Portugal e a Espanha são países amigos. Dizemos frequentemente que são países irmãos. Têm história comum, língua aproximadamente igual, tradições idênticas. São frequentes os pontos de contacto da nossa cultura e civilização. A influência que mutuamente exercemos é enorme e não podemos negá-la nem destruí-la.
Conhecendo melhor a História da Espanha, compreenderemos melhor a História de Portugal. As duas confundem-se muitas vezes com a crónica das respectivas famílias reais. Entendemos, pois, haver conveniência em seguir um por um os laços de parentesco que as ligam entre si. A árvore genealógica das duas casas reinantes tem muitos ramos comuns.
No tempo de Cristo, a Península Ibérica estava integrada no Império Romano, era dominada pela complexa mas perfeita estrutura política de Roma. Falava-se aqui o Latim, língua da região e cidade de Roma, o Lácio. Os costumes dos seus naturais foram substituídos por outros, trazidos pelos homens do Império ou integrados nele, os funcionários, os comerciantes e os soldados.
Vieram depois os povos bárbaros. Vários ramos deles se estabeleceram no território peninsular. Os suevos e os visigodos foram os principais. As normas administrativas sofreram a sua influência, ao princípio caótica e demolidora mas depois ordenada e benéfica. Após a sua conversão ao Catolicismo, os visigodos e suevos transformaram-se nos grandes pilares da Fé e da Civilização, nas Espanhas. Estes povos tinham qualidades que suplantavam as dos romanos, um povo então decadente.
Chegaram finalmente os árabes. Tomaram conta de todo o território da Península Ibérica, com excepção das zonas montanhosas do norte, as Astúrias e as Vascongadas. Refugiou-se aqui um punhado de hispanos, chefiado por Pelágio. Os invasores e usurpadores infiéis começaram desde logo a ser repelidos. A gesta da Reconquista prosseguiu. O problema era não só hispânico mas também europeu. O conhecido Carlos Martel viu a gravidade da situação e opôs a força dos seus exércitos à marcha vitoriosa dos árabes, vencendo-os na batalha de Poitiers.
Prosseguiu, no entanto, a luta entre cristãos e mouros. Portugal deu por finda a conquista do seu território em 1249, enquanto a Espanha só lhe pôs termo bastantes anos depois, em 1492.
D.Afonso VI fez prender, ardilosamente, seu irmão Garcia, rei da Galiza, e apoderou-se dos seus domínios. Seu pai tinha dividido o reino pelos cinco filhos, mas D.Afonso VI conseguiu apoderar-se de todo aquele território.
Conquistou Toledo, onde estabeleceu a corte. Foi derrotado em Zalaca e Uclés. O célebre Cid, o Campeador, ainda tomou a cidade mediterrânica de Valença, que teve de ser abandonada; o rei reconheceu que não havia vantagem em sustentar uma praça de guerra tão profundamente encravada em território inimigo.
D.Afonso VI foi um dos reis que maior influência exerceu na gesta da reconquista do território de Portugal. Chamou a si alguns fidalgos e aventureiros europeus, que tomaram parte na luta. Distinguiram-se entre eles Raimundo de Borgonha, seu irmão Henrique, e o primo destes, Raimundo de Amous, sobrinhos e protegidos de D.Constança, rainha cônjuge de Leão e Castela. Casaram com as filhas do rei, D.Urraca, D.Teresa e D.Elvira, respectivamente.
Depois da sua morte, os seus reinos foram repartidos pelos filhos, segundo o costume das monarquias peninsulares da época. D.Sancho III recebeu Castela e D.Fernando II ficou com o território de Leão.
D.Afonso VII tem para nós grande interesse por ter sido ele que reconheceu a independência de Portugal, pelo Tratado de Samora, em 5 de Outubro de 1143.
D.Sancho III instituiu a Ordem de Calatrava, desde logo introduzida em Portugal, onde é conhecida pela designação de Ordem de Avis, poderosa e influente organização militar que tinha a sua sede na vila deste nome, no Alentejo.
D.Fernando II, rei de Leão, instituiu a Ordem de Santiago de Compostela, vulgarmente conhecida entre nós pela denominação de Santiago da Espada. O nome vem-lhe, segundo alguns autores, de a cruz ter a forma de uma espada. Foi introduzida em Portugal ainda no tempo de D.Afonso Henriques.
Deve-se-lhe o "Fuero Viejo de Castilla", que regulava os privilégios da nobreza.
Fundou a Universidade de Palência, depois transferida para Valhadolid. Foi a primeira que se estabeleceu na Península Ibérica, tendo sido fundada em 1208.
Auxiliado por elementos guerreiros de todas as regiões da Península, entre os quais se contavam algumas tropas portuguesas, venceu os mouros na batalha de Navas de Tolosa. O auxílio lusitano parece não ter sido oficial, mas de iniciativa particular, o que era frequente naquela época.
Depois de os mouros conquistarem a cidade de Silves e outras terras do sul, o exército dos infiéis atacou D.Afonso , que sofreu uma dura derrota na famosa batalha de Alarcos, na qual perdeu a vida o príncipe herdeiro do trono, D.Fernando. O rei de Leão, D.Afonso IX, uniu-se aos mouros na luta contra os príncipes cristãos; por esse motivo, o Papa castigou-o com a pena de excomunhão.
Combatiam contra os mouros os reis de Aragão, Castela e Portugal, aos quais foram concedidas pelo Sumo Pontífice, as mesmas indulgências que eram concedidas aos cruzados do Oriente.
No tratado de paz, D.Afonso IX comprometeu-se a casar com D.Berengária, filha do rei de Castela. O casamento foi mais tarde anulado, por razões de consanguinidade.
D.Afonso VIII fez questão em que o rei de Leão restituísse ao nosso País as terras arrebatadas durante as lutas que D.Afonso II travou contra as irmãs. O rei leonês casara em Portugal com D.Teresa, irmã do nosso monarca, e por isso tinha interesses a defender na luta travada.
D.Henrique I morreu de desastre. Andando a brincar com outros jovens da sua idade, sofreu um acidente de que veio a falecer.
Para poder abdicar, ou talvez ainda antes de resolver fazê-lo, foi coroada rainha de Castela, na cidade de Valhadolid. O rei leonês, seu marido, de quem estava separada por ter sido anulado o casamento, não aceitou de boa vontade as negociações em que a sua voluntariosa esposa se embrenhou, pois desejava ocupar ele o lugar de monarca castelhano. Mas D.Berengária não acedeu às suas exigências.
Sustentou as pretensões de seu filho D.Fernando III ao trono de Leão, contra os hipotéticos direitos de D.Dulce e D.Sancha, filhas de D.Afonso IX e de D.Teresa de Portugal. Compreendeu que "mais vale ruim acordo que boa demanda" e assim, em vez de se entregar a lutas estéreis e destruidoras, veio ao nosso País e resolveu tudo a seu contento. Pagou às filhas de D.Teresa uma avultada pensão, mas garantiu ao próprio filho a sucessão no trono leonês.
Logo que subiu ao trono, D.Fernando III castigou exemplarmente os fidalgos que haviam procurado lançar o reino nos horrores da guerra civil. Era dotado de grande valentia nos combates e de grande habilidade diplomática. Foi um dos mais gloriosos monarcas castelhanos, óptimo legislador, bom político, organizador consciencioso, protector da cultura, promotor do fomento nacional e virtuoso em alto grau.
Ocupou Córdova e Jaén, além de outras importantes cidades do sul da Espanha. Foi neste reinado que o rei de Aragão e senhor da Catalunha, D.Jaime I, conquistou as ilhas Baleares, assim como a cidade de Valência, na costa oriental da Península.
Com a conquista e ocupação do reino mouro de Múrcia, as fronteiras de Castela ficaram com uma grande extensão de costa, no Mediterrâneo, e alguns bons portos ao sul e sueste. Também ocupou a cidade de Sevilha, em cuja acção se distinguiram alguns fidalgos portugueses, salientando-se entre eles o Infante D.Pedro, segundo referem alguns autores espanhóis. Cremos tratar-se do filho de D.Sancho I, o mesmo que chegou a ser "Rei das Baleares".
As fulminantes conquistas de D.Fernando III puseram em perigo a posse do Algarve, por parte de Portugal. Talvez isso levasse o nosso rei D.Afonso III a apressar a sua conquista, aproveitando a oportunidade que surgia.
D.Fernando III transferiu a Universidade de Palência para Valhadolid. Por influência e iniciativa de D. Rodrigo Ximenez de Rada, arcebispo de Toledo, fundou-se a Universidade de Salamanca, em 1240. Cinquenta anos depois, era fundada a nossa Universidade de Coimbra. Este monarca é vulgarmente conhecido pela designação de São Fernando.
Ao conceder ao Conde D.Henrique, por ocasião do seu casamento com D.Teresa, o governo do Condado Portucalense, o rei D.Afonso VI deu existência prática, talvez involuntaria e inconscientemente, ao reino de Portugal. O facto ocorreu em data mal determinada, provavelmente em 1093. Por essa altura, em 1095, começavam as historicamente famosas Cruzadas do Oriente.
O rei D.Afonso VII era filho de D.Urraca, irmã de D.Teresa de Portugal. O nosso primeiro rei era, portanto, primo coirmão do rei de Castela. Houve uma guerra entre os dois, porque D.Afonso VII não estava resolvido a reconhecer a independência portuguesa. Foi derrotado pelas tropas de D.Afonso Henriques nas escaramuças de Cerneja e Arcos de Valdevez.
