1tama.gif (16248 bytes) Sua carreira é um TAMAGOTCHI
  
Você tem que apertar os botões certos nas horas certas, se quiser que ela tenha vida longa e próspera. Pois acredite

Por David Cohen

Você já cuidou de um Tamagotchi? Não, isso é coisa de criança, você provavelmente nem sabe como funciona um Tamagotchi, não é mesmo? E, de mais a mais, já está passando (ou já passou) de moda. Pois bem, vamos às informações básicas: os Tamagotchi são bichinhos virtuais lançados no Japão no final de 1996, que venderam 14 milhões de unidades em apenas seis meses no mercado doméstico e em seguida se espalharam pelo mundo, como a febre transitória dos bambolês e dos cubos mágicos em décadas passadas. A graça do brinquedinho é que o dono tem que cuidar dele como se fosse um animal de estimação - apertando alguns botõezinhos para alimentá-lo, banhá-lo, brincar com ele, dar broncas, colocá-lo para dormir. O maior desafio é descobrir as necessidades do Tamagotchi e dar-lhe o que ele precisa na hora certa. Se tratar bem do brinquedo, você ganha pontos e ele vive mais tempo. Se der pouca atenção ao bichinho, sua pontuação será baixa e a saúde dele ficará fraca, podendo levá-lo à morte prematura. Dependendo dos seus cuidados, o Tamagotchi vai se transformar em uma de várias criaturas diferentes - inclusive um velho rabugento. 

Agora que você tem todas essas informações, vamos mudar um pouco a pergunta: você anda cuidando da sua carreira? 

Sim, porque a sua carreira, embora não seja (assim esperamos) um brinquedinho virtual, é também uma espécie de Tamagotchi. Você tem que alimentá-la, corrigi-la, dar-lhe um tempo para descansar, brincar com ela. Apertando os botões certos, ela lhe dará mais satisfação e vai durar mais tempo. Faltando-lhe atenção, ela se distancia cada vez mais daquele sonho dourado da sua adolescência. E, no final das contas, é você que, por volta dos 40 e poucos anos, pode se transformar naquele velho chato. 

Assim como um Tamagotchi, uma carreira - qualquer carreira - tem um ciclo de vida. Segundo o consultor Ichak Adizes, professor da Escola de Gerência John Anderson, da Universidade da Califórnia, e fundador do Instituto Adizes, cada etapa do ciclo de uma carreira oferece seus próprios desafios e ameaças. Dúvidas normais em uma fase da carreira são sintomas de problemas sérios em outra fase. Nascido na Iugoslávia e criado em Israel, Adizes divide seu tempo hoje entre Tel Aviv, a Califórnia e as dezenas de lugares para onde viaja em seminários, incluindo São Paulo (onde conversou uma primeira vez com VOCÊ S.A.; a reportagem foi completada depois, por telefone, de Tel Aviv). Com a experiência de quem já aplicou seu método de controle de mudanças em mais de 400 organizações de 35 países nos últimos 25 anos, Adizes, autor de O Ciclo de Vida das Organizações (Pioneira, 1990) e de mais quatro livros, explica nesta reportagem como se pode aplicar seu método para a identificação das fases de uma carreira - e o que fazer para chegar ao ápice e manter-se lá o maior tempo possível. 

A escolha 
Você acaba o dia com mais ou menos energia do que começou? 

Antes de começar a viver os estágios da carreira, diz Adizes, é preciso escolher a carreira certa. Para isso, é muito importante que o seu estilo e o estilo da carreira combinem. "É um erro olhar para alguém de sucesso e dizer que quer ser igual a ele. Um exemplo desse tipo de erro é alguém que está no ramo de vendas aceitar um trabalho em marketing para subir na empresa. Ou o contrário. A pessoa pode não ser capaz de fazer a transição." Outro par de exemplos é produção e desenvolvimento - embora as duas áreas sejam ocupadas por engenheiros, elas têm perfis incompatíveis. É o caso também, diz Adizes, de finanças e contabilidade. "Embora o ferramental seja parecido, e em geral quem tem capacidade para desempenhar um papel está tecnicamente habilitado a desempenhar o outro, as carreiras têm estilos totalmente diferentes. Você pode muito facilmente fracassar na sua carreira porque ela exige características que você não tem, como capacidade de concentração ou isolamento, facilidade de comunicação etc." 

Para definir estilos, Adizes usa quatro letrinhas, PAEI, significando quatro maneiras de atuação básicas. 

P é o Produtor, aquele que toma a iniciativa e faz. 
A é o Administrador, que cria os mecanismos e rotinas. 
E é o Empreendedor, que vislumbra possibilidades e se prepara para elas. 
I é o Integrador, cuja força está nos relacionamentos, na sabedoria das questões humanas. 

As pessoas se dividem de acordo com as qualidades que tenham em maior grau e os trabalhos também têm cargas maiores de um ou outro papel. "Um engenheiro é mais P, um contador é mais A, um profissional de marketing é mais E, um psicólogo é mais I, por exemplo", diz Adizes. "Agora, que fique bem claro, não existe o trabalho perfeito. Não existe uma carreira modelada especialmente para você. Todos os trabalhos têm componentes P, A, E, I. Todos nós temos que agüentar uma parte do trabalho que não cumpre nossas expectativas, que não tem a ver com o nosso estilo. A questão é se essa parte é maior do que a parte de que nós gostamos." Como saber então se foi feita a escolha certa da profissão? "A resposta é: quando fazemos algo que tem a ver com o nosso estilo, aumentamos a nossa energia, em vez de diminuí-la. Você deve se perguntar se, no fim do dia, sente que está com mais ou com menos energia. Se você tem sempre menos energia, então provavelmente está na carreira errada." 

As mudanças 
A probabilidade de insatisfação com a carreira cresce com o tempo 

Mesmo que você tenha escolhido a carreira certa, há um complicador. Nós mudamos. E o trabalho muda. "Há também um ciclo de vida para o nosso estilo", diz Adizes. Quando somos mais jovens, somos mais Produtores, afirma. Depois passamos a ser mais Empreendedores. Na segunda parte da vida, tendemos a ser mais Administradores, mais apegados à rotina. E, quando ficamos velhos, tornamo-nos mais Integradores, mais ligados à família e a valores espirituais. "A mudança no estilo pode ter um importante impacto no nosso amor pela carreira. O fator I não é muito importante no começo da carreira; nessa época eu quero é ganhar um montão de dinheiro e talvez não me importe de pisar nos corpos de algumas pessoas para alcançar meus objetivos. Mas no fim da estrada o fator I torna-se crucial e eu não quero mais saber do trabalho porque ele não atende às minhas necessidades." 

As mudanças também são verificadas no trabalho. Uma empresa nova no mercado costuma ter uma cultura predominantemente Produtora. Quando a organização envelhece, torna-se mais Administradora ou mais burocrática. O trabalho que há dez anos era o máximo pode ter se tornado, hoje, uma coisa insuportável. "Quando você olha para o quadro dinâmico, o descasamento aumenta. Portanto, a probabilidade de que você não esteja satisfeito com a sua carreira aumenta. Bem pouca gente gosta de suas carreiras." O verdadeiro truque não é ficar mudando de carreira, mudando de emprego. O verdadeiro truque, diz Adizes, é que você tenha capacidade de mudar o seu trabalho, para voltar a sentir prazer com ele. 
 
 

fonte: revista você s.a. julho/98

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