O plano SurReal esgotado: a fronteira final
HOMERO ANDRETTA JUNIOR 1°DI
Os quatro anos vindouros são uma incógnita. Ninguém sabe o que
acontecerá no mundo e no Brasil após o esgotamento do modelo
neoliberal. Assim como Átila não deixou nada de pé por onde
passou, as receitas mágicas dos neoliberais devastaram as
economias dos países subdesenvolvidos onde foram implantadas.
México, Indonésia (além outros países do sudeste asiático) e
Rússia foram e estão sendo vítimas dos resultados dessas
táticas de desenvolvimento. Mesmo países que por um
triz não foram à bancarrota, como a Argentina e (até agora) o
Brasil, passam hoje por um processo de estagnação e recessão
em suas economias.
Uma primeira análise desse quadro certamente levaria a uma
conclusão primária e simplista: a crise é mundial e
inexoravelmente atingiria os chamados mercados
emergentes. Contudo, o velho ditado popular já alerta, as
aparências enganam. Aceitar essa argumentação é extremamente
conveniente para os líderes desses países, sendo esta uma
ótima desculpa para sua irresponsabilidade. Vejamos o caso
brasileiro. Implantou-se um plano de estabilização monetária
baseado em abertura excessiva para as importações, altas taxas
de juros e privatizações. Seu criador conseguiu uma façanha
aparentemente incrível ao eliminar a inflação persistente a
décadas no Brasil, fato que quase lhe garantiu o título de
herói nacional. Este homem parecia, na época, apto a resolver
todos os problemas deste país de dimensões continentais,
conseguindo, então, seu primeiro mandato presidencial. Ao que
parece, sua genialidade fora a morte da inflação.
Contudo, estão aqui presentes casos de mera
coincidência. Esse método de progresso já
havia sido aplicado no México, no Chile e na Argentina
(lembram-se do Cavallo?), onde os efeitos tinham sido os mesmos,
vale dizer, eliminou-se a inflação, privatizaram-se muitas
empresas, aumentaram-se os juros. Será que nosso milagroso homem
cometeu plágio ou será que essa era uma receita do livro da
vovó, aplicada de forma bastante similar nesses locais?
Não é necessária muita argumentação para afirmar que estava
disseminada na América Latina a maçã envenenada do FMI.
Veio a crise do México. Considerada pela mídia como um problema
local, aqueles que alertaram para o perigo de expansão da crise
foram tidos como lunáticos. Como exemplo, basta citar o
economista americano Dornbush, que advertiu, especificamente,
sobre os riscos que o Brasil corria de ser a bola da
vez. Nesta época, em que o sudeste asiático conhecia os
ventos da crise, o economista supramencionado foi tido como
catastrofista pela imprensa nacional. A oposição, por sua vez,
desde há muito tempo afirmava a inadequação do Plano Real à
realidade brasileira, sendo taxada de inimiga do povo e de
pessimista. Enquanto isso, nosso herói e sua equipe econômica
ignoraram todos os avisos; ele estava mais preocupado com seu
próprio futuro, movendo mundos e fundos para conseguir a
aprovação no Congresso da emenda da reeleição.
Lembrem-se bem desses fatos. Sendo o Plano Real nada mais do que
uma cópia de uma receita do FMI, a crise resultado das fraquezas
desta receita e o nosso herói completamente negligente em suas
ações, de quem é a culpa da crise brasileira hoje? Ou será
que tudo isso é mera coincidência? Os modelos econômicos
adotados são mera coincidência, as reeleições (de Yeltsin, de
Menem e de FHC) são mera coincidência, a crise é mera
coincidência e a culpa é de um ente misterioso e sobrenatural
chamado globalização. Pode alguém acreditar no que está
escrito nesta última frase?
Nos dias de hoje, o Plano Real revelou-se SurReal: ele está
acima da realidade brasileira, ele pertence a um universo
onírico, isto é, ao sonho brasileiro de pertencermos um dia ao
grupo dos países desenvolvidos, única situação na qual este
plano seria perfeito. Para um país que precisa urgentemente
crescer, gerar empregos e educar seu povo, optar pela
estagnação é um erro crasso. Os criadores e aplicadores deste
plano SurReal esqueceram-se das mazelas sociais deste país,
provavelmente depois de terem conhecido Paris, Londres,
Washington e muitas outras cidades às custas dos contribuintes.
Enfim, o Plano SurReal é como o prédio da SERSAN; é bonito por
fora, podre por dentro. A propósito: Votou em FHC? Que tal pagar
mais imposto?