Por influência da Santa Sé, que enviou à Península o cardeal Guido de Vico, o rei de Leão e Castela reconheceu a nossa independência pelo Tratado de Samora, assinado em 5 de Outubro de 1143.
D.Mafalda, filha de D.Afonso Henriques, casou com o rei de Aragão, D.Afonso II, tendo falecido em 1196.
O rei de Leão, D.Fernando II, casou com outra filha de D.Afonso Henriques, D.Urraca de Portugal, em 1165. Alguns historiadores afirmam que foi repudiada; outros, porém, dizem que o casamento foi anulado por razões de parentesco. Os dois cônjuges eram bisnetos de D.Afonso VI.
Deste matrimónio nasceria o rei D.Afonso IX, rei-cônjuge de Castela, monarca reinante em Leão; como soberano leonês, é por vezes designado pelo denominativo D.Afonso IV
D.Sancho I, rei de Portugal, casou com D.Dulce de Aragão, filha de D.Raimundo e de D.Petronilha, tendo-se celebrado o matrimónio pelo ano de 1174.
O rei de Leão, D.Afonso IX, veio a casar com uma princesa de Portugal, a Beata D.Teresa, filha de D.Sancho . Este casamento foi mais tarde anulado, também sob o pretexto de consanguinidade. Havia sido celebrado em Guimarães, no ano de 1191. Os dois esposos eram ambos netos de D.Afonso Henriques. Dizem alguns autores que ele a amava extremamente e que só se separaram em obediência à disciplina da Igreja; defendeu pelas armas os prováveis ou supostos direitos de sua esposa (e de seus irmãos dela) contra a ambição do nosso rei D.Afonso II.
A futura rainha de Portugal, D.Mécia Lopes de Haro, mulher do rei D.Sancho II, era neta de D.Afonso IX; nascera de sua filha natural, D.Urraca Afonso.
D.Urraca de Castela, filha de D.Afonso VIII, casou com o nosso rei D.Afonso II. O bispo do Porto, ao tempo D.Martinho Rodrigues, ainda levantou a questão do impedimento canónico, mas sem consequências. Estava-se num tempo em que os reis e os bispos se digladiavam e para isso tudo servia! Os desposórios realizaram-se em fins de 1208 ou princípios de 1209, não estando definida a data exacta.
Outra irmã de D.Urraca, D.Branca de Castela, casou com o rei Luís VIII da França. Por isso, D.Sancho II e D.Afonso III de Portugal, S.Fernando, de Leão e Castela, e S.Luís, da França, eram primos coirmãos entre si, e todos eles dotados de qualidades muito apreciáveis, bons guerreiros e bons governantes.
O rei D.Henrique I de Castela casou em Portugal com uma filha do nosso rei D.Sancho I, D.Mafalda. Todavia, o casamento não chegou a ser consumado por o noivo ter falecido. Contava nessa altura cerca de treze anos de idade.
Há ainda quem afirme que D.Mafalda casou também com D.Afonso IX, não coabitando nunca com ele; esta informação não se confirma.
O infante D.Pedro de Portugal, filho de D.Sancho I, residiu durante algum tempo em Leão, onde sua irmã D.Teresa estava casada. Consorciou-se com D.Aurêmbias, Condessa de Urgel, que antes tinha sido casada com D.Álvaro Pérez de Castro, de quem se separou por razões de parentesco.
D.Álvaro veio a casar com D.Mécia Lopes de Haro, a qual casou, já viúva, com o rei D.Sancho II.
D.Pedro herdou de sua mulher o título e os privilégios de Conde de Urgel; trocou depois o seu condado pelo governo das ilhas Baleares, elevadas à categoria de reino e por isso é também conhecido pela designação de "Rei das Baleares".
Conquistou a ilha de Ibiza, tendo mais tarde cedido o senhorio das suas terras ao rei D.Jaime I de Aragão, em troca de ponderáveis vantagens.
O infante D.Fernando de Portugal, filho do rei D.Afonso II, vulgarmente conhecido na História pela designação de Infante de Serpa, por ter o senhorio e haver residido nesta vila, fez-se vassalo de D.Fernando III e casou com D.Sancha Fernandez de Lara, filha do conde Fernando Nunez de Lara, cujo nome é omitido pelos autores da obra "Nobreza de Portugal".
O nosso D.Sancho II casou com D.Mécia Lopes de Haro, filha do fidalgo biscainho Lopo Dias de Haro e da infanta D.Urraca Afonso, filha natural do rei D.Afonso IX, de Leão. Devido à guerra travada entre D.Sancho II e D.Afonso III, seu irmão, pela posse do trono, D.Mécia separou-se ou foi forçada a separar-se do marido. Morreram ambos fora de Portugal, ele em Toledo, onde foi inumado, e ela em Palência, sendo sepultada no mosteiro beneditino de Nájera, em túmulo que ela mandara construir.
Na entrevista que D.Sancho II teve no Sabugal com D.Fernando III de
Castela, em fins de 1230 ou princípios de 1231, ficou assente que
seria restituída ao nosso País a cidade de Chaves, que nos
havia sido arrebatada durante as lutas anteriores. Vencido por seu irmão,
o desditoso rei pediu asilo ao rei de Castela, seu primo coirmão,
vindo a falecer em Toledo pouco depois de ali se ter fixado.
Sabe-se que foi sepultado na catedral toledana, então muito
diferente do que é hoje, desconhecendo-se o lugar do seu sarcófago.
Nunca chegou a ser trasladado para o Mosteiro de Alcobaça, como
desejava.
Demos a este primeiro capítulo a designação de "Leão e Castela" por estes reinos terem fronteiras com Portugal e se ter jogado entre eles o predomínio peninsular, a que estávamos mais ou menos presos também. Deve reparar-se que as duas coroas uniam-se frequentemente para logo se separarem.
O elemento comum a todos os povos peninsulares era a luta contra os mouros, que continuavam a ocupar a zona sul. Deve procurar-se neste pormenor uma das razões da supremacia de Castela sobre Leão, cuja fronteira ficava longe das zonas em que se processava a reconquista cristã. Os monarcas comuns aproximavam-se o mais possível das terras em que a sua presença se tornava mais necessária.
Tem certo interesse salientar que houve como que um paralelismo entre as qualidades e defeitos dos reis portugueses e castelhanos. Além do que pertence a cada um, individualmente considerados, manifestou-se claramente a influência das diversas épocas que se viveram, em que os interesses e necessidades tinham muito de especial.
Embora Portugal tivesse saído do reino de Leão -- primitivamente, Castela não tinha fronteiras com o nosso País -- a influência castelhana parece ter sido muito mais dominante do que a leonesa. Por este motivo são mais apertados os laços de parentesco que unem as respectivas famílias reais.
Teve uma guerra contra Portugal, por pretender dominar o Algarve, contra os nossos direitos e pretensões. A questão foi arrumada por volta do ano de 1267. D.Afonso X havia concedido a D.Afonso III, na pessoa do seu neto D.Dinis, a posse futura das terras algarvias; a entrega definitiva deveria efectuar-se só depois da sua morte, porém, quando D.Dinis o visitou, para por ele ser armado cavaleiro, concedeu-lhe a posse efectiva e imediata daquelas terras.
Segundo alguns historiadores, interessou-se pela restauração da diocese de Silves; no entanto, o facto está envolvido em dificuldades cronológicas, pois o primeiro bispo é anterior a este monarca.
Não conseguiu fugir ao mal da época, as revoltas dos filhos dos reis. O seu sucessor, quando infante de Castela, pretendeu arrebatar-lhe a coroa.
O nosso rei D.Dinis foi ajudar o rebelde, o que causou profundo desgosto a sua mãe, que abandonou o nosso País e se retirou para a corte castelhana, onde se criara.
Foi este monarca que deu existência jurídica ao princípio da hereditariedade real, em Castela, que até então era simplesmente consuetudinária.
As ordens militares -- Alcântara, Calatrava e Santiago -- conseguiram grande prestígio e expansão. Dizia-se dos seus membros que eram cordeiros ao ouvirem os sinos das igrejas mas que se transformavam em leões quando ouviam o som das trompas guerreiras.
O grande pedagogo espanhol P.André Manjón diz dele que com todo o seu saber e inteligência, não soube governar, nem educar, nem pelejar, nem conseguiu ser coroado imperador da Alemanha, como ambicionava e para que gastou muito dinheiro e toda a sua influência.
D. Afonso X extinguiu o tributo simbólico que Portugal devia pagar ao rei de Leão, completando assim a sua independência, no ano de 1268.
Grande parte da produção poética deste trovador está escrita na língua galaico-portuguesa, no seu tempo usada pelas pessoas de cultura mais destacada, na Península Ibérica.
Pretendendo criar uma marinha poderosa, comprou em Génova algumas galés e contratou o almirante genovês Benito Zacarias. Seguiu neste particular o princípio político ensaiado em Portugal por D.Dinis, que mandou vir para o seu reino o célebre almirante Manuel Peçanha. O mar começava a ser considerado importante factor de progresso. O seu valor aumentou nos dois séculos seguintes.
