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Héracles foi introduzido na mitologia de Tebas obrigando o Perseida (nascido por si próprio) Anfitrião abandonar Micenas graças a uma estória complicada, em que ele representa o papel de Suplantador em vários lugares diferentes. Parece ter havido um herói tebano, Alceu (o forte), identificado com Héracles por sua interpretação como patronímico e dando a Héracles um avô chamado Alceu. Alcmena era também uma heroína tebana e objeto de um culto. Mas a única proeza tebana de Héracles foi matar o leão de Citéron, cuja pele o identifica e engendrar cinqüenta filhos numa noite, como era certo que o fizesse um herói popular de enormes apetites. O seu regresso a Micenas foi explicado como um exílio por haver matado os filhos (presumivelmente, outrora, um sacrifício), e os Trabalhos, como serviço penitencial prestado a Euristeu. Tirinto, à beira-mar, pode ter sido, um dia, sujeita a Micenas, nas colinas. O nome Héracles (glória de Hera), é contrariado pela hostilidade da deusa. Num ponto qualquer do caminho ele se tornou o bastardo de Zeus, odiado pela esposa legítima, a cujos planos é atribuída a sua servidão. Ele foi provavelmente outrora o filho da deusa-mãe que o ajudou em seus trabalhos - como Atena, deusa da sabedoria e das artes, ajuda Héracles. Muitos desses trabalhos foram realizados no Peloponeso: o leão em Neméia, a Hidra no Golfo Argivo, os pássaros e o javali na Arcádia, a corça em Achala e a estrebaria em Élis. São todos monstros e, como as façanhas de Teseu, talvez reflitam teses políticas - ou mesmo obras de drenagem de antigüidade desconhecida. Outros trabalhos foram executados em Creta ou na Trácia, e o restante é constituído de aventuras sobre-humanas - a das maçãs de ouro a simbolizar a busca da imortalidade, por exemplo, e o saque dos Infernos. A maioria dos heróis só realiza um ou, quando muito, dois feitos dessa ordem. Mas Héracles era o patrono dos dórios invasores, que se diziam descendentes dos filhos dele, de modo que assumiu o que devem ter sido outrora, provavelmente, as tarefas de heróis locais. Em certos sentidos, Héracles dilatou-se para tornar-se um libertador geral da humanidade. Muitos de seus feitos são quase sobrenaturais e momentos há, como quando sustenta os pilares do Céu, que parece uma figura de um mito da criação. Com efeito, a batalha entre os deuses e os gigantes foi adiada para que Héracles, que ocupa uma posição nas genealogias heróicas, pudesse ser o ajudante humano. Finalmente foi recebido no Olimpo em mito, se não me culto. Héracles é filho de Zeus com uma mortal, Alcmena, mulher de Anfitrião; considerado o maior dos heróis. Ao mesmo tempo que Héracles, Alcmena deu à luz Ificlo. Anfitrião, querendo saber qual dos dois gêmeos era seu filho, colocou duas serpentes ao lado dos berços; Ificlo horrorizado, quis fugir; Héracles, porém, estrangulou as duas serpentes, mostrando desde o nascimento que era digno de ser filho de Zeus. Hera detestava Héracles, embora ele tivesse o seu nome e ela o tivesse amamentado. Zeus a fez dormir e Hermes lhe colocou a criança no seio. Mas Héracles a mordeu, ela acordou e, lançando a criança de si, derramou o leite pelo firmamento em forma de estrelas. Quando jovem, o semideus teve muitos mestres: Castor ensinou-lhe a combater armado; o centauro Quíron foi seu mestre de astronomia e medicina; Lino, seu professor de instrumentos. Tornou-se extraordinariamente alto e de uma força incrível. Comia e bebia bastante, pois um dia em que estava com fome matou um boi e comeu-o. Para beber, tinha um copo imenso de tal peso que, para carregá-lo, eram precisos dois homens; todavia, para esvaziá-lo, Héracles