5-O Dilúvio

ZEUS DECIDIU PUNIR estes homens ímpios que violavam os juramentos, que não praticavam a hospitalidade e que repeliam os pedintes; Posseidon foi encarregado do castigo. O deus dos mares fere a terra com um golpe do tridente; ela estremece e a água jorra abundantemente dos mais profundos abismos. Os rios, transbordando, inundam a terra, arrebatam o trigo, as árvores, os rebanhos, os homens, e faz ruir os templos e casas. Quando um palácio resiste à impetuosidade da torrente, a água o cobre inteiramente e até as próprias torres ficam submersas sob as ondas. Já estavam a terra e o mar confundidos. Um homem busca asilo numa montanha, aquele outro se lança num barco, e rema sobre o mesmo lugar que costumava cultivar. Ele navega sobre suas messes ou sobre a aldeia inundada. Outro acha um peixe no topo de uma árvore. Se, por acaso, alguém pretende ancorar, a âncora prende-se a um prado, os barcos bóiam sobre os vinhedos; os monstros do mar repousam nos lugares que, pouco antes, pastavam as cabras; as Nereidas admiram-se ao ver, sob as ondas, bosques, cidades e casas. Os delfins habitam as florestas e sacodem as árvores com suas nadadeiras; os lobos nadam no meio das ovelhas; a onda arrasta leões e tigres; a força dos javalis e a rapidez dos cervos não os salvam do naufrágio; as aves fatigadas, após buscarem inutilmente a terra, para descansar, deixam-se cair na água; a inundação cobre as montanhas, e mergulham sob as águas os pontos mais elevados da terra.


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