.

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8. Você falou de uma nave. Ela é sua? O que você faz nela?

RESP: Não. Ela pertence à Representação Unificada dos Estados Zambownianos. É o nome oficial de Zambow na Federação. O Centaurus faz parte de uma frota de 25 naves espaciais de grande porte, pertencentes à Zambow e à todos os zambownianos. A minha nave é um cruzador espacial, criado para viajar por distâncias muito longas, tendo a maior autonomia de vôo entre as naus de
Zambow. É a mais veloz também. Só perde, na Federação, para os cruzadores-temporais alfitas. Minha nave também possui um poderoso arsenal bélico, destinado a eliminar civilizações nocivas ao universo. Elas são muito raras, o trabalho não é nobre, mas tem q ser feito.  Minha atividade no Centaurus é muito variável. Sou uma coisa próxima de um engenheiro terráqueo. É claro que sou muito mais avançado tecnológicamente. Você já deve ter notado. Sou também uma espécie de engenheiro q não existe por aí: engenheiro-histórico. Eu realizo estudos que determinam até que lugar uma civilização vai chegar baseado em suas atitudes e costumes. Vou lhe adiantar uma coisa: é um milagre vocês, humanos, terem chego onde chegaram. São uma das espécies mais adaptáveis do universo, com certeza. Mas acho que algumas atitudes isoladas podem reverter a situação dentro dos próximos três séculos. Parece muito, não é??? Mas é mais rápido do que você imagina.

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9. Você já visitou a Terra? O que você achou dela?


RESP: Sim, já visitei a Terra. Dei uma opinião no final da resposta acima. Acho a Terra muito bonita, um dos cenários mais belos do universo. Você já viu Zeta-4? E o planeta alfita C-33? São horríveis, estéreis. Acho a Terra parecida com Nagrada. Nagrada lembra a sua África. Mas acho a Terra muito fria. Uso casacos pesados qdo venho aqui. Acho o fenômeno da noite o mais bonito. Em Zambow não existe noite. Sempre q um sol se põe, o outro ainda está no céu. E quando este se põe, o outro já apareceu do outro lado faz tempo. Nós não temos animais noturnos em Zambow, e dormimos com muita luz na cara. Temos pestanas duplas. Dormir aqui é maravilhoso!!! E o cheiro das florestas daqui, então??? Se vocês sentissem odores como nós, teriam um motivo a mais pra não destruí-las. O deserto que vocês chamam Saara, assim como alguns outros, lembram muito os trópicos de Zambow, onde eu nasci.
Gosto dos desertos de vocês também.

 

Um TRASHSHIR,

do amigo,

Snurk Svalarovitz
comandante-capitão do cruzador espacial Centaurus,
engenheiro-chefe do gabinete de estudos histórico-sociais
da Federação e representante-mor de ZAMBOW no comitê
Federativo de integridade e defesa.

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