A verdade política está nos fatos

Homero Andretta Júnior (1o DI)  

 

 Em reportagem publicada na revista Veja, ano 31, n°39 (30/09/98), divulgou-se a lista dos deputados federais com pior e melhor desempenho na legisla-tura que se encerra com as atuais eleições. Interessante é notar, entretanto, a qual partido eles pertencem. Baseando-me nos dados da pág. 39 da revista, a classificação dos partidos com maior número de deputados que “NÃO apresentaram projeto de lei ou emendas constitucionais” seria a seguinte: PFL, 14; PMDP, 10; PSDB, 19; PPB, 6; PTB, 3; PSB, 2; PDT, 1. Entre os 47 consi-derados pela revista (pág. 45) como “os bons da Câmara”, isto é, aqueles que “participam dos grandes debates, lutam por  suas bases e não fogem das comissões nem do plenário” (pág. 44), teríamos a seguinte classi-ficação dos partidos: PT e PPB empatados com 9; PSDB e PMDB empatados com 8; PFL, 6; PSB e PPS, ambos com 2; PTB e PC do B com 1 cada.

Analisando estes dados, é possível perceber em quais partidos está a seriedade. Imagi-ne, então, se fosse possível com-parar estas informações com o número proporcional de cadeiras de cada partido; verificar-se-ia que grandes bancadas têm pou-cos dentre os melhores e muitos dentre os piores congressistas.

O partido político realmente com-promissado com os seus eleitores é aquele que não admite vaga-bundos em sua composição e que se esforça para debater os problemas do país e apresentar novas soluções, honrando o voto e a esperança depositada nele pelo povo.

Ainda pior, poucos são aqueles que têm acesso às vota-ções realizadas no Legislativo Federal. Se a maioria da popu-lação brasileira tivesse acesso ao conteúdo das propostas, dos pro-  jetos de lei e de emendas, em outras palavras, conhecessem quem representa seus interesses, certamente o Congresso teria uma composição diferente. Atual-mente, como solução desse problema, surgiram a TV Senado e outras do gênero, reveladoras dos debates e das votações no Poder Legislativo. Todavia, sua audiência é restrita aos teles-pectadores de televisões por assinatura, além do fato de que pouquíssimos têm estômago para assistir à programação tão ma-çante.

Tive eu a oportunidade de assistir à aprovação da reforma da previdência, uma cena ridícula que a seguir descrevo. Os deputados que vota-ram a favor do governo, após as discussões, dirigiam-se ao micro-fone, e falavam: “Sr. Presidente da República, sou Fulano, do Partido X, que recomenda a votação a favor da reforma”. Este ato, aparentemente banal, signi-ficava que este deputado espe-rava uma “retribuição” gover-namental ao seu empenho em aprovar a reforma, ou seja, uma verba para sua região, onde ele poderia fazer vultosas obras, doações, campanhas e investi-mentos, convencendo o eleitor a reelegê-lo. Quantos utilizaram-se de método tão digno para conse-guirem retornar ao Poder? Quan-tos fizeram uso da máquina estatal? Quantos violaram a democracia? Quantos reeleitos se utilizarão no segundo mandato desta compra de votos? Quantos compraram as pesquisas? Revoltante,  então,  foram  os resultados destas pesquisas de intenção de voto e de boca de urna em muitos estados. Sua farsa, revelada pelos resultados das apurações, enganou milhares de eleitores através da tática do voto útil. Tentou-se culpar as urnas eletrônicas e acusar o eleitor de volátil; todavia, só os tolos são enganados por descul-pas tão esfarrapadas, prin-cipalmente quando se observa que os mesmos partidos foram prejudicados em diferentes esta-dos. Não, não sejamos tão catastrofistas, trata-se de mera coincidência!!! Essa é a democra-cia brasileira: trocou-se o voto de cabresto pelo voto de pesquisa forjada (eu nunca mais acredito em pesquisas!!!). A realidade dos fatos, que muitos universitários, economis-tas, jornalistas e juristas super-inteligentes insistem em não enxergar está aí. E que se prove o contrário se isto não for verda-de.

Mesmo sabendo das barba-ridades cometidas pelo Executivo Federal em quatro anos, os mesmos estão sendo reeleitos (e daqui a um ano ninguém vai ter coragem de dizer que votou em FHC, assim como aconteceu com o Collor depois do confisco da poupança). É por essas e outras que a petulância de quem reele-geu  o presidente cuja emprega-da viaja todos os anos à Europa (você ainda não fez sua viagem? Mude de profissão, vire domésti-ca!!!) é diretamente proporcional à ignorância de quem vota naquele narigudo que rouba mas faz.  

 

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