3-Perseu

Acrísio tinha uma filha, Dânae, mas desejava um filho e pediu ajuda a um oráculo. Disse-lhe o oráculo que ele não teria herdeiro e que perderia tudo para o filho de sua filha. Diante disso, Acrísio aprisionou sua filha numa casa de bronze debaixo da terra, para que nenhum homem se unisse a ela; desconfiava, sobretudo, do seu irmão gêmeo Preto, com o qual brigara desde que ambos se encontravam no ventre materno. Mas o próprio Zeus se apresentou a D6anae em forma de chuva de ouro, que lhe caía no regaço, e deu à luz Perseu, “o destruidor”. Acrísio encerrou a mãe e o filho numa arca, e jogou-a no mar. Os deuses, porém, fizeram com que a arca chegasse, incólume, à ilha de Sérifos, onde um pescador chamado Dictis a apanhou em suas redes. Este encontrou a mãe e o filho vivos, e prestou homenagem a Dânae. Ela tornou-se sacerdotisa de Atena e Perseu cresceu no templo. Quando Perseu atingiu a juventude, o Rei de Sérifos, Polidectes, visitou o templo, desejou Dânae e quis casar com ela. Tentou forçá-la a desposá-lo e, desejando livrar-se de Perseu, ordenou aos jovens do país que lhe trouxessem presentes. Outros lhe levaram cavalos, mas Perseu era pobre e acanhado. Por inspiração de Atena, porém, prometeu trazer ao rei a cabeça da Medusa, pois Atena queria vingar em Polidectes o insulto que este fizera à sua sacerdotisa, Dânae. Seria uma tarefa árdua a Perseu surpreender Medusa desarmada e matá-la. Mas os deuses estavam a seu favor. Hermes deu-lhe suas sandálias aladas, para que pudesse voar, Hades o Capacete de Treva, para que se tornasse invisível. Hefesto fez-lhe uma norma arma de adamas, que era foice e espada ao mesmo tempo, para matar Medusa e cortar-lhe a cabeça. Atena, velha inimiga de Medusa, ensinou-o a distingui-la das irmãs. Depois deu-lhe seu escudo de bronze - para que ele, vendo apenas o reflexo da Medusa, não se desmudasse em pedra - e Deméter deu-lhe uma bolsa mágica onde nunca faltava comida. Estava o herói finalmente preparado para a grande tarefa. Perseu alçou vôo à procura da Medusa. Chegou à terra dos virtuosos Hiperbóreos, que viviam atrás do vento do norte. Aos mortais comuns era vedado chegar até eles, só podendo fazê-lo os heróis guiados por deuses, como Perseu e Héracles. Os Hiperbóreos enviaram Perseu à África, onde encontrou as três Gréias (as velhas), nascidas com cabelos grisalhos e que entre todas só possuíam um olho, que passava de mão em mão. Irmãs das górgonas, velavam-lhes o sono, para que ninguém as surpreendesse. Mas Perseu enfiou na cabeça o Capacete de Treva e, quando uma das Gréias passou o olho para a outra, arrebatou-o e atirou-o num lago. E quando uma perguntava “Você está vendo alguma coisa?”, a outra respondia “Nada.”; então ambas imaginavam que a terceira estivesse com o olho. Perseu passou por elas, surpreendeu as górgonas dormindo e elas não olharam para ele. Tampouco lhe foi preciso contemplá-las pois, levando o escudo de Atena, via-lhes o reflexo. Matou Medusa com a espada e cortou-lhe a cabeça com a foice. Enfiou a cabeça da medusa na bolsa mágica e, protegido por Atena, saiu voando antes que as irmãs, despertando, dessem com ele. Mas, ao morrer a Medusa, nasceram-lhe os filhos; primeiro foi o filho que Posseidon gerou como garanhão, um cavalo alado. Chamaram-lhe Pégaso (saltador): nasceu ao pé das fontes de Oceano. Pégaso voou para o céu e, quando era atrelado ao carro de Zeus transportava o trovão e o raio. Atena deu-o a Belerofonte, a fim de que esse montasse para matar a Quimera. O segundo foi o filho mortal de Medusa, Crisaor (o da espada de ouro): tomou a espada do seu pai e gerou Gerião, de corpo tríplice, que Héracles matou na Espanha. Atena muito se contentou ao ouvir os silvos agonizantes das cobras na cabeça de Medusa; imitou-lhes o som, inventando as flautas; mas, ao ver as próprias faces distorcidas quando se mirou no lago, lançou-as de si. O sátiro Mársias encontrou o instrumento e aprendeu a tocá-lo sozinho. Gabava-se de tocá-lo mais suavemente que Apolo tangia sua lira. Mas Apolo inverteu a lira e continuou tocando, e desafiou Mársias a inverter as flautas e prosseguir a execução. Apolo foi considerado vencedor da disputa, com direito de fazer de Mársias o que bem entendesse. Pendurou-o num pinheiro e arrancou-lhe a pele, para ensinar os homens a não competir com os deuses. Depois de matar Medusa, Perseu foi para Jopa, na costa da Ásia Menor, onde viu uma moça acorrentada a uma rocha à beira-mar. Era Andrômeda, cuja mãe, a Rainha, se vangloriara de ser mais bela do que Tétis. Posseidon mandou um monstro marinho, Ceto, assolar a costa. Para libertar a região do monstro, o oráculo aconselhou o rei a sacrificar sua filha. Perseu petrificou a fera mostrando-lhe a cabeça de Medusa e assim obteve a mão de Andrômeda. Mas como o tio dela, Agenor, também a queria, Perseu petrificou-o também e partiu para Sérifos com Andrômeda. Ali encontrou Polidectes prestes a quebrar seu casamento com Dânae, e o rei zombou-o, perguntando-lhe qual o presente que trazia no alforje. Perseu sacou da bolsa a cabeça de Medusa e petrificou Polidectes e seus companheiros. Lembrando-se do oráculo, seu avô Acrísio fugiu para a Tessália, onde casou com a filha do rei. Nisso, o velho rei morreu e em sua honra celebraram jogos fúnebres. Perseu apresentou-se para competir e, quando arremessou o disco o vente desviou-lhe o curso e fê-lo atingir o calcanhar de Acrísio, que morreu do ferimento. Perseu voltou a Argos a fim de reivindicar o reino da sua mãe, mas trocou-o por Tirinto, onde reinava o filho de preto, Megapentes. Perseu fundou a cidade de Micenas e ali reinou.


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