utilizava uma só mão. Quando Héracles cresceu, escolheu o gênero de vida que desejava levar: a Virtude, sinônimo de Valor. Héracles cresceu em força e apetites. Gerou cinqüenta filhos numa só noite nas cinqüenta filhas de Téspio. Quando sua mãe Alcmena morreu, Hermes roubou-a do esquife, colocou em seu lugar uma pedra que os tebanos reverenciavam, e levou-a para as Ilhas dos Bem-Aventurados. Creonte deu a Héracles sua filha Mégara para premiar-lhe o valor em combate. Hera enlouqueceu-o e ele matou os próprios filhos. À guisa de penitência, foi mandado a Tirinto, a fim de servir Euristeu. Ele, ciumento da fama de Héracles e temendo um dia vir a ser destronado, perseguiu-o constantemente, tendo o cuidado de dar-lhe ocupações fora dos seus estados. O herói usou a sua grande coragem e forças em empresas delicadas e perigosas, isto é, Os Doze Trabalhos de Héracles (primeiro foram em número de dez e depois mais dois). O primeiro é o combate contra o leão de Neméia. Este leão era associado ao Sol. Ele havia caído da lua e fora para o Vale de Neméia, onde estava devorando seus habitantes. Ocorria que ninguém conseguia matá-lo a flechas e lanças, pois tinha uma pele impenetrável. Com 16 anos, atacou este monstro, estraçalhou-o com as próprias mãos e com as unhas arrancou-lhe a pele, que desde então usou como se fosse uma espécie de armadura. O segundo é o combate contra a Hidra de Lerna, um monstro-serpente dos pântanos, filha de Tifão e Equidna, de nove cabeças; onde uma morria, nasciam duas: “Nem mesmo Héracles pode lutar com duas!” Hera mandou um monstruoso caranguejo do pântano para morder o calcanhar do herói. Este chamou Iolau para cauterizar as raízes à medida que ele ia cortando as cabeças da Hidra. O terceiro consistia em matar o grande javali de Erimanto. Héracles prendeu vivo o animal, alojando-se entre os centauros, que lhe deram vinho e depois se engalfinharam com ele em doida bebedice. Héracles afugentou-os, ferindo acidentalmente o bom Quíron, que pediu para morrer, embora fosse imortal, por causa da dor provocada pelo veneno da Hidra que havia na flecha. Prometeu trocou sua mortalidade pela imortalidade dele, Quíron morreu e Zeus colocou-o nas estrelas como a constelação de Sagitário. O quarto foi de apoderar-se da corça de pés de bronze e cornos de ouro, tão rápida na carreira, que ninguém podia alcançá-la. Apresou-a agarrando-a pelos cornos. Héracles perseguiu a corça até a terra dos virtuosos Hiperbóreos, que moravam atrás dos Ventos do Norte, e sacrificou burros a Apolo quando lhes visitou o templo circular de pedra. Ali obteve a oliveira que plantou em Olímpia. Sabendo ser ela consagrada a Ártemis, deusa da Lua, não quis matá-la, limitando-se a persegui-la com todo o ardor e conseguiu apanhá-la. O quinto foi a exterminação dos pássaros do lago Estinfalo, na Arcádia; estes pássaros monstruosos devoradores de carne humana, cujas asas, cabeça e bico eram de ferro, tinham unhas aduncas e penetrantes e lançavam dardos, também de ferro; estavam amestradas pelo próprio Ares, deus da guerra, sendo em grande número e de extraordinário tamanho. Héracles atraiu-os fora do bosque e os matou a flechadas. No sexto, domou o touro da ilha de Creta, mandado por Posseidon e que gerara o Minotauro, e o conduziu a Euristeu. Mas este deixou escapar o perigoso animal e, em nova luta, Héracles o matou. No sétimo, furtou as éguas de Diomedes, rei selvagem da Trácia e filho de Ares, as quais eram furiosas, vomitando fogo e chama. Diomedes as alimentava com carne humana e lhes dava a devorar todos os estrangeiros que caíam em suas mãos em honra de Dioniso. O herói dominou Diomedes, entregou-o à voracidade das éguas, conduziu-as