PASSADO, PRESENTE E FUTURO: Processo cíclico

Estevan Pousada (1o DI)  

 

Com o objetivo de fazermos uma análise política da sociedade de nosso tempo, proponho que façamos um retorno a um tempo mais distante, a fim de verificar-mos certas coincidências que colocariam o panorama atual em xeque. Retornemos, pois, à Antigüi-dade Romana, em transição e dirigindo-se ao feudalismo medie-val, de onde extrairemos algumas perspectivas de análise daquela sociedade: em primeiro lugar, trata-se de comunidades caracte-rizadas por enorme estabilidade, a qual garantiu a expansão do Império Romano e subsistência por séculos do feudalismo. Logo, concluímos que sua base estru-tural é fortíssima. Mas que base seria esta? Ora, essa base encon-trava-se em um tripé funda-mental, formado pelos seguintes elementos: autoridade, tradição e religião.

A autoridade correspondia a uma idéia de superioridade de determinados indivíduos sobre outros, com caráter natural (do privilégio de nascimento e não da natureza), onde uns nasciam pa-ra comandar e outros para obe-decer (vide situações do servo e do senhor feudal).

Já a tradição nos faz referência a uma idéia de imutabilidade, baseada numa mentalidade conformista, com a crença de uma melhora natural das coisas, sem a intervenção do homem, apenas pela vontade de Deus. O próprio modo de vida da sociedade feudal, numa economia de subsistência, não permitia a tentativa por parte do servo de desvencilhar-se dessa tradição, por não ter meios para arriscar-se e libertar-se posteriormente.

Por fim, existia uma religião, que era a base não só da sociedade, como também o pé mais forte desse tripé, pois era a partir dela que se fixava a crença em uma situação passageira (com melho-ra após a morte), a justificação da autoridade dos nobres e, acima de tudo, a contenção desta massa (servos) que colocaria - se descontrolada - em risco a estru-tura do sistema.

Voltemos agora, aos tempos atuais, associando essas idéias a novos conceitos, a fim de estu-darmos comparativamente as duas sociedades. E mais, tome-mos por base um exemplo “casual”: a eleição do dia 4 de outubro do corrente ano. Atualmente, vivemos em uma sociedade estruturada com base em um outro tripé, também de importância gigantesca para sua subsistência: este formado pela inferioridade multifaceta-da, pela globalização nociva e, por fim, pela imprensa.

A inferioridade multiface-tada corresponde a uma ten-dência contemporânea da valori-zação exacerbada do aprimora-mento intelectual, tecnológico, financeiro em detrimento da prática do dia-a-dia, do ser comum. Surge, então, uma camada social formada por aqueles que, em uma nítida posição de subordinação, colo-cam a si mesmos e a seus semelhantes como seres inferio-rizados, incapazes de exercerem certas atividades.

A globalização nociva sur-ge como elemento que vai funcionar como mola propulsora do medo do futuro e do desejo de estabilidade, pelos que são menos abastados (a grande maioria) e o anseio de expressão dos mercados, por parte dos grandes capitalistas (minoria pri-vilegiada). Isso gerado a partir de uma situação de insegurança e de grande angústia social e econômica.

Por fim,  surge  a imprensa, como elemento que vai dar base a um aumento do sentimento de inferioridade multifacetada, por meio da exaltação da necessidade de certos requisitos no mundo contemporâneo, e responsável pela expansão de idéias de pessi-mismo econômico, perspectivas de fracasso etc., como modos de estabelecer os anseios de estabi-lidade e aversão a qualquer mu-dança. Se a situação é ruim, pode ficar pior.

Façamos, pois, um paralelo. Verificaremos que a inferiorida-de multifacetada exerce a mesma função da autoridade, como consolidação da estrutura do poder vigente; a globalização nociva como elemento similar à tradição, desenhando anseios de estabilidade já vistos; e, final-mente, a imprensa como ele-mento sustentador, enquanto instituição (assim como a Igreja e a religião, por conseguinte), das duas outras bases do tripé. A única diferença entre as sociedades é que uma teve um caráter de estabilidade, ao con-trário da atual, caracterizada por uma sucessão de crises que exigem uma intervenção radical, e não apenas transformadora. Se analisarmos a figura do presiden-te reeleito, FHC, perceberemos que ele se encaixa nas expecta-tivas dessa sociedade iludida, destinada ao fracasso: um ho-mem “superior”, dado seu grau de cultura e abastamento econômico; orientado como úni-co comandante possível deste navio, chamado Brasil, capaz de salvá-lo do naufrágio; e contando com o apoio desavergonhado da imprensa formadora de opinião.

Chegamos, finalmente, à conclusão de que o brasileiro não conhece a realidade em que vive, vota com medo, e notamos um dado muito infeliz: ele tem medo  de olhar-se no espelho e ver    aquilo que ele realmente é. A figura do verdadeiro brasileiro e do verdadeiro líder que ele precisava: infelizmente o candi-dato derrotado. Mas, por outro lado, continuamos muito bem representados, ao menos, figura-tivamente, por FHC e... Bom, esperemos mais 4 anos, não é verdade?  

 

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