Foi no tempo de D.Sancho IV que se deu o celebérrimo feito de D.Afonso Pérez de Gusmão, o Bom. Havia sido encarregado da defesa de Tarifa, recentemente conquistada. O irmão do rei, D.João de Castela, aliou-se com os infiéis para combater os seus, por causas mal determinadas mas que se prendem com a sua ambição de poder. Um filho do defensor foi feito prisioneiro e seu pai viu-se na alternativa de entregar a fortaleza que defendia ou deixar que lhe matassem o filho. O pérfido e desleal castelhano, D.João, cumpriu a ameaça; o jovem cativo foi decapitado e a sua cabeça atirada ao pai por cima das muralhas da cidade. A memória do cobarde infante ficou para sempre desonrada e coberta de ignomínia, não conseguindo, nem mesmo assim, tomar o castelo.
Ao revoltar-se, D.João de Castela refugiou-se em Portugal, de onde passou a Tânger.
O seu filho e sucessor no trono, D.Fernando IV, casou em Portugal, assim como sua filha D.Beatriz, mas já depois da sua morte. Referir-nos-emos a estes casamentos no lugar e momento convenientes.
A rainha viúva, D.Constança de Portugal, ficou com o encargo da regência do reino, por morte deste monarca, pois o herdeiro da coroa tinha apenas cerca de um ano de idade. Revelou ter poucas qualidades para o desempenho de tal função. Cresceu logo o perigo de lutas internas, em guerra civil provocada pelos elementos da nobreza. Morreu também muito jovem, com cerca de vinte e quatro anos, pouco depois de se ter completado um ano sobre a morte do rei, seu marido, que contava vinte e seis anos quando faleceu.
O herdeiro do trono casou mais tarde em Portugal; e sua irmã, D.Leonor de Castela, veio a ser rainha-cônjuge de Aragão, pelo seu casamento com D.Afonso IV, rei deste país.
O rei Eduardo III, da Inglaterra, continuou a pôr em execução a política de aproximação comercial do arquipélago britânico com a Península Ibérica, concedendo facilidades aos marinheiros e comerciantes portugueses e castelhanos. Foram-lhes concedidas grandes vantagens mercantis, sobretudo no porto de Bruges, na Flandres, então sob o domínio dos reis britânicos.
Em consequência da pressão exercida pelos maometanos, as forças dos reis cristãos congregaram-se e derrotaram os infiéis na famosa batalha do Salado, nas margens do rio deste nome; os espanhóis costumam designá-la por batalha de Tarifa.
O povo costuma dizer que "quem com ferro mata com ferro morre" e por vezes tem razão. D.Pedro I foi também assassinado em Montiel por seu irmão bastardo e futuro rei, seu sucessor, D.Henrique de Transtâmara, que vingou desta forma a morte de sua mãe e de seu irmão.
Não devemos, no entanto, fechar-nos numa apreciação estreita e rigorista. Este monarca tinha também grandes qualidades de generosidade, rectidão e espírito de justiça, sendo estimado pelo seu povo. Enquanto criança, sofreu humilhações que lhe foram infligidas por D.Leonor de Gusmão, amante de seu pai, o que ajudou a criar nele um carácter amargo, levando-o a castigar com demasiada severidade, o que estava bem dentro do espírito e dos costumes da época.
Alguns autores dizem que a morte de sua mãe e de seu irmão D.Frederico ou Fradique, às mãos do rei, resolveu este bastardo a lançar-se abertamente no caminho do crime, pois poderia recear bastante pela sua vida, vindo a ter igual sorte!
Durante a Guerra da Independência, fomos auxiliados pelas forças do Duque de Lencastre, que reivindicava para sua mulher direitos ao trono castelhano. Com efeito, D.Constança de Castela, sua esposa, era filha de D.Pedro I, que fora assassinado em Montiel por D.Henrique II. Embora as suas pretensões não chegassem a concretizar-se directamente, conseguiu colocar uma das suas filhas, D.Filipa de Lencastre, no trono de Portugal e outra, D.Catarina de Lencastre, no trono de Castela, pondo para tanto em execução uma hábil política de casamentos. Juntaram-se assim, quanto à coroa castelhana, a linha espúria e a legítima.
Embora o seu reinado esteja incluído inteiramente no período em que Portugal e Castela estavam em guerra, passou-se quase todo sem combates, abrangido por repetidas tréguas. Deveria ter influência no facto a circunstância de estar na corte a irmã da nossa rainha D.Filipa de Lencastre -- que seu pai pensara antes sentar no trono português. Deveria ter algumas das nobres e excelsas qualidades que adornavam o espírito de sua irmã!
D.Henrique III procurou estabelecer nas Canárias um ponto de apoio que permitisse novas empresas guerreiras na África. Foi o que nós fizemos também com a conquista de Ceuta! Os estados peninsulares começavam a olhar com interesse para o mar!
O tratado de paz que pôs fim à Guerra da Independência, travada entre Portugal e Castela, foi assinado em Medina del Campo. Por essa altura falecia o grande D. Nuno Álvares Pereira, o maior herói daquela guerra. O rei castelhano casou com uma sua bisneta.
Pretendem alguns autores espanhóis que neste reinado, em 1449, Vicente Yáñez Pinzón descobriu as costas do Brasil. Esta afirmação é insustentável, sobretudo por antecipar em meio século o descobrimento oficial e porque os monarcas castelhanos não reivindicaram direitos que teriam, se isso houvesse acontecido!
D.Afonso III, rei de Portugal, casou em circunstâncias muito especiais com uma filha de D.Afonso X, rei de Castela, D.Beatriz de Guillen y Gusmão. Nesta altura persistia ainda o casamento com D.Matilde, Condessa de Bolonha. A sua noiva era muito mais nova do que ele, que até era alguns anos mais velho do que seu sogro; a desposada, muito criança ainda, aguardou a idade núbil na corte portuguesa, portanto em poder de seu marido. Referimos isto como curiosidade histórica!
A união matrimonial de D.Afonso III e D.Beatriz foi celebrada por conveniência política, mas sob o aspecto ilegal da bigamia, condenada pelas leis canónicas, tendo sido revalidado passados bastantes anos. Deste casamento nasceu o futuro rei D.Dinis e os seus seis irmãos, entre os quais o infante D.Afonso, que lhe contestou o direito ao trono, pois nascera depois da revalidação do matrimónio, ao contrário de D.Dinis, nascido no período de vigência do consórcio com a Condessa de Bolonha. Era também sua filha deles a infanta D.Branca, que Garrett imortalizou no poema do mesmo nome, com o qual introduziu o romantismo em Portugal.
Uma neta de D.Afonso X, D.Violante Manuel, filha do infante D.Manuel de Castela, casou com o infante português D.Afonso, também seu neto, filho de D.Afonso III, o mesmo que disputou o trono a D.Dinis.
O rei D.Dinis casou, em 1288, com D.Isabel de Aragão, a Rainha Santa. Era filha dos monarcas aragoneses, D.Pedro III e D.Constança da Sicília. Diz-se que lhe foi dado aquele nome por ser o de uma sua tia-avó, Santa Isabel da Hungria.
D.Dinis combinou com os infantes de Aragão, seus cunhados, aí pelo ano de 1296, fazer a conquista e a partilha dos estados sujeitos à autoridade de D.Fernando IV. Foi mais um projecto estulto que ficou sem realização prática!
Numa guerra sem importância especial, D.Dinis favoreceu as pretensões ao trono sustentadas por seu tio D.João de Castela.
Ao assinar-se a paz, conseguimos obter algumas vantagens territoriais; foi daí que nasceu o Tratado de Alcanizes, que nos deu a posse das terras do Ribacoa e das vilas de Olivença, Serpa, Moura, etc.
A rainha de Castela, D.Maria de Molina, que não simpatizava com D.Dinis, fez negociações secretas com diversas individualidades, obrigando o rei de Portugal a preparar os seus exércitos e a mantê-los em pé de guerra, pois receava-se que nos quisessem arrebatar as terras transcudanas, as da margem direita do rio Côa.
Ainda em consequência das negociações relativas ao Tratado de Alcanizes, efectuaram-se dois casamentos reais. O rei D.Fernando IV de Castela casou com D.Constança de Portugal, filha de D.Dinis e da Rainha Santa, D.Isabel de Aragão. E o rei D.Afonso IV de Portugal casou com D.Beatriz de Castela. Daqui se conclui que o rei castelhno era irmão da rainha de Portugal e o rei português irmão da rainha de Castela.
Afirma-se que D.Beatriz trouxe consigo para Lisboa uma jovem toledana de grande beleza, D.Teresa Anes, que veio a ser a inspiradora principal da poesia do conde D.Pedro, filho bastardo do nosso rei D.Dinis, o qual se apaixonou loucamente por ela.
D.Dinis e o seu genro D.Fernando IV assinaram um convénio em que se obrigavam a assegurar que os bens dos Templários não sairiam dos respectivos países. Estava a decorrer o processo que levou à extinção da Ordem do Templo.
Reuniu-se um concílio ou sínodo em Salamanca, em que o caso foi estudado e, depois de conveniente e minucioso exame, chegou-se à conclusão de que os seus membros de Portugal, Castela e Aragão estavam isentos das acusações e crimes que lhes imputavam noutros países da Europa, nomeadamente a França. A Ordem de Cristo foi buscar aqui as suas raízes, como todos sabemos.