depois a Euristeu e as abandonou no monte Olimpo onde foram estraçalhadas por animais ferozes. A oitava empresa de Héracles é sua vitória sobre as Amazonas, mulheres guerreiras que viviam do saque e da caça na Ásia Menor. Elas viviam sozinhas e sem homens, e se encontravam com os vizinhos apenas uma vez por ano para conceber. As Amazonas só criavam meninas, cortando-lhes o seio direito para que não as estorvasse na guerra quando precisassem retesar o arco e arremessar o dardo. Ares dera a Hipólita, a Rainha das Amazonas, o seu cinturão por suas façanhas guerreiras. O objetivo do oitavo trabalho de Héracles era conseguir este cinturão. Hipólita apaixonou-se por Héracles e lhe teria entregue o cinto por amor, mas Hera instigou as Amazonas a combaterem o herói, que, receando uma traição, matou Hipólita, desatou-lhe o cinturão e levou-o consigo. Em sua viagem de regresso passou por Tróia e encontrou a cidade aterrorizada por um monstro marinho. Laomedonte contratara Posseidon e Apolo para construir muros invulneráveis ao redor de Tróia. Mas o mortal Éaco os ajudou, e foi a sua parte dos muros que veio a ser rompida quando Tróia foi cercada. Laomedonte negou-se a dar aos deuses o prêmio de seu trabalho, e eles mandaram o monstro a que o rei expôs sua filha Hesíone. Héracles salvou-a, mas Laomedonte enganou-o também, recusando-lhe a recompensa, e não quis entregar-lhe os famosos cavalos dados por Zeus em troca de Ganímedes. Zeus levara Ganímedes ao céu para ser seu copeiro, pois era um formoso rapaz. Héracles jurou que voltaria a Tróia para vingar-se. No nono trabalho, Héracles limpou os estábulos do Rei de Élida, Augias, filho do Sol, nos quais tinha três mil bois e que desde trinta anos não se limpavam. O semideus desviou o curso do rio Alfeu, e fê-lo passar através do curral. O esterco desapareceu na enxurrada, purificou-se o ar, e Héracles foi receber o preço do seu trabalho. No décimo, foi à Espanha buscar os bois de Gerião, o mais forte dos homens. Gerião era um gigante de três corpos. Em Gibraltar ergueu os Pilares de Héracles, dividindo a terra. Os homens não deveriam aventurar-se ao Oceano que se estendia além dos pilares. Héracles ameaçou o Sol, que lhe deu a sua taça de ouro para navegar. Oceano enviou ondas para tragá-la; Héracles assustou-o também, chegou aonde estava Gerião, matou os três corpos do gigante e tomou-lhe o gado. Euristeu, contudo, lhe impôs mais dois trabalhos, pois não quis incluir entre eles a Hidra e as estrebarias. Os dois últimos foram os maiores. No undécimo, Héracles rumou para oeste, na direção da Líbia, em busca dos Pomos de Ouro das Hespérides, que cresceram onde Zeus se unira a Hera pela primeira vez; ninfas tratavam deles e um dragão os guardava. No caminho, topou com o gigante Anteu, cuja força se renovava todas as vezes que tocava a terra, de modo que Héracles o susteve no ar até vê-lo morrer. Atlas foi buscar os pomos para ele, enquanto Héracles sustentava o globo do céu, pois nenhum mortal poderia entrar no jardim. Quando voltou, Atlas não quis retomar o seu fardo. Porém, Herácles pediu que lhe concedesse um momento de descanso, enquanto arranjava uma almofada para os ombros; aproveitou a oportunidade, apanhou as maçãs e fugiu. Mais tarde, Atlas foi transformado em pedra por Atena com a cabeça da Medusa, quando ela devolveu as maçãs ao jardim. Por último, Héracles saqueou os Infernos, aonde desceu em busca de Cérbero, o cão de três cabeças que lhe guarda as portas. Lá encontrou Teseu e Pirítoo, e salvou Teseu; mas deixou Pirítoo, que tentara impiamente conquistar Perséfone. Depois de haver, assim, pago sua dívida a Euristeu, levou Cérbero de volta aos Infernos e regressou a Tebas. Ali Héracles deu Mégara a Iolau e solicitou Íole, filha de Êurito, grande arqueiro que a oferecia por prêmio ao homem que conseguisse derrotá-lo. Héracles derrotou-o, mas Êurito não quis dar-lhe Íole, lembrando dos sofrimentos de Mégara e receoso de que ele matasse os filhos outra vez. No auge da cólera, Héracles matou o filho de Êurito, Ífito, e foi para Delfos a fim de purificar-se. Quando Pítia se recusou a responder-lhe, Hércules roubou o Trípode, e lutou com Apolo pela sua posse até que Zeus interveio e os separou, deixando claro que Héracles teria de pagar pelos dois crimes. Hermes vendeu Héracles como escravo a Ônfale, Rainha da Lídia, e ele a serviu por três anos; vestia-se como mulher, para enganar os espíritos, mas teve um filho dela. Depois, Héracles cumpriu a promessa de saquear Tróia, levando Télamon, que abriu uma brecha na parte do muro construída por seu pai Éaco. Héracles ficou com inveja de Télamon, de modo que este ergueu um altar em honra de Héracles Vitorioso. Abandonado, o herói deu a Télamon a filha de Laomedonte, permitindo a ela que ficasse com o cativo que escolhesse: ela escolheu o irmão, resgatando-o com o seu véu. Héracles chamou-lhe Príamo, “Comprado”, e fê-lo Rei de Tróia. Hera mandou tempestades, que levaram o herói a Cós, de onde Zeus o salvou. Atena levou Héracles às Planícies de Flégria, na Trácia, onde os deuses lutavam com os gigantes. Pois Gaia ainda se ressentia da vitória de Zeus sobre os titãs e, emprenhada pelo sangue de Urano, no devido tempo deu à luz gigantes, imensos e invencíveis, que só poderiam perecer às mãos de um mortal. Na Trácia crescia uma erva que tornaria os gigantes imortais, mas Zeus proibiu o Sol e a Lua de brilhar, a fim de que Gaia não encontrasse a erva. O próprio Zeus a colheu e escondeu, para que os homens também não se tornassem iguais aos deuses. Zeus levou seu filho Héracles para a luta com aliado mortal, e Héracles matou os gigantes a flechadas - Alcioneu, que roubou o gado do Sol, e Porfírio, que tentou violentar Hera. Assim os deuses derrotaram os gigantes. Depois disso Héracles se empenhou em muitas guerras. Capturou Élis, onde fundou os Jogos Olímpicos, plantando a oliveira sagrada que trouxera dos Hiperbóreos. Em Pilos, matou todos os filhos de Neleu, com exceção de Nestor. Feriu Hades nessa luta, atingiu Hera com uma flecha no seio, o mesmo que mordera quando infante, e acutilou a coxa de Ares. Assim o poderoso herói Héracles lutou com os deuses. Héracles dirigiu-se a Cálidon para desposar Dejanira, irmã de Meléagro. O Rio Aquelóo amava Dejanira e lutou por ela com Héracles na forma de um touro, até que se quebraram os chifres do touro de Aquelóo. No banquete do casamento Héracles matou acidentalmente o copeiro, pois dificilmente controlava a própria força. Pesaroso, reconheceu o seu crime e exilou-se. Chegou com Dejanira a um rio onde o centauro Nesso a carregou nas costas. Na margem oposta, Nesso tentou violentá-la e Héracles matou-o com uma flecha. Antes de morrer, Nesso disse a Dejanira que, se Héracles vestisse uma túnica embebida no sangue de sua ferida, nunca amaria outra mulher. Quando Héracles foi para a Ecália, saqueou a cidade, capturou Íole - que Êurito lhe recusara - e mandou-a de volta à Trácia, Dejanira receou haver perdido o seu amor. Mandou-lhe a túnica de Nesso e, quando Héracles a vestiu, a túnica se colou à sua pele e queimou-lhe a carne. Ao saber o que era, Héracles conheceu o seu destino: devia morrer, embora não morresse às mãos de nenhum homem vivo. Construiu uma pira no topo do monte Eta e foi transportado para o céu, onde se reconciliou com Hera, que lhe deu Hebe, deusa da juventude, por esposa.