Chato à vista! Como é que eu me livro dessa? |
Você
está caminhando, sem suspeitar de nada, pelo corredor da sua empresa,
rumo à máquina de café, quando de repente, vindo de
trás, sem aviso, ele agarra o seu braço. Você se vira,
surpreso, e é imediatamente agredido por um sorriso. Seguem-se quatro
palavras desconexas sobre um assunto que não tem a menor importância,
e você, num instantâneo reflexo de boa educação,
acena com a cabeça. Pronto! Você acaba de ser capturado. Não,
não é um videogame, não é uma invasão
alienígena, não é um ataque da concorrência.
Trata-se apenas de uma cena corriqueira em qualquer ambiente de trabalho:
você está sendo vítima da aproximação
de um chato. Você olha para os lados e percebe que todos os seus
colegas debandaram. A saída mais próxima está a longínquos
15 metros de distância, e você não consegue se lembrar
de nenhum assunto urgente para resolver. Não acontece todos os dias
(ainda bem), mas acontece mais vezes do que seria desejável. O que
fazer? Calma, nem tudo está perdido. Há meios e modos de
lidar com os chatos do seu ambiente de trabalho.
Como você já deve ter percebido, existem vários tipos de chato, cada um com suas peculiaridades, seus métodos, suas estratégias. Mas nós não vamos ficar classificando e descrevendo, porque... bem, porque estamos fazendo muita força, neste artigo, para não sermos chatos. O que você precisa saber é exatamente o oposto: como não entrar nesse mundo estranho das (sejamos politicamente corretos) personalidades bidimensionais. Então, voltemos ao exemplo do chato que o ataca perto da máquina de café. Invariavelmente, uma situação assim se enquadra em um dos seguintes casos: a) O chato é seu subordinado ou um colega que depende de você. Este é o melhor caso. Cara, você tem uma opção radical à sua disposição: diga para ele parar de aborrecê-lo. Ou promova uma campanha contra ele que no mínimo culmine com uma transferência para a filial de uma outra cidade. Se essa solução não condiz com a sua boa índole, você pode montar um sistema*. De qualquer modo, lembre-se: alguém que dependa de você pode estar sendo chato justamente porque, por incrível que pareça, está tentando agradá-lo a todo custo. Talvez a sua melhor opção seja simplesmente ser honesto, chamar o colega e dizer, assim, na lata, o que o incomoda. Mas depois não reclame quando descobrir que no fundo você até que gostava daquele tipo atencioso a toda prova... b) O chato é um colega de mesmo nível, com quem você divide o espaço e, pior, de quem você muitas vezes precisa. É o caso mais comum, e sociologicamente mais enriquecedor. Porque, prepare-se, você vai conviver tanto com esta situação que, das duas, uma: ou vai aprimorar o seu sistema* ou vai desistir do trabalho. É claro que você pode tentar uma campanha contra o inimigo, mas como ele tem o mesmo status que você -- e provavelmente é um profissional competente, a ponto de você precisar dele -- suas chances de sucesso são remotas. Resta-lhe, então, uma alternativa ao sistema*: o confronto. Quando o chato começar a chatear, você interrompe e diz: "Isso eu já sei, você já contou essa história quatro vezes, você está sendo chato". Com um pouco de sorte, você vai obter o respeito do chato por ser o único colega sincero e, a partir daí, ele vai se preocupar pelo menos um pouco em não chateá-lo. Mas, com um pouco de azar, ele vai passar a pedir a sua opinião para todo e qualquer problema pessoal que atravesse. c) O chato é o seu chefe ou alguém de quem você dependa. Nesse caso, esqueça o sistema. Você só tem duas opções. Primeira: exerça a paciência. Segunda: troque de seção ou de emprego. Bem, há uma terceira alternativa, se o seu chefe tem uma personalidade bidimensional. Faça um exame de consciência, vasculhe os recônditos de sua alma e pergunte: será que o chato não é você mesmo? O mais importante para lidar com um chato é: você tem que ter um plano. Eis algumas idéias para montar um sistema coerente, contínuo e estável de defesa: • Disponha de um método de ser interrompido com falsos telefonemas (por um colega, pela secretária) no primeiro ou segundo minuto de sua conversa com o chato • Tenha sempre na ponta da língua um "compromisso urgente" para os momentos em que o chato se aproxima • Maximize a utilização do e-mail em todos os seus contatos com o chato. Mensagens muito curtas, é claro • Procure o chato (deixando recado de que o procurou) sempre nas horas em que ele não está. Você estará sendo atencioso e não terá o ônus de conversar. (Quando ele o procurar para saber o que você queria, volte às idéias 1 ou 2) • Planeje suas idas a eventos sociais onde o chato estará (ou onde haja o risco de que esteja), de maneira a estar sempre com gente em volta. Ficar isolado num canto, mesmo por alguns minutos, é perigo de morte • Tenha sempre pronto um estoque de discursos extraordinariamente chatos. É possível que sendo ainda mais chato que ele você o afaste para sempre • Quando o chato vier lhe contar algo, levante-se e, ao mesmo tempo em que responde a ele, vá se afastando com passos rápidos • Faça qualquer coisa, mas nunca, nunca, nunca brigue com o chato. O plano pode ter mais itens. Pode ter itens inteiramente diferentes destes. Pode ser mais ou menos complexo. O que importa é que ele exista, e que você esteja sempre alerta. • Os colegas do autor desta reportagem pedem encarecidamente aos leitores que enviem outras sugestões. DAVID COHEN
*fonte: revista vocêsa junho/98 |