O rei D.Afonso XI de Castela casou com D.Maria de Portugal, filha de D.Afonso IV e da rainha D.Beatriz. Trata-se da "formosíssima Maria" celebrada por Camões. Antes, havia combinado o seu casamento com D.Constança Manuel, bisneta de D.Fernando III e neta de D.Jaime II de
Aragão. Visto que este rei aragonês era irmão da Rainha Santa Isabel, D.Constança era sobrinha-neta desta rainha portuguesa; e uma vez que D.Afonso XI de Castela e D.Pedro I de Portugal eram ambos netos de D.Isabel de Aragão, o parentesco era idêntico relativamente a D.Constança. Como toda a gente sabe e como vamos referir, D.Constança veio a ser a desditosa esposa do nosso rei D.Pedro.
D.Afonso XI propusera contrair tal casamento para evitar que um seu inimigo, João-o-Torto, senhor de Biscaia, se aliasse com D.João Manuel de Vilhena y Escalona, pai de D.Constança, de quem, aliás, não gostava igualmente. Mandou matar o primeiro e nunca fez o casamento previsto. Porém procurou por todos os meios ao seu alcance evitar o casamento de D.Constança Manuel com D.Pedro de Portugal. Chegou a propor o reatamento do noivado!
D.Constança e seu pai recusaram, nobre e altivamente, esta nova proposta, coisa rara naquele tempo.
Depois de celebrado o casamento com D.Pedro, D.Afonso XI fez tudo quanto pôde para retardar a sua partida para o nosso País. Chegou a haver actividades bélicas por tal motivo. Foi durante estas lutas que morreu a Rainha Santa, sem conseguir fazer as pazes, ela que sempre procurou harmonizar os desavindos. As intervenções da rainha de Portugal, D.Beatriz, do Papa Bento XIII e de Filipe IV, rei da França, também não foram bem sucedidas. Mas, como diz o povo, "Deus escreve direito por linhas tortas". A pressão exercida pelos mouros obrigou os reis desavindos a fazer as pazes. A noiva pôde então vir para junto de seu marido, D.Pedro, que era também seu parente não muito remoto. Morreu cinco anos mais tarde, após uma vida de dissabores; prende-se com a sua vida íntima o célebre caso de D.Inês de Castro, que consigo veio para Portugal.
Devemos acentuar ainda que contribuiu para acender a guerra entre Castela e Portugal o facto de o rei D.Afonso XI tratar pouco convenientemente a sua esposa, D.Maria, filha do nosso rei D.Afonso IV.
Um irmão bastardo de D.Constança, D.Henrique Manuel, veio com ela para Portugal. Mais tarde, seu sobrinho D.Fernando elevou-o à dignidade de Conde de Seia. Quando surgiu o problema da sucessão, ainda começou por servir o Mestre de Avis, certamente por antipatia por D.Leonor Teles, mas pouco depois passava-se para o partido de D.Beatriz, sua sobrinha-neta.
Obteve importante doação em Sintra, sendo por vezes chamado conde deste título, o que não está certo, não é exacto. O rei castelhano, por sua vez, concedeu-lhe o título de Conde de Montalegre, cuja validade pode ser contestada.
Um dos irmãos de D.Inês de Castro, D.Álvaro Perez de Castro, foi o primeiro Conde de Viana do Minho ou Viana da Foz do Lima. Como teve também o senhorio de Caminha, há quem o chame Conde de Caminha de Riba Minho. Foi igualmente Conde de Arraiolos e desempenhou o cargo de condestável de Portugal.
O primeiro Conde de Barcelos, D.João Afonso Telo de Meneses, casou em Castela com D.Teresa Sanchez, filha bastarda do rei D,Sancho IV. Foi este o primeiro condado territorial que houve no nosso País, depois do Conde D.Henrique e do Condado Portucalense.
A primeira esposa de D.Pedro I de Portugal, D.Branca de Castela, cujo casamento não chegou a consumar-se devido a ter-se manifestado na infanta elevado grau de debilidade mental, era neta do mesmo monarca castelhano, D.Sancho IV.
D.João Afonso, filho natural do rei D.Dinis e de D.Maria Pires do Porto de Gança, que tomou o partido de D.Afonso Sanches contra D.Afonso IV, quando pretendeu arrebatar-lhe a coroa, foi casado com D.Joana Ponce, filha de uma nobilíssima família asturiana. Tendo sido aprisionado pelas tropas do rei, foi julgado e condenado à morte, sob a acusação de alta traição, vindo a ser degolado.
Uma sua irmã, também filha bastarda de D.Dinis, D.Maria Afonso, casou com um fidalgo castelhano, D.João de Lacerda, de quem se ignoram outros dados biográficos.
D.Leonor de Portugal, filha de D.Afonso IV e de D.Beatriz de Castela, portanto irmã do rei D.Pedro I, casou em Barcelona com o rei de Aragão, D.Pedro IV, também seu próximo parente. Foi atacada pela peste, pouco depois do seu casamento, tendo falecido em Exerica. Deixou uma filha, D.Beatriz, que veio para Portugal, tendo falecido com cerca de dez anos de idade.
A infanta D.Maria de Portugal, filha de D.Pedro I e de D.Constança Manuel, casou com o infante D.Fernando de Aragão, Marquês de Tortosa, que era seu parente bastante próximo. O rei D.Pedro IV, de quem acima se fala, mandou matá-lo, traiçoeiramente, no castelo de Boviana. A viúva contava então vinte e três anos de idade. Ficou a residir durante algum tempo em Aragão, onde o seu comportamento escandaloso mereceu graves censuras. Por fim, regressou a Portugal.
D.Dinis, filho de D.Pedro I de Portugal, candidato ao trono com o Mestre de Avis, casou com D.Joana de Castela, filha bastarda do rei D.Henrique II.
D.João, filho de D.Pedro I e de D.Inês de Castro, depois de ter assassinado sua esposa D.Maria Teles, irmã da rainha D.Leonor Teles, retirou-se para a corte de Castela, onde o rei D.Henrique II o acolheu benignamente, chegando a casar com sua filha bastarda, D.Constança.
Voltou a Portugal, integrado nos exércitos que vinham contra nós, no tempo de D.Fernando I. Quando começou a Guerra da Independência, foi preso e metido numa masmorra, onde morreu.
Segundo alguns autores de outrora, deve ter morrido no castelo de Almonacid, em Toledo; outros, porém, sobretudo entre os modernos, inclinam-se para a hipótese de ter morrido em Salamanca. Foi assim tratado devido a ser um dos virtuais pretendentes à coroa de Portugal.
O assassinato de D.Pedro I de Castela lançou o nosso País nos horrores da guerra. D.Fernando acreditou na possibilidade de colocar as duas coroas sobre a sua cabeça. A luta renovou-se por três vezes, mas foi sempre prejudicial a Portugal.
Nos diversos tratados de paz, assinados com Castela, o nosso rei arranjou sempre situações bastante perigosas para a independência nacional.
No Tratado de Alcoutim, comprometeu-se a casar com a filha do rei castelhano, D.Leonor; já antes tinha prometido casar com a infanta D.Leonor de Aragão; por fim veio a casar com D.Leonor Teles.
Daí a razão de frequentemente ser chamado, sarcasticamente, "o rei das três Leonores". Camões tratou-o pior, chamou-lhe "remisso".
No Tratado de Santarém, ficou assente que a irmã de D.Fernando, D.Beatriz de Portugal, casaria com o irmão do rei D.Henrique II, D.Sancho de Castela, Conde de Albuquerque, o que veio a acontecer.
Uma filha ilegítima do nosso rei D.Fernando, D.Isabel de Portugal, casou também em Castela com um filho ilegítimo do rei D.Henrique II, segundo as cláusulas do tratado de paz de 1373. Trata-se de D.Afonso que usou o título nobiliárquico de Conde de Gijón y Noronha. D.Fernando concedeu à sua filha os senhorios de Viseu, Fornos de Algodres, Linhares e Celorico da Beira.
O casamento esteve em risco de ser anulado, devido ao facto de o noivo não estar disposto a consumá-lo; no entanto, os dois cônjuges passaram a fazer vida matrimonial e tiveram numerosa prole, que está na origem de muitas famílias nobres da Espanha e de Portugal.
Um dos seus filhos, D.Pedro de Noronha, ocupou a cadeira arquiepiscopal de Évora e passou daqui para a sede metropolitana de Lisboa, também com o título de arcebispo.
D.Afonso, primeiro Duque de Bragança, tendo ficado viúvo de D.Beatriz Pereira de Alvim, filha do grande D.Nuno Álvares Pereira, contraiu segundas núpcias com D.Constança de Noronha, filha dos Condes de Gijón y Noronha, de quem acabámos de falar. Este matrimónio não teve descendência. D.Constança foi a primeira Duquesa de Bragança, visto que D.Beatriz Alvim nunca usou o título, pois ainda não havia sido concedido; faleceu em idade muito avançada e está sepultada em Guimarães.
O primeiro Conde de Odemira, D.Sancho de Noronha, era também filho dos Condes de Gijón y Noronha. Distinguiu-se pelo auxílio que em 1424 ou 1425 levou a Ceuta. Exerceu papel um tanto antipático no drama de Alfarrobeira.
Era pessoa da confiança de D.Afonso V, que o mandou a Ceuta com o encargo de tentar convencer o infante D.Fernando a regressar ao reino, quando ele levianamente se deslocou para aquela praça do norte de África, sem autorização régia.
