Hipertexto e interdisciplinaridade

Luiz Carlos Neitzel

Maria José Dozza Subtil

Rita de Cassia Guarezi Gomes

HIPERTEXTO

" O hipertexto é um texto com conexões. Não é uma idéia nova. Cada vez que se escreve e se acrescenta referências, notas de rodapé, índice, implica que o leitor não precisa fazer uma leitura linear, Podendo seguir o que mais gosta". (MARTÍNEZ)

"É UM CONJUNTO DE NÓS POR CONEXÕES. OS NÓS PODEM SER PALAVRAS, PÁGINAS, IMAGENS, GRÁFICOS, OU PARTE DE GRÁFICOS, SEQUÊNCIAS SONORAS, DOCUMENTOS COMPLEXOS QUE ELES MESMOS PODEM SER HIPERTEXTOS. NAVEGAR EM UM HIPERTEXTO SIGNIFICA, PORTANTO, DESENHAR UM PERCURSO EM UMA REDE QUE PODE SER TÃO COMPLICADA QUANTO POSSÍVEL. PORQUE CADA NÓ PODE POR SUA VEZ, CONTER UMA REDE INTEIRA." (LÉVY, 1993 p.33)

 

A HISTÓRIA DO HIPERTEXTO

Hipertexto é um conceito que diz respeito ao nosso modo de ler e escrever.

Exemplo de hipertexto tradicional> anotações de Leonardo Da Vinci.

Idade Média > livros gigantescos, acorrentados nas bibliotecas lidos em voz alta> pesados hipertextos > acréscimo de comentários dos leitores...ilustrações, notas de rodapé notas remissivas a outros textos acumulavam-se.

Aldo Manuccio - editor veneziano > modificação na dobradura, invenção do estreito caractere itálico > livro > fácil de manejar, cotidiano, móvel, disponível para apropriação pessoal.

1945 - Vannevar Bush publica em o clássico ensaio "As We May Think" esboça > MEMEX - antecessor do PC - Preocupação > formas de armazenar, sistematizar e tornar acessível as informações > processos de miniaturização.

1946 - Primeiro computador eletrônico ENIAC (Eletronic Numeric Integrator and Calculator) > 4 toneladas - dependia de cabos e cabos telefônicos.

1965 - Hipertexto termo criado por Ted Nelson - > novo modo de produzir textos permitido pelos avanços tecnológicos sintetizados pela telemática.

Projeto XANADU > imensa rede acessível em tempo real, contendo todos os tesouros literários e científicos do mundo.

Novos processos de registro, transporte e distribuição profetizados por Bush anunciavam o hipertexto.

Década de 50 - Douglas Engelbart (ARC): programas para comunicação e trabalho coletivos (hoje groupwares). Na ARC testados pela 1ª vez: tela com múltiplas janelas, mouse, conexões associativas, grafos dinâmicos, sistemas de ajuda (interfaces).... humanizar a máquina.

Trabalho desses pioneiros permitiu > surgimento do Vale do Silício > da Apple (Steve Jobs e Steve Wosniac 1987 > distribuição gratuita do programa Hypercard ).

Final dos anos 60 - IBM > ruptura software/hardware (anteriormente máquina e programa só podiam ser comprados juntos).

Das linguagens das máquinas às linguagens de alto nível> preocupação com interatividade.

1979 - VisiCalc (Visible Calculator) rompe com linguagem da máquina - predomínio até 3ª geração dos computadores.

4ª geração > paradigma > aproximação do computador ao máximo com a linguagem do dia-a-dia > programas user friendly (amigáveis do usuário) > caminho de maior interatividade.

Década de 80- Primeiro computador a se integrar com a tecnologia de vídeo (plataforma de edição quadro a quadro) foi o Amiga da Commodore > animações em 3-D > sistema permitia multitarefa diferentes funções simultaneamente.

1981 - IBM lança o PC > microtecnologia de 16 bits (paradigma do PC).

1983 - PC-XT (de eXTended).

1984 - lançamento do Apple Macintosh (monocromáticos e sem disco rígido de memória) > grande responsável pelo mundo do ícone e do mouse.

2ª metade da década de 80 > definido o domínio de um novo ambiente gráfico para o PC , inspirado no Macintosh: ambiente WINDOWS > permitia a interação gráfica de inúmeros softwares.

Daí ao infinito..........>


HIPERTEXTO NÃO ELETRÔNICO – ESCRITA

Interface da escrita: o hipertexto modifica a inteface da escrita: página de título, cabeçalhos, numeração, sumário, notas, referências, sua invenção possibilitou o acesso não linear, a não segmentação do saber em módulos, conexões múltiplas a uma infinidade de outros livros (desdobramento, desembaraço).

 

HIPERTEXTO ELETRÔNICO – INFORMÁTICA

Interface da informática: redobramento, pouquíssima superfície diretamente acessível em um mesmo instante. no entanto a interação amigável recompensam segundo Lévy estes inconvenientes:


CARACTERÍSTICAS

 

 Para Pierre Lévy:

Princípio de metamorfose

A rede hipertextual está em constante construção e renegociação. Ela pode permanecer estável durante um certo tempo, mas esta estabilidade é em si mesma fruto de um trabalho. Sua extensão, sua composição e seu desenho estão permanentemente em jogo para os atores envolvidos, sejam eles humanos, palavras, imagens, traços de imagens ou de contexto, objetos técnicos, componentes destes objetos ,etc.

Princípio de heterogeneidade

Os nós e as conexões de uma rede hipertextual são heterogêneos. Na memória serão encontradas imagens, sons, palavras, diversas sensações, modelos, etc., e as conexões serão lógicas, afetivas, etc. Na comunicação, as mensagens serão multimídias multimodais, analógicas, digitais, etc. O processo sociotécnico colocará em jogo pessoas, grupos, artefatos, forças naturais de todos os tamanhos, com todos os tipos de associações que pudermos imaginar entre estes elementos.

Princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas

O hipertexto se organiza em um modo "fractal", ou seja, qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode revelar-se como sendo composto por toda uma rede, e assim por diante, indefinidamente, ao longo da escala de graus de precisão. Em algumas circunstâncias críticas há efeitos que podem propagar-se de uma escala a outra: a interpretação de uma vírgula em um texto (elemento de uma microrrede de documentos), caso se trate de um tratado internacional, pode repercutir na vida de milhões de pessoas (na escala da macrorrede social).

Princípio de exterioridade

A rede não possui unidade orgânica, nem motor interno. Seu crescimento e sua diminuição, sua composição e sua recomposição permanente dependem de um exterior indeterminado: adição de novos elementos, conexões com outras redes, excitação de elementos terminais (captadores), etc. Por exemplo, para a rede semântica de uma pessoa escutando um discurso, a dinâmica dos estados de ativação resulta de uma fonte externa de palavras e imagens. Na constituição da rede sociotécnica intervêm o tempo todo elementos novos que não lhe pertenciam no instante anterior: elétrons, micróbios, raios X, macromoléculas, etc.

Princípio de topologia

Nos hipertextos, tudo funciona por proximidade, por vizinhança. Neles, o curso dos acontecimentos é uma questão de topologia, de caminhos. Não há espaço universal homogêneo onde haja forças de ligação e separação, onde as mensagens poderiam circular livremente. Tudo que se desloca deve utilizar-se da rede hipertextual tal como ela se encontra, ou então será obrigado a modificá-la. A rede não está no espaço, ela é o espaço.

Princípio de mobilidade dos centros

A rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros que são como pontas luminosas perpetuamente móveis, saltando de um nó a outro, trazendo ao redor de si uma ramificação infinita de pequenas raízes, de rizomas, finas linhas brancas esboçando por um instante um mapa qualquer com detalhes delicados, e depois correndo para desenhar mais à frente outras paisagens do sentido.
 

Para Alckmar Luiz dos Santos:

 

Princípio de heterogeneidade

 

Princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas

 

Princípio de exterioridade

 

Princípio de mobilidade dos centros/ Princípio de exterioridade

 

Para Ilana Snyder:

 

Princípio de metamorfose

 

Princípio de heterogeneidade

 

Princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas

 

Princípio de exterioridade

 

Princípio de topologia

 

Princípio de mobilidade dos centros

VANTAGENS

 

 Para Pierre Lévy:

Para Alckmar Luiz dos Santos:

 

Para Ilana Snyder:


DESVANTAGENS

 

Para Pierre Lévy:

 

Para Alckmar Luiz dos Santos:

 

Para Ilana Snyder:


 

INTERDISCIPLINARIDADE:

"Caracteriza-se pela intensidade das trocas entre especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa". (Japiassu apud Fazenda, 1979, p.25)

" ...é uma relação de reciprocidade, de mutualidade, é a substituição de uma concepção fragmentária para unitária do ser humano". (Fazenda, 1979, p.8)

Não requer centro, concentração, todo conhecimento é importante frente ao saber universal.

Entendemos que é um termo de múltiplos significados e interpretações, mas que certamente, traz um novo olhar diante do conhecimento, a busca pela sua totalidade.

 

HIPERTEXTO/INTERDISCIPLINARIDADE/CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Segundo Bairon, o hipertexto é interdisciplinar por natureza (BAIRON), no entanto na construção do conhecimento algumas implicações necessitam ser discutidas. O hipertexto pode levar a interdisciplinaridade, ou seja, a busca da totalidade do conhecimento, se tivermos uma proposta pedagógica que oriente esta navegação hipertextual:

Segundo Vani Kenski (Palestra no Congresso Educador 97 - S.Paulo)

Para uma outra forma do ensinar e aprender uma nova escola e um novo professor são necessários:

Escola:

Professor:

Aluno: (acrescentamos)

 

METÁFORAS – FORMAS DE ENSINAR E APRENDER

ÁRVORE - TRADICIONAL:

MAPA - HIPERTEXTO (NOVO APRENDER)

RISOMA – REDE

Paralelos - metáforas

árvore - forma tradicional de apropriação do conhecimento

atomização

linearidade

hierarquias

especificidade

desarticulação

metáforas - a árvore do conhecimento da Física, da Química, da Biologia

separação entre os diversos domínios do saber

na floresta as árvores não se comunicam ( apenas as copas se juntam de vez em quando)

cada árvore tem sua especificidade

mapa (hipertexto)

múltiplas entradas

conexões

interrelações parciais ( fecho ou abro um arquivo, não tem fusão, não tem um lugar, uma concentração, um centro)

acentrismo

risoma ( as redes)

( risomas são raízes das samambaias, multiplicidades que se entrelaçam, criam outras estruturas, no entrelaçamento brota uma nova planta (conhecimento) não há definição prévia de onde vai brotar essa nova planta)

ramificação aberta

acentrismo

direção indeterminada

interrelações e interconexões

articulação entre os diferentes níveis do saber

globalização

intercomunicação

Isso cria...

... novas necessidades metodológicas

1. um novo ritmo

- velocidade ( observar o que os jovens vêem na TV por ex. MTV), desafios.

2. um novo tipo de raciocínio

- exploração de novas relações

- exploração de novas possibilidades

3. um novo procedimento

- troca - espaço educativo espaço de diálogo

- reciclagem permanente

 

Concluindo...

Ensinar e aprender nesta proposta, poderá ser uma revolução, se mudarmos os paradigmas reducionistas, racionalistas, convencionais do ensino. Caso contrário "... conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial". (Moran)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAIRON, Sérgio. Multimídia. São Paulo: Global, 1995.

FILHO, Otávio, PELEGRINO, Egnaldo. História do hipertexto http:/www.facom/ufba.br/hipertexto/história.html

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.

_________. O que é virtual? Tradução Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996.

SANTOS, Alckmar Luiz dos. Literatura brasileira. Textos literários em meio eletrônico. http://www.cce.ufsc.br/~alckmar/literatura/projeto.html

SNYDER, Ilana. Hypertext the eletronic labyrinth, New York University Press. New York. 1997.


Trabalhando com música: a linearidade e o hipertexto

Alegria, alegria

(Caetano Veloso - 1968)

 

História triste de uma praieira

(autor desconhecido)

A música de Caetano Veloso, possui as caracterísiticas do movimento musical Tropicália quer apareceu no final da década de 70 e significou uma simbiose musical entre diferentes tipos de músicas e mesmo de contextos. Não possui a linearidade explícita da anterior, remetendo a inúmeras associações subjetivas ( vide os parênteses) e objetivas ( vide as diversas imagens descritas, sem relação imediata entre si). O próprio tema se revela hipertextual a medida que passa a sensação de um passeio, de uma caminhada... de liberdade, alegria, enfim! Sem o compromisso de um relato linear. A música-poema acima descrita insere-se no gênero do cancioneiro popular - modinha e possui características lineares: começo/meio/fim. Conta uma história conservando aspectos da oralidade: uma seqüencia em crescendo que leva a um desfecho cujo objetivo é emocionar e manter o ouvinte atento. Cabe ressaltar a linguagem com têrmos em desuso na fala corrente atual: ditosa, alvissareiro...
Caminhando contra o vento

Sem lenço, sem documento

No sol de quase dezembro

Eu vou.

O sol se reparte em crimes,

Espaçonaves, guerrilhas

Em Cardinalles bonitas

Eu vou.

Em caras de presidentes,

Em grandes beijos de amor,

Em dentes, pernas, bandeiras,

Bomba e Brigitte Bardot.

(O sol nas bancas de revista

Me enche de alegria e preguiça:

Quem lê tanta notícia?)

Eu vou

Por entre fotos e nomes

Os olhos cheios de cores

O peito cheio de amores

Vãos

Eu vou

Por que não? Por que não?

(Ela pensa em casamento

E eu nunca mais fui à escola)

Sem lenço, sem documento

Eu vou,

Eu tomo uma coca-cola

(Ela pensa em casamento)

E uma canção me consola,

Eu vou.

Por entre fotos e nomes,

Sem livros e sem fuzil.

Sem fone, sem telefone

No coração do Brasil

(Ela nem sabe - até pensei

Em cantar na televisão)

O sol é tão bonito

Eu vou

Sem lenço, sem documento,

Nada no bolso ou nas mãos,

Eu quero seguir vivendo,

Amor.

Eu vou

Por que não? Por que não?

Era o meu lindo jangadeiro

Olhos da cor verde do mar

Também como ele traiçoeiro

Mentiu-me tanto o seu olhar

Ele ficara o dia inteiro

Longe nas águas a pescar

E eu intranqüila o seu veleiro

Lá no horizonte a procurar

Mas quando a tarde escurecia

E o sino punha-se a tocar

A badalar Ave-maria

Via uma vela sobre o mar

Era o meu lindo jangadeiro

No seu veleiro a regressar

E a praia o seu olhar primeiro

Buscava ansioso o meu olhar

Quanto ditosa me sentia

Passava os dias a cantar

A ver se breve escurecia

Hora feliz do seu voltar

Mas há na vida sempre um dia

Dia de um sonho se acabar

E esse me veio em que não via

O seu veleiro regressar

Não voltou mais o seu veleiro

Não mais o vi por sobre o mar

Aquele olhar lindo e traiçoeiro

Não buscou mais o meu olhar

Mas uma tarde alvissareiro

O sino ouvi a repicar

Era o meu lindo jangadeiro

Que ia com outra se casar

Algumas possibilidades de produção a partir das duas canções:
  • reescrita dos dois textos em outros contextos
  • representação corporal
  • desenho, colagem, montagem, painel, etc.

Elaboração:

Luiz Carlos Neitzel

Maria José Dozza Subtil

Rita de Cassia Guarezi Gomes


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Última atualização: 10/12/01 21:42:13

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