A felicidade é uma vantagem competitiva |
Acredite: ser feliz ajuda
um bocado na busca do sucesso profissional
Por Roberto Shinyashiki* Certamente seus últimos dias têm sido superatarefados, problemas para resolver, relatórios, apresentações, visitas. Quando alguém ousa falar perto de você em "felicidade", certamente a sua pergunta é: "Como dá para ser feliz num mundo cheio de pressão?" É preciso perceber que felicidade e sucesso não são acontecimentos antagônicos, mas sim complementares. Para que um aconteça é necessário que o outro também esteja presente. Como o sol e a lua, o dia e a noite, a inspiração e a expiração. A felicidade é o sucesso da alma e o sucesso é a felicidade da realização. Não há que escolher entre um ou outro, mas sim encontrar uma maneira de unir os dois. Por certo, uma pessoa feliz vai conseguir realizar suas metas profissionais e atingir seus objetivos. E esse sucesso torna as pessoas mais felizes com suas vidas. É como nas relações afetivas, nas quais o amor e a paixão precisam ser integrados para que estas perdurem e sejam sempre renovadas, proporcionando às pessoas envolvidas um sentido de realização e sucesso afetivo. Muitos afirmam que a felicidade não existe ou não passa de um sonho, um conceito apregoado por visionários. Muita gente também relaciona o envelhecer a um empobrecimento dos sonhos. Quando se é jovem sonha-se em construir uma carreira que ajude as pessoas e transforme a vida e o mundo. Porém, quando se chega aos 40 anos, tudo que se quer é ganhar dinheiro e pagar as contas no final do mês. Essas pessoas dizem que essa é a realidade e assim é a vida. Não é obrigatoriamente assim. Por certo será, se houver uma crença apostando nesta ótica. Se alguém pensar que a felicidade não existe, é exatamente isso que vai acontecer. Na Índia, diz-se que tudo acontece dessa maneira porque Deus só sabe dizer a palavra "sim". Mas, ele não diz "sim" para o que se pede - pois ele não é um pai superprotetor - e sim para o que se acredita. A diferença está, então, em acreditar que vai ser demitido ou que é possível ser bem-sucedido e feliz. O "sim" virá, mais cedo ou mais tarde. Obviamente, vivendo na dinâmica imposta pelo mundo em que vivemos, a questão é como atingir esses dois objetivos de forma simultânea. Porque há pessoas que estabelecem algo como "serei bem-sucedido até os 60 anos e depois serei feliz". Se o que realmente importa é ter sucesso e ser feliz ao mesmo tempo, a questão passa a ser como posicionar-se de forma adequada considerando as enormes e diferentes exigências dos tempos atuais. É preciso ter uma estratégia para transcender o simples viver por viver e saber colocar-se perante a vida, seus desafios e, principalmente, os próprios objetivos. Afinal, está em ação a primeira geração da Era do Caos. Muitas pessoas não se apercebem de que tudo que acontece na vida e no mundo dos negócios está ocorrendo de forma totalmente diferente de há pouco tempo. Antigamente, fazer um curso superior, como o de Medicina, asseguraria ao formado ganhar um bom dinheiro. Por certo, ganharia mais do que uma enfermeira. Não é assim que acontece hoje. Neste novo mundo, o pensamento linear foi substituído pelo caótico. É preciso saber enfrentar no mundo dos negócios de hoje a competição não tradicional. No livro Competindo pelo Futuro, Gary Hamel e C.K. Prahalad defendem a importância de cuidar da nossa empresa. Mas vão além. Eles pregam a necessidade de recriar todo o nosso setor de atuação através da observação de que a competição não tradicional é hoje responsável pela destruição da maioria das empresas e das profissões. Quando, na década de 70, os computadores entraram no mercado com maior força, donos de escolas de datilografia apostaram que, por terem um preço alto e destinarem-se a uma elite, as novas máquinas não representavam ameaça ao seu negócio. Sua preocupação era em desqualificar os computadores. Se preocuparam apenas com a concorrência entre as escolas de datilografia. Como resultado, a maioria daquelas escolas faliu, dando espaço aos cursos de informática, criados por novos empresários do mundo da educação. Os maiores estragos na freqüência aos cinemas não são causados por outros cinemas, mas pela concorrência da programação dos canais de TV, TV a cabo e Internet. A melhora do poder aquisitivo da população de baixa renda, aliada à diminuição dos preços de aparelhos de videocassete e televisores, a melhores vídeolocadoras, ao aumento da violência nos grandes centros urbanos, além dos serviços de entrega de pizza nas residências, também contribuiu para esvaziar os cinemas. Cada nova alteração nas alíquotas de impostos sobre os eletrodomésticos impacta não só o mercado desses aparelhos, mas toda a relação dele com outros setores. Neste mundo, as ameaças não são mais as ameaças do dia-a-dia, a lógica não é mais a mesma. É preciso entrar nesse turbilhão. O mundo do caos foi fortemente estimulado pelo fenômeno da velocidade da comunicação. Hoje percebemos o que está acontecendo na rápida destruição do mercado de capitais de vários países. É nítido o quanto a velocidade da comunicação faz com que a mudança da respiração do ministro da fazenda de Hong Kong provoque alterações nas aplicações nos fundos de pensão no Brasil. Esta velocidade hoje estabelecida configura o que, no fim da década de 60, McLuhan denominou de "Aldeia Global". A tecnologia está disponível a um número muito maior de pessoas e faz com que tudo possa ser do conhecimento de quase todos - sejam produtos, serviços ou informações. Na atual condição da alta competitividade, a falta de tecnoligia define quem está fora da competição. Mas não garante que uma companhia aérea é boa apenas porque possui grandes aviões. É preciso ter também excelentes serviços de manutenção e informação, por exemplo, além de ter bons equipamentos. A quebra das barreiras e fronteiras gerou "comoditização" de produtos e serviços. A maioria do que consumimos, quer sejam roupas ou até recentemente a exclusiva picanha maturada, hoje são itens produzidos e copiados em qualquer lugar. E a preços baixos. Portanto, é fundamental perceber que a exigência desse mundo de caos é que se venda mais do que roupas. É preciso que a loja saiba vender beleza, elegância. No restaurante, não se pode vender simplesmente comida, sem correr o risco da inevitável pergunta: por que uma coxinha de galinha custa o preço de um quilo de frango? O restaurante vende encontros, amizade, paquera, informação. O que significa que aquele que simplesmente vender comida estará perdendo o valor agregado, relacionado à troca que se faz entre o conceito de preço baixo pelo de preço justo. Nessa nova ótica, fica claro que apenas o dinheiro ou tecnologia não são mais suficientes. As empresas campeãs vendem produtos e serviços. Mas também entregam a felicidade como bônus, em vez de darem aos seus clientes a angústia da incerteza sobre a qualidade ou a confiabilidade, ainda tão comuns. Dessa forma, neste mundo atual, a felicidade passa a ser uma vantagem competitiva. O cliente deve sentir que está comprando mais do que um bom equipamento para cópia xerográfica ou um hambúrguer. Relacionamento, suporte técnico, clima alegre e tranqüilo dão ao produto ou serviço adquiridos um valor especial. O mercado de trabalho hoje diminui as oportunidades para os profissionais, mas especialmente para aqueles não capacitados para esta Era do Caos. O profissional para vencer neste tempo precisa gostar de adrenalina, de desafios. E isso não significa que deva haver um estímulo para retomar a postura de "dar o sangue" para a empresa. O que ocorre é uma necessidade de evolução daquele profissional tradicional. Na falta dessa evolução, não apenas sua carreira mas toda a sua vida acaba parada. Atualmente, acomodar-se por um ano é muito mais perigoso do que foi fazê-lo por 10 anos no começo deste século, até porque a velocidade desta Era do Caos era inimaginável há apenas 20 anos. As grandes modificações nas relações conjugais, nas práticas de aborto por meninas menores de 18 anos ou mesmo quanto à facilidade de acesso às drogas são provas de que não é mais possível permanecer inerte perante a realidade. É preciso evoluir como profissionais, como amigos, como maridos e esposas, como pais. Perdedores são pessoas hábeis em reclamar, acusar culpados e dar desculpas, o que só faz aumentar os seus problemas. Falam principalmente de outros perdedores e comparam os maus resultados deles ao seu próprio desempenho fraco. Os campeões estão sempre olhando para cima e criando o futuro. Olham e vêem quem está tendo bons resultados, quem está dando certo. Por isso, essas pessoas são, cada vez mais, pessoas de sucesso. E felizes. Se olharmos as pessoas felizes, se procurarmos aprender com a vida delas, vamos encontrar essencialmente quatro pilares da felicidade. Eu os classifico assim: 1) Competência - Ela se baseia em três habilidades: treino, estudo e continuidade. Tudo em que somos competentes é resultado de muito treino. Treinamos até as competências negativas. Os hipocondríacos, por exemplo, lêem bula de remédio e tudo o mais que aparecer sobre doenças. Eles também conversam e pensam sobre doenças o tempo todo. As pessoas depressivas têm muito treino em observar, comentar, valorizar fatos negativos. Tudo na vida é resultado de treino. Se você é um grande cirurgião, você treinou arduamente para isso. Quando eu era menino assistia aos treinos do time do Santos. Ficava espantado de ver o Pelé treinando mais tempo que os outros e pensava: para quê, se ele já é o melhor do mundo? Tempos depois, eu descobri que ele era o melhor do mundo porque treinava mais do que os outros. O estudo é o segundo pilar da competência. É fundamental para que a gente não gaste tempo inventando a roda ou repetindo os erros dos outros. Muitos alunos e freqüentadores das minhas palestras me perguntam: por que eu não consigo estudar? Eu sempre digo: você não consegue estudar porque, no fundo, você é orgulhoso. Não consegue achar que alguém pode ensinar algo que você não sabe. As pessoas felizes têm a humildade de procurar aprender com os outros, para ganhar tempo, evitar erros que os outros já cometeram. O sucesso não é construído das 9h às 18h. Ele é construído à noite, quando você se permite estudar, pesquisar mais que os outros. A melhor coisa que pode nos acontecer é ser o pior aluno da classe. Se você vai estudar alguma coisa, procure um assunto, uma turma em que você seja o pior. E você precisa ter humildade para isso, principalmente quando já tem uma carreira construída. Se você é a fera em recursos humanos e for estudar finanças, provavelmente será um dos piores alunos da classe. Vai precisar estudar mais, exercitar mais. Vai aprender muito mais. Num seminário de RH, você aprende muito menos. Terminado um curso de finanças, em compensação, você vai dar um salto qualitativo muito maior no seu trabalho. Vai agregar novas habilidades, capacitar-se para outras atividades, ampliar sua visão da empresa. A competência também requer continuidade. Quem consegue ser bom todos os dias, depois de um tempo fica ótimo. Muitos processos de treinamento não dão resultado porque falta a continuidade. Metade dos programas de qualidade total no Brasil é abortada nos primeiros seis meses pela mesma causa. Lembre-se de tantos regimes alimentares que as pessoas interrompem, tratamentos, cursos de inglês, de violão, projetos de vida suspensos. As pessoas competentes concluem a trajetória que se propuseram a cumprir. 2) Reciprocidade - Os campeões criam vitórias para todos. Criam espaço para as pessoas crescerem, criam oportunidades. Se você tem um restaurante e não cria oportunidade para seu maître crescer, ele acaba abrindo um restaurante em frente ao seu. Os campeões conseguem ver além dos seus interesses pessoais, de sua vontade pessoal. Os profissionais fadados ao fracasso conseguem olhar para o seu próprio espaço, para a sua própria vitória. 3) Realização - Antigamente querer era poder. As pessoas que desejavam, que queriam muito uma coisa, conseguiam dar saltos em suas vidas. Hoje é preciso entender que alguma coisa mudou: fazer é poder. São as que se propõem a um projeto e realizam, se propõem a pedir desculpas para alguém e pedem, se propõem a construir um novo relacionamento com os filhos e fazem isso. Não adie as ações importantes da sua vida. Faça. A maior parte das pessoas que não realiza o que quer, apenas sonha em realizar. Não consegue dar certo porque está fazendo uma coisa com a cabeça em outra. As pessoas que dão certo na vida, que são felizes, resolvem suas dificuldades e tomam atitudes concretas diante delas. 4) Sentido - As grandes vitórias são criadas por quem vê significado em suas lutas. A Guerra do Vietnã é um velho exemplo disso. De um lado o exército americano todo aparelhado, sendo derrotado por um grupo de pessoas famintas mas enormemente mais motivado. Os vietcongues tinham clareza do sentido daquela guerra para eles e para seus filhos. O sentido maior é a força motriz para superar as dificuldades do dia-a-dia. Quem cumpre o simples ato de pegar seu carro e ir para o trabalho como um gesto mecânico e vazio, não olha para além do cotidiano. Se você sabe porque está fazendo o que tem que fazer, será um vencedor. Para que as dificuldades tornem-se menores, a disposição é maior, o brilho nos olhos está mais presente. Os resultados aparecem como conseqüência natural de uma jornada que vem se cumprindo, não como pagamento por uma estratégia de carreira bem montada mas vazia de significado. Quem faz essa opção pode até fazer uma carreira aparentemente brilhante, mas não pode se perguntar muito "para quê"? Quando isso acontecer, provavelmente, ele não verá sentido naquilo que faz. Então, poderá desistir de tudo para recomeçar certo, promover grandes e radicais mudanças, ou conviver com o risco do estresse, da depressão e da infelicidade. Há alguns anos participei como bolsista de um programa no Japão, com empresários de mais 13 países. Quando alguém visita uma empresa recebe, geralmente, o histórico e o balanço financeiro, que demonstram a sua forma de atuação. Ao analisar o balanço e o momento da empresa que visitávamos, um mexicano sugeriu ao administrador que demitisse 400 funcionários. Essa medida faria dobrar seus lucros. O administrador olhou para nosso companheiro e, calmamente, respondeu: "No Ocidente, vocês costumam ver o dinheiro como única forma de lucro. Mas, para mim, lucro é só recompensa financeira. Lealdade aos meus funcionários também é lucro. A sensação de estar construindo uma nação forte também representa um grande lucro. E a tranqüilidade de realizar minha missão de vida é a maior de todas as formas de lucro." Eu, que estava assistindo à cena, pensei: a felicidade também é lucro.
* O consultor organizacional Roberto Shinyshiaki (gentedit@mandic.com.br) é autor de vários livros, entre eles A Revolução dos Campeões e O Sucesso é Ser Feliz. |