O segundo Conde de Vila Real, D.Fernando de Noronha, era também filho dos Condes de Gijón y Noronha, portanto, irmão do prelado de Évora e Lisboa e do Conde de Odemira, respectivamente D.Pedro e D.Sancho. Usou o título por direito de matrimónio, pois sua mulher, D.Brites ou D.Beatriz, era filha do primeiro Conde de Vila Real, D.Pedro de Meneses, e de D.Margarida de Miranda, sua primeira mulher, que não chegou a usar o título.
D.Pedro de Meneses viveu em Castela enquanto durou a Guerra da Independência, desde 1383 até 1411, tendo sido feito Conde de Aguilar e de Aillón. Explica-se isso pelo facto de seu pai, D.João Afonso Telo, Conde de Viana do Alentejo, ter tomado o partido de D.Beatriz. Assinada a paz, voltou a Portugal, onde foi agraciado com o título de Conde de Vila Real. Quando os portugueses ocuparam a cidade de Ceuta, foi nomeado seu governador.
A sequência das referências anteriores levou-nos a avançar cronologicamente, pelo que nos vemos forçados a retroceder, a fim de fazermos menção a factos que não podem nem devem ser omitidos.
O rei D.João I de Castela casou, em segundas núpcias, com D.Beatriz de Portugal, filha de D.Fernando I e de D.Leonor Teles.
Esta infanta havia, primeiramente, sido destinada para esposa de um filho ilegítimo do monarca castelhano, D.Frederico ou Fradique. Foi depois seu noivo o primogénito do mesmo soberano, o futuro rei D.Henrique III.
Combinou-se ainda que casaria com o filho segundo do rei de Castela, o infante D.Fernando. Também esteve para casar com um fidalgo inglês, filho do Conde de Cambridge. E apesar de tantas vezes mudar de noivo, veio a fazer o casamento com menos de doze anos de idade!
Com perspicaz ironia, Mário Domingues comenta, acertadamente, no seu livro "A Vida Grandiosa do Condestável", que "bem cedo aquele pedacinho de carne tenra começa a ser usado como valiosa moeda em negociações"!
O rei D.João I de Castela casou com a infanta portuguesa com a ideia clara de vir a herdar o trono de D.Fernando; na altura do casamento, o monarca lusitano estava já muito doente, vindo a falecer poucos meses depois.
O título de Conde de Ourém ficou, de certo modo, estreitamente ligado às relações portuguesas e castelhanas. O seu primeiro detentor, D.João Afonso Telo de Meneses, era filho de um rico-homem de Castela, Afonso Martins Telo, que foi também importante e influente fidalgo em Portugal.
O segundo Conde de Ourém foi o famoso João Fernandes Andeiro, que o Mestre de Avis executou no paço real de Lisboa. Era natural da Galiza, estando ali casado com uma senhora que se sabe chamar-se D.Mayor, a qual chegou a vir para Lisboa, por sugestão de D.Leonor Teles.
A rainha de Portugal pretendia com a sua presença fechar os olhos e calar as bocas do mundo, em relação ao seu comportamento amoroso com aquele valido.
Apesar de já termos falado no casamento do rei de Castela, D.Henrique III, com D.Catarina de Lencastre, recordamos aqui que se tratava de uma irmã da nossa rainha D.Filipa de Lencastre, o que vem reforçar e apertar ainda mais os laços de parentesco que unem as duas famílias régias, a portuguesa e a castelhana.
O rei D.João II de Castela casou com D.Isabel de Portugal, filha do infante D.João, neta de D.João I e de D.Filipa de Lencastre; aquela senhora era ainda, e ao mesmo tempo, bisneta de D.Nuno Álvares Pereira.
Naquele tempo, os reis de Portugal, a rainha de Castela, a imperatriz da Alemanha (D.Leonor, filha de D.Duarte), Carlos-o-Temerário de Borgonha (filho da infanta D.Isabel, irmã dos "altos infantes"), os pretendentes ao trono de Aragão e ainda outras personagens ilustres e importantes da nobreza europeia eram todos parentes próximos e descendentes do rei D.João I de Portugal.
A propósito do casamento da infanta D.Isabel com o duque Filipe-o-Bom, progenitores de Carlos-o-Temerário, recordaremos que a família real portuguesa teve a sua origem em Borgonha, onde nasceu o Conde D.Henrique, em 1057.
A rainha de Castela, D.Isabel de Portugal, esposa do rei D.João II, perdeu o uso da razão. Segundo alguns escritores, a causa do seu desarranjo mental foi a morte do marido, mas a razão não é convincente.
Sua mãe, de nome igual ao dela, deslocou-se para junto da filha doente e acompanhou-a dedicada e pacientemente enquanto viveu, tendo falecido em Arévalo, no ano de 1465.
Trinta anos mais tarde, falecia também, na mesma localidade, a desditosa rainha castelhana.
D.Duarte, rei de Portugal, casou em 1428 com D.Leonor de Aragão, filha do monarca daquele país, D.Fernando I.
Esta nossa rainha era bisneta de D.Pedro I e D.Inês de Castro, por sua filha D.Beatriz ou D.Brites.
Foi regente do reino por morte de seu marido, o que motivou graves discórdias internas, relacionadas sobretudo com o infante D.Pedro, a figura central do drama de Alfarrobeira, onde morreu ingloriamente.
O rei castelhano D.Henrique IV casou com D.Joana de Portugal, filha póstuma de D.Duarte, pois nascera seis meses após a sua morte. Foi a mãe da famosa "Beltraneja", D.Joana de Castela, também conhecida pela designação de "Excelente Senhora", nome muito mais honroso e dignificante do que aquele.
O nosso rei D.Afonso V aceitou casar com esta sua sobrinha, a fim de juntar duas coroas reais na sua cabeça. Isso nos levou à guerra, de que a batalha do Toro foi o episódio mais conhecido. No final da luta, os Reis Católicos , D.Isabel e D.Fernando, acharam-se solidamente instalados no trono de Castela.
Mais tarde, nas famosas "Terçarias", tratou-se ainda do consórcio de D.Joana de Castela com o príncipe herdeiro dos Reis Católicos, monarcas de Castela e Aragão; mas ela não mostrou nenhuma vontade de fazer esse casamento, preferindo conservar-se na paz e tranquilidade do convento. O Conde de Penamacor, D.Lopo de Abreu, desempenhou importante papel nas negociações tendentes ao casamento de D.Afonso V com sua sobrinha D.Joana de Castela, a "Excelente Senhora" (de que se desinteressou quando deixou de pôr-se a hipótese de vir a ocupar o trono castelhano), sendo agraciado com aquele título nobiliárquico. Casou com uma filha do arcebispo D.Pedro de Noronha, D.Leonor, descendente das duas famílias reais.
Após a morte do marido, esta senhora chegou a passar privações
em Castela, onde residia, pelo que o nosso rei D.Manuel I, sabendo isso,
procurou socorrê-la, mandando que lhe fossem pagas as rendas da vila
de Abiul, próximo de Pombal, na região de Leiria, que recebera
enquanto casada mas que deixara de cobrar, por estarem vinculadas à
coroa.
Depois da morte do Príncipe de Viana, D.Carlos, em 1461, as
cortes catalãs elegeram rei de Aragão o condestável
D.Pedro de Portugal, filho do regente D.Pedro. Era da família real
aragonesa por sua mãe, D.Isabel de Aragão, filha de D.Jaime,
Conde de Urgel, pretendente ao trono daquele reino. Faleceu pouco tempo
depois, sem ter consolidado a sua posição, ficando a reinar
o célebre D.João , pai do Príncipe de Viana. D.Pedro
foi escritor de algum mérito, a quem se atribui a autoria de diversas
obras.
Este segundo capítulo, que abrange um período de cerca de duzentos e vinte anos, é dominado pela supremacia castelhana, em face dos demais países cristãos independentes e reinos mouros autónomos da Península Ibérica.
Continuaram a verificar-se estreitas relações familiares e políticas entre Portugal e Castela, os dois reinos mais influentes das terras hispânicas. Portugal consolidou a sua independência; Castela procurou exercer a hegemonia, agregando a si os países vizinhos, tendendo para a unificação, que por várias vezes se vislumbrou, ora sob o domínio português ora sob a tutela castelhana.
Deu-se início à expansão ultramarina, abrindo novos horizontes ao mundo e alargando desmedidamente o conceito de soberania, cujos frutos vão colher-se no período seguinte, continuando embora as relações de parentesco e vizinhança que vinham de longa data.
Casou com D.Fernando II, rei de Aragão, que na sucessão monárquica castelhana tem a designação de D.Fernando V.
D.Henrique IV desejava que ela casasse com o nosso rei D.Afonso V, então viúvo, e que D. Joana , sua filha, acima referida, se unisse em matrimónio com o futuro rei D.João II. Mas D.Isabel era extremamente voluntariosa e fez o seu casamento com o príncipe aragonês sem dar satisfação ao rei, o que então poucas senhoras nobres se atreveriam a intentar.
No reinado de D.Isabel I e de D.Fernando V, os "Reis Católicos", na denominação corrente, foi conquistada aos mouros a cidade de Granada, afastando os árabes da Península Ibérica e dando um passo importante para a unificação espanhola.
Os Reis Católicos são asperamente criticados por terem expulsado os judeus e por terem introduzido na Espanha o tribunal da Inquisição, no qual a acção religiosa e o poder civil colaboravam e cujos métodos de actuação eram cruéis.
Eles viram os problemas com olhos do seu tempo e não podemos nós apreciá-los e ao seu procedimento vendo-os apenas com olhos do nosso tempo! Cada época tem o seu condicionalismo.
Restringiram muito os privilégios da nobreza, à semelhança do que aconteceu noutros lugares e países europeus. Também estas medidas se prendem de perto com as que se relacionam com os mouros e judeus.
Estabeleceram o absolutismo régio em Espanha, embora ainda sob forma relativamente moderada.
Fundou-se no seu tempo uma instituição designada por "La Santa Hermandad", organismo destinado a perseguir os malfeitores e a assegurar a ordem pública. Segundo alguns autores, sofreu mais tarde a benéfica influência das nossas "Misericórdias", que também são do mesmo período histórico. Ao lado da finalidade repressiva foram colocados os serviços de assistência e o combate à miséria.
Referindo-se aos Reis Católicos, o grande educador espanhol P.André Manjón afirma que foram felizes como monarcas mas desgraçados como pais.
Morreu-lhes o herdeiro do trono, D.João de Castela e Aragão; sua filha D.Catarina fez um casamento infeliz com o célebre Henrique VIII da Inglaterra, sendo a primeira das suas seis esposas; a sucessora no trono, D.Joana de Castela e Aragão, enlouqueceu; e D.Isabel, por duas vezes casada em Portugal, morreu muito jovem, tendo apenas vinte e sete anos de idade, e faleceu também o filho desta, D.Miguel da Paz.
Era filho de D.Maria de Borgonha, filha de Carlos-o-Temerário, neto do nosso rei D.João I por sua filha D.Isabel. O rei-cônjuge de Espanha era ainda bisneto de D.Duarte, cuja filha D.Leonor casara com o imperador Frederico III, de quem nasceu Maximiliano I, seu pai.
A propósito do imperador Frederico III da Áustria, podemos indicar que, apesar de ser considerado um governante medíocre, adoptou a famosa divisa da casa imperial, condensada nas cinco vogais A E I O U, a que se atribui a tradução: AUSTRIA EST IMPERARE ORBE UNIVERSO. A versão para português desta frase latina é: --"Compete à Áustria dominar o mundo inteiro". Atribui-se-lhe ainda outra significação, também em latim, que seria: --AQUILA ELECTA IUSTE OMNIA VINCIT, que significa:--"A águia eleita triunfa de tudo sem contestação". Dá-se também às vogais uma versão alemã, que é esta: --ALLES ERDREICH IST OESTERREICHS UNTERTHAN; a tradução para o nosso idioma poderá ser: -- "Toda a terra está subordinada à Áustria", e que corresponde, realmente, à primeira.
D.Joana, conhecida também por Joana-a-Louca, foi elevada ao trono sobre uma série de mortes na família real espanhola: -- seu irmão D.João de Castela e Aragão; o filho deste, que morreu ao nascer; sua irmã D.Isabel, rainha de Portugal; o filho desta, o príncipe D.Miguel da Paz.
Diz-se que a avó desta rainha, D.Isabel de Portugal, enlouquecera de desgosto pela morte do marido; afirma-se também que D.Joana perdeu a razão ao saber das muitas aventuras amorosas de seu esposo. Estas explicações não convencem ninguém!
Depois da morte de D.Isabel I, ficou a governar o rei-cônjuge, D.Filipe I, que faleceu dois anos mais tarde. Foram também regentes do reino o cardeal Cisneros e o rei- viúvo D.Fernando, pai da infeliz rainha. Por morte deste, tomou conta do poder o herdeiro do trono, seu filho D.Carlos.
Embora na sucessão dos reis castelhanos lhe pertença a designação de D.Carlos I, é mais conhecido por Carlos V, na contagem imperial da Alemanha ou Áustria.
D.Joana I faleceu em 1555. No ano seguinte, seu filho D.Carlos I entrava para o convento de Yuste, onde morreu três anos depois. Diz-se que, ao recolher ao convento, sofreu o desgosto de verificar que o seu neto D.Carlos, filho de D.Filipe e de D.Maria de Portugal, sofria do mal que era herança fatídica da sua família, a debilidade mental. Podemos, realmente, atender a que se sucedem nesta geração os casos de loucura intercalados com outros em que os dotes de inteligência foram excepcionais!
Ao princípio, considerava a Espanha como uma dependência da Flandres, o que lhe causou aborrecimentos.
Teve de enfrentar desordens e revoltas, a principal das quais foi a dos "Comuneros", derrotados na batalha de Villalar, perto de Valhadolid.
Com decisão e boa vontade, D.Carlos I conseguiu integrar-se no modo de ser dos espanhóis, chegando a ser muito estimado e respeitado.
Foi um dos monarcas mais poderosos de todos os tempos. Os domínios espanhóis atingiam uma extensão geográfica quase ilimitada.
Mas não quis que a Espanha e a Alemanha estivessem unidas sob
a mesma coroa. Por isso, abdicou do trono imperial a favor de seu irmão
D.Fernando I e do trono espanhol em favor de seu filho D.Filipe II.
O reinado de D.Carlos I ficou marcado com o célebre assalto
à cidade de Roma. O comandante das tropas imperiais foi morto, e
a soldadesca praticou enormes desatinos, abusos inacreditáveis.
A Cidade Eterna sofreu as maiores afrontas da sua história!
O nosso rei D.Afonso V e os monarcas castelhanos, D.Fernando V e D.Isabel I, assinaram um convénio vulgarmente conhecido por Tratado de Toledo, com o qual se iniciaram as complicadas e morosas conversações , as exigentes actividades diplomáticas que levaram à elaboração do Tratado de Tordesilhas, assinado em Arévalo, no dia 2 de Julho de 1494. A América tinha já sido descoberta por Cristóvão Colombo. Ainda no decorrer do reinado dos Reis Católicos, concedemos definitivamente à Espanha a posse das ilha Canárias, que reivindicávamos sem grande convicção!
D.Isabel de Castela e Aragão, filha dos Reis Católicos, casou por duas vezes em Portugal. Fez o primeiro casamento com o príncipe herdeiro do trono, D.Afonso, que morreu pouco depois, em Santarém, de uma queda de cavalo; casou em segundas núpcias com o rei D.Manuel I, que era tio do primeiro marido. Chegou deste modo a cingir a coroa de Portugal.
Deste matrimónio nasceu um filho, D.Miguel da Paz, que estava destinado a fazer a união política de toda a Península Ibérica, se a morte o não arrebatasse, pois seria o herdeiro do rei de Portugal e também dos de Castela e Aragão. Com o falecimento da mãe e do filho, o sonho da união ibérica desfez-se... Veio a concretizar-se mais tarde!
Esta princesa viveu, em criança, durante quase quatro anos, na vila portuguesa de Moura, com o futuro marido D.Afonso -- e provavelmente também com D.Manuel -- entregues como penhor da paz assinada entre estes países e confiados aos cuidados de D.Beatriz, que era a mãe do rei Venturoso.
Outra filha dos Reis Católicos, D.Maria de Castela e Aragão, veio ocupar o lugar deixado vago por sua irmã, quando faleceu, casando com o monarca português. A numerosa prole de D.Manuel I nasceu toda deste matrimónio.
O rei de Portugal, D.Manuel I, casou ainda com outra princesa espanhola, D.Leonor, filha de Filipe-o-Belo e de Joana-a-Louca, que era sobrinha das suas duas primeiras esposas. O casamento de D.Manuel com D.Leonor deu origem a uma lenda histórica que ainda hoje corre. Disse-se que houve um romance de amor entre ela e o seu enteado D.João , mas os historiadores modernos não o aceitam.
A lenda desses amores teve origem no facto de ele ter sido, primeiramente, o noivo escolhido para aquela princesa; não custa aceitar que a substituição do príncipe herdeiro por seu pai não fosse muito do agrado da jovem esposa, pois D.Manuel I estava nos cinquenta anos enquanto D.João ia completar dezassete e pouco mais novo era do que ela; todavia, aceitou-a sem resistência e talvez sem relutância, uma vez que as conveniências políticas dispunham da sua vida e das suas afeições mais íntimas sem qualquer susceptibilidade.
A mudança de posição nas negociações matrimoniais entre pessoas de ascendência régia não representava novidade nem causava estranheza!
Aquela lenda nasceu já depois da morte do rei D.Manuel. O seu filho e sucessor visitava algumas vezes a rainha-viúva, sua madrasta, e em Lisboa defendia-se até o projecto do casamento entre eles, para evitar a reposição dos valores recebidos em dote. O monarca não acedeu. E o irmão dela, o imperador Carlos V, cuidava já de a colocar no trono francês, pelo seu casamento com o rei Francisco I.
D.João III foi também buscar esposa à Espanha, visto que casou com uma irmã de D.Leonor, aquela que costumamos chamar D.Catarina da Áustria, filha póstuma de Filipe-o-Belo e de Joana-a-Louca.
Esta senhora exerceu profunda influência no nosso País, onde foi regente do reino, na menoridade de seu neto D.Sebastião, interessando-se muito pela fundação da segunda universidade portuguesa, a Universidade de Évora, que os jesuítas estabeleceram nesta cidade.
Atribui-se a D.Joana I de Castela, sob reserva, a iniciativa da erecção de um belíssimo túmulo de alabastro para nele repousarem os restos mortais do seu antepassado Nun'Álvares, seu quarto avô. Este monumento funerário, hoje apenas conhecido por imagens que dele ficaram, foi destruído pelo terramoto de 1755.
O rei de Espanha D.Carlos I, ou seja o imperador Carlos V, filho de D.Joana e de D.Filipe, casou em Portugal com a princesa D.Isabel, filha de D.Manuel I.
Eram ambos netos dos Reis Católicos. A imperatriz D.Isabel governou ainda a Espanha, na ausência de seu marido. Ficou historicamente famosa pela sua beleza. Era também muito devota e modesta na maneira de viver.
Dois filhos deste casal contraíram núpcias no nosso País, com seus primos coirmãos. D.Filipe II, também rei português, casou com D.Maria; D.Joana casou com o herdeiro presumptivo da coroa, D.João. Eram ambos filhos de D.João III e de D.Catarina de Áustria.
D.João e D.Joana são os pais do nosso rei D.Sebastião, que nasceu postumamente em relação ao seu progenitor e por isso foi chamado "Desejado". Desapareceu na batalha de Alcácer Quibir.
Outra filha de Carlos V e de D.Isabel de Portugal, D.Maria de Castela e Aragão, casou com Maximiliano II, filho do imperador Fernando I; eram primos coirmãos entre si. São os pais do cardeal-arquiduque Alberto da Áustria, vice-rei de Portugal e futuro rei da Bélgica.
Fernão de Magalhães realizou a sua célebre viagem de circum-navegação, que ainda hoje é apresentada como uma das provas da esfericidade da Terra.
A Espanha manteve com Portugal uma questão de certa importância, por causa da soberania sobre as ilhas do arquipélago das Molucas. Também surgiram dificuldades em relação à demarcação das fronteiras sul-americanas, especialmente na região do Rio da Prata, o actual Uruguai, e sua capital, Montevideu.
No período que acabamos de percorrer, merecem referência muito especial as relações que existiram entre os Reis Católicos, Fernando e Isabel, e o Duque de Bragança, D.Fernando. Devido à correspondência trocada entre eles, ou pelo menos com base na acusação de tratar assuntos de extrema importância e gravidade, o duque veio a ser preso, julgado, condenado à morte e decapitado em Évora. A sua família, nomeadamente a sua viúva D.Isabel, neta do rei D.Duarte, procurou refúgio em Castela.
O sucessor do decapitado de Évora, D.Jaime, que contava então apenas poucos anos de idade, foi educado em Espanha, sob o patrocínio dos monarcas do país. Ali casou com D.Leonor de Mendonça, filha dos Duques de Medina Sidónia, registando-se nova tragédia com este casal, pois ela veio a ser assassinada pelo marido, sob suspeita de infidelidade conjugal, que nunca foi demonstrada e quase ninguém aceita.
Tinha sido reconduzido na dignidade nobiliárquica e regressado
a Vila Viçosa, no Alto Alentejo, onde a família tinha o seu
solar.
D.Dinis, Duque de Lemos, em Castela, terceiro filho de D.Fernando de
Bragança, usou aquele título devido a ter casado com a sua
detentora, D.Beatriz de Castro. Nada mais sabemos da sua vida.
O curto período abrangido por este capítulo, de menos de um século, tem grande importância nas relações entre Portugal e Espanha, com manifestações bem salientes, em contrastes vivos e enérgicos. Processou-se nesta altura a fase principal da expansão ultramarina, que está na origem de longas negociações e complicados convénios. Vivendo em paz, a diplomacia travou importantes e decisivas batalhas, que se umas vezes terminaram em festas nupciais outras vezes tiveram como epílogo dramas arrepiantes.
Os três reinados de Isabel-a-Católica, Joana-a-Louca e Carlos-o-Imperador abrangem a chamada "idade de ouro" da História de Espanha, que muitos tomaram já como exemplo e como símbolo da grandeza e da glória do seu país, a qual se prolongou ainda pelo reinado do Rei Prudente, D.Filipe II.
Quanto a Portugal, abrange os reinados de D.João II, D.Manuel I, D.João III e D.Sebastião, o período da nossa maior glória e poderio, mas também o do nosso rápido declínio.
Devemos salientar que o engrandecimento da Espanha é posterior ao de Portugal, mas a sua decadência veio também algumas dezenas de anos mais tarde. As duas Histórias seguem linhas quase paralelas, vivendo-se um período de uniões matrimoniais muitas vezes repetidas. Quanto à nobreza, não se nota que houvesse entre os grandes fidalgos ibéricos as relações de convivência que noutros períodos se registaram.
O seu primeiro casamento foi efectuado com D.Maria, filha dos nossos reis D.João III e D.Catarina da Áustria. Sua esposa morreu de parto, quando nasceu o príncipe D.Carlos, de quem já falámos e voltaremos a falar ainda. Pensou-se depois em fazer novo casamento com sua tia D.Maria, filha de D.Manuel I, "A Sempre Noiva", que pouco mais velha era do que ele; não chegou a realizar-se este enlace.
D.Filipe II casou pela segunda vez com a rainha Maria Tudor, da Inglaterra. Fez o terceiro casamento com Isabel de Valois, filha do rei da França. A sua quarta esposa foi a sua sobrinha D.Ana Maria da Áustria, filha do imperador Maximiliano II. Pode dizer-se que nenhuma delas foi rainha de Portugal, visto que a última faleceu em Outubro de 1580.
Sua filha D.Isabel Clara Eugénia, infanta de Espanha e de Portugal, esteve para casar com o rei D.Sebastião. Veio, finalmente, a contrair matrimónio com o vice-rei de Portugal, o cardeal-arquiduque Alberto da Áustria. Este casamento efectuou-se pouco depois da morte de Filipe II. Seu marido tinha governado o nosso País de 1583 a 1593.
D.Filipe II mostrou-se contrário ao casamento de sua filha com D.Sebastião. Segundo alguns autores, pensava nos frutos doentes de casamentos entre parentes próximos da sua família, muitas vezes repetidos. Isso, porém, não convence, pois D.Isabel Clara Eugénia casou com um príncipe da sua parentela; eram filhos de irmãos, Filipe e Maria, e de primos coirmãos, Filipe e Maximiliano. E ele mesmo fez o seu quarto casamento com uma sobrinha!
Pensou-se ainda no casamento de seu filho D.Diogo com uma das filhas dos Duques de Bragança, D.Maria. O plano tinha a vantagem de unir os direitos dos dois príncipes pretendentes ao trono português numa só família. Estes projectos não se concretizaram. O mesmo príncipe, D.Diogo, chegou a ser jurado herdeiro do trono de Portugal, mas faleceu pouco depois de seu pai cingir a coroa. Contava sete anos de idade.
O príncipe D.Carlos, filho de D.Filipe e de D.Maria de Portugal, é o mesmo que seu avô, o imperador Carlos V, visitou antes de entrar para o convento e no qual reconheceu francos sinais de diminuição mental. Parece ter morrido tuberculoso. A sua vida irregular e os desmandos a que se entregou apressaram-lhe talvez a morte.
Esta figura da História da Espanha foi aproveitada pelos poetas, dramaturgos e romancistas que pretenderam denegrir o rei, dizendo que ele o não estimava, o perseguia e o maltratava. Foi também assunto repetidas vezes utilizado para combater o funcionamento da Inquisição. Quanto ao rei, nota-se a má-fé e o exagero, algumas vezes a ignorância; quanto à Inquisição, tem bastante matéria incriminativa e bem pode dispensar aleivosias!
D.Filipe II sustentou uma guerra contra a França por este país recear que um hipotético filho do rei da Espanha e de Maria Tudor (de cujo matrimónio não houve descendência) chegasse a ser rei comum da Inglaterra, Espanha e Países Baixos, então sob o domínio da coroa espanhola. Até parece que os governantes não sabem nem querem resolver dificuldades e divergências a não ser pela força!
Maria Tudor era filha de Henrique VIII e de Catarina de Castela e Aragão. Foi nesta guerra que se travou a célebre batalha de S.Quintino. Pelo Tratado de Château-Cambresis, em que se assinou a paz, estipulou-se que D.Filipe II, viúvo pela segunda vez, casaria com a filha de Henrique II da França, Isabel de Valois. Foi deste matrimónio que nasceram as famosas princesas D.Isabel Clara Eugénia e D.Catarina Micaela.
Para comemorar a batalha e vitória de S.Quintino, D.Filipe II mandou construir o mosteiro do Escurial. A primeira pedra do grandioso edifício foi colocada no dia 23 de Abril de 1563; a sua construção arrastou-se até 13 de Setembro de 1584.
No mesmo dia e mês, mas catorze anos mais tarde, falecia ali o seu fundador; a consagração da basílica só havia sido efectuada no dia 30 de Agosto de 1595.
D.João da Áustria, filho bastardo do imperador Carlos V, portanto irmão do rei D.Filipe II, ganhou a famosa batalha de Lepanto.
Em 1587, os ingleses em luta contra a Espanha, incendiaram a esquadra espanhola fundeada no porto de Cádis. O rei organizou então a célebre "Armada Invencível", de que fazia parte a frota naval portuguesa. Foi destruída pelos temporais, pela astúcia do almirante britânico e pela incompetência do chefe espanhol, o Duque de Medina Sidónia.
Os Países Baixos revoltaram-se contra o jugo espanhol, que detestavam. As divergências de mentalidade e as diferenças religiosas manifestaram-se com tal vigor que se formaram dois blocos. Ambos conseguiram a independência, tendo a parte norte formado a Holanda, república protestante, e a parte sul constituído a Bélgica, monarquia católica. Os primeiros soberanos belgas foram o cardeal-arquiduque Alberto da Áustria e sua esposa D.Isabel Clara Eugénia.
Muito se tem escrito acerca da personalidade e da política de D.Filipe II. A maior parte desses escritos foram ditados pelo ódio ou pela má-fé. Para começar, temos o caso de seu filho, o príncipe D.Carlos. Nunca se fez completa luz sobre este enigmático processo, todavia, não devemos condenar o rei sem apelo...
Quanto ao mais, encontraremos sempre uma razão, política ou religiosa, para explicar as calúnias que foram postas a correr e, uma vez ou outra, também os louvores exagerados que lhe dedicaram escritores pouco exigentes. Por vezes é difícil manter o equilíbrio e a sensatez!
Filipe II fez a sua política, certamente a que julgou ser a mais apropriada àquele momento histórico. Nós, portugueses, não podemos esquecer que o neto de D.Manuel I defendeu o que julgou serem os seus direitos naturais. Defendeu energicamente os seus interesses, pessoais e nacionais. Em face das normas jurídicas em vigor no seu tempo, tinha mais direitos do que o Prior do Crato; talvez se não possa dizer a mesma coisa em relação a D.Catarina, Duquesa de Bragança, mas os contemporâneos tiveram as suas razões para se não baterem por ela... Historicamente, D.Filipe II é rei de Portugal. Hoje apreciamo-lo muito diferentemente de como o foi há cem ou duzentos anos... Pesam-se os seus defeitos e as suas qualidades, pois teve pecados e virtudes.
Disputou o trono de Portugal ao lado de D.Filipe, do Prior do Crato e da Duquesa de Bragança, após o falecimento do cardeal-rei D.Henrique, o Príncipe de Parma, Rainúncio, que alegava pertencer-lhe mais do que a qualquer outro pretendente, pelo privilégio da progenitura e da varonia.
Era filho de Maria de Bragança e Guimarães, neta de D.Manuel I por seu pai D.Duarte. A sua candidatura não foi levada em consideração nem ele a defendeu como quem depositasse alguma esperança de vencer, segundo os direitos que dizia reunir!
D.Maria era irmã de D.Catarina de Bragança e mais velha do que ela.
A quarta Condessa de Portalegre, D.Filipa da Silva, casou em Espanha com D.João da Silva, Conde de Salinas, que era também de ascendência portuguesa, por sua mãe, dama de honra da imperatriz D.Isabel de Portugal, esposa de Carlos V.
O primeiro Conde de Vila Flor e único na sua família, D.Luís Enriquez, era filho dos Condes de Alba de Liste. O título continuou a ser usado em Espanha, na sua descendência, tendo-se unido ao espanhol.
O segundo Duque de Aveiro, D.Jorge de Lancastre, casou em Espanha com D.Madalena Girón, filha dos Condes de Ureña e irmã do Duque de Ossuna.
Deste casamento nasceu apenas uma menina, D.Juliana de Lancastre, que veio a casar com seu primo D.Álvaro, resolvendo-se deste modo um pleito de sucessão, que alguns diziam não poder verificar-se na descendência feminina.
Dos seus numerosos filhos, um deles usou o título espanhol de Marquês de Malagón, D.Luís de Girón y Lancastre.
O quarto Duque de Aveiro, D.Raimundo de Lancastre, recebeu também o título honorífico espanhol de Duque de Ciudad Real, tendo-se passado para este país, traindo a pátria, pelo que foi julgado, condenado à morte e executada a sentença em efígie, sendo-lhe confiscados os seus bens.
Em Espanha, foi ainda Duque de Maqueda, Marquês de Montemayor e Marquês de Elche.
A sexta Duquesa de Aveiro, D.Maria de Guadalupe de Lancastre, recebeu o título por sentença judicial, com a condição expressa de regressar a Portugal e prestar homenagem ao nosso rei. Casou em Espanha com D.Manuel Ponce de León, Duque de Arcos.
Esta senhora era dotada de excepcionais qualidades artísticas, sendo pintora de certo valor e escritora com bastante mérito. Para poder vir tomar conta da sua casa, teve de separar-se do marido, que não quis deslocar-se e fixar-se em Portugal.
O sétimo Duque de Aveiro, D.Gabriel de Lancastre Ponce de Léon, filho dos anteriores, usou também o título espanhol de Duque de Baños, que lhe foi concedido com a intenção de o prender a Madrid; este estratagema não deu resultado, pois ele acabou por se fixar entre nós.
Queremos chamar a atenção para o facto de as referências aos Duques de Aveiro avançarem bastante no tempo, atingindo os meados do século XVIII.
D.Filipe III casou com D.Margarida da Áustria, também conhecida por Margarida de Gratz ou Graetz. Apesar da semelhança do nome, a sua esposa não era a pressuposta "noiva" de Filipe II. Na mesma ocasião, celebrou-se também o casamento de D.Isabel Clara Eugénia, de quem já falámos. O seu pai e antecessor tinha falecido poucos meses antes.
Este rei apoiou decididamente a causa da canonização da rainha Santa Isabel, que se celebrou já no reinado seguinte, em 1625.
Um escritor espanhol afirmou que mais parecia um frade do que um rei. Esta observação é muito curiosa, sobretudo por vir exactamente de um eclesiástico.
Os espanhóis chamaram-lhe "Apático", enquanto os portugueses lhe deram o epíteto de "Pio"; os dois cognomes completam-se e definem a sua personalidade.
Decretou a expulsão dos mouros de Castela e outros estados sujeitos ao seu domínio. Já nos reinados anteriores haviam sido forçados a disseminar-se pelos reinos de Castela, Galiza e Andaluzia. Procurou-se desta forma diminuir a densidade da população mourisca na região de Granada, onde mais de uma vez se manifestaram tendências separatistas, o desejo da independência. Podemos notar que, tendo tomado medidas semelhantes, não deixou atrás de si um rasto de ódio, como os monarcas que o antecederam.
Afirma-se que D.Filipe III, ao visitar Portugal, em 1619, quis ver touradas e autos-de-fé. Custa aceitar esta informação. Estes espectáculos eram bem conhecidos na Espanha. Não seriam as autoridades portuguesas que, para o lisonjear, elaboraram o programa da visita de forma a incluir tais funções!? Isso apenas nos indica gosto pouco apurado, tanto de um lado como do outro!
Mandou colocar na basílica do Escurial as famosas estátuas orantes, que representam seu avô Carlos V e seu pai Filipe II. São grupos escultóricos de grande beleza que podem ser admirados na capela-mor daquele templo. Enriqueceu a biblioteca deste mosteiro com mais de quatro mil manuscritos. E iniciou as obras do monumental panteão real.
O herdeiro do trono casou com D.Isabel de Bourbon, filha do rei Henrique IV da França. O príncipe herdeiro do trono francês casou com a princesa D.Ana Maurícia, conhecida na História pelo nome de Ana da Áustria.
Esta infanta da Espanha e de Portugal não se dava bem com o marido, Luís XIII da França, e chegaram a estar separados durante bastantes anos. Só depois da reconciliação do casal nasceu o sucessor do trono, o futuro rei Luís XIV. Na menoridade deste, governou ela a França, na qualidade de regente; afastou os partidários do cardeal Richelieu e entregou os negócios públicos nas mãos do cardeal Mazarino.
Outra princesa de Espanha e de Portugal, D.Maria Ana, casou com o imperador da Alemanha, Fernando III. E o infante português e espanhol D.Fernando exerceu durante alguns anos as funções de Cardeal-Legado, em Lisboa.
S.Francisco de Borja, o conhecido superior-geral da Companhia de Jesus, fez o seu casamento com D.Leonor de Castro, de nacionalidade portuguesa. O famoso jesuíta usava os títulos de Marquês de Lombay e de Duque de Gandia. Residiu bastante tempo em Portugal, onde passou os últimos meses da sua vida. Morreu em Roma.
D.Filipe III concedeu o título de Conde de Ficalho a D.João de Borja, filho de S.Francisco de Borja e de sua esposa, D.Leonor de Castro. Em Espanha era ainda Conde de Mayalde. Casou em primeiras núpcias com D.Lourença de Oñaz y Loyola, sobrinha de S. Inácio. Foi embaixador do rei de Espanha em Lisboa, onde estava pelo ano de 1576, quando fez o seu segundo casamento com D. Francisca de Aragão, da família real aragonesa, pois descendia do rei D.João II, daquele país.
Três filhos do Conde de Ficalho e de sua segunda esposa foram titulares espanhóis: --D.Francisco usou o título de Príncipe de Esquilache; D.Fernando foi Comendador-Mor de Montesa; D.Carlos ascendeu a Duque de Villahermosa.
O segundo Conde de Ficalho, que foi D.Carlos de Aragón y Borja, agora referido, casou com D.Maria de Aragón y Guerrea, filha dos Duques de Villahermosa e Condes de Ribargorza.
O terceiro Conde de Ficalho, D.Fernando de Guerrea Aragón y Borja, foi também Duque de Villahermosa. Casou com D.Luísa de Aragón, Condessa de Luna; e, depois da morte desta senhora, contraiu segundas núpcias com D.Maria da Silva, viúva do Conde de Sinarcas, Visconde de Chelva, Barão de Sat y Quartell, filha dos Marqueses de Orani.
Finalmente, o quarto Conde de Ficalho, D.Carlos de Aragón Borja Alagón y Guerrea, foi Duque de Villahermosa, