Loucura na Madrugada


O quarto está vazio, não temo a escuridão, porém uma pequena lâmpada está acesa. Aqui estou sentado mais uma vez, o cigarro e a bebida me fazem companhia, e se não fossem estes dois, poderia dizer que a solidão está a se espreitar pelas paredes, mas não entendo, tudo permanece escuro.

Dou mais um gole, reconheço-me em parte do copo. Não posso responder, a filosofia ou a psicologia, quem sabe, alguma tem a chave? Dou outro gole, o veneno parece-me tão brando e doce, doce como o néctar de uma fruta, porém diferente da vida. Sinto as mãos trêmulas, o que causaria isto? O medo, a angústia ou o tédio, agora percebo estes ao meu lado, algum pode me explicar? Pergunto. Eles permancem calados, minha alma insiste a poetizar.

A fumaça do cigarro preenche meus pulmões, continuo como o copo. Um animal está a observar fixamente a janela, giro meu corpo a modo de vê-la, mas ela está fechada. O que deveria enxergar? À minha frente um objeto de gesso em forma de caveira, suas cavidades são sombrias, como pode estar a sorrir? Somente questões inundam-me o espírito, chego a conclusão de que perguntas não surgem pra serem respondidas, mas apenas para importunar-nos a alma.

Senti uma pontada no coração, a navalha de um psicótico a esquartejar sua indefesa vítima. Coração, lembrei que tenho um, e como poderia esquecer se deste sou um escravo. Será que todos possuem um?

Mais um gole na maldita substância, e agora sim, consigo notar sua porcentagem alcoólica. Um silêncio distante se aproxima, como é grandiosa esta sensação. Lembrei-me da morte, esta dama tão temida. Mas como alguém pode temer tal donzela? Se em seus sedutores lábios está a calma, o remédio para uma inqueita alma, o descanso eterno para um demente poeta. Infelizmente não é ela, o som da chuva quebrou o mágico momento, não posso culpá-la, a água apenas cai, mas é de meu coração que as lágrimas teimam rolar.

Este quarto parece-me tão similar, como pude exitar, o inferno abriu seus portões. Criaturas ferozes, demônios, anjos da maldade, não há porque teme-los, sou mais um a vagar pelas estradas da loucura. O copo que até então estava semi-cheio, está vazio. Agora entendo. Ainda tenho nicotina e uma caneta. Mas de que serve isto às cinco horas da manhã? O sol cogita em nascer mais uma vez, as pessoas, daqui a pouco, despertarão para suas sonâmbulas vidas. Bom dia a todos. Dirijo-me ao meu leito, irei repousar, talvez dormir, quem sabe possa até sonhar, ficarei esperando. Será que ela irá chegar?

 

Fernando R. Pires
www.geocities.com/ferpires

[Voltar]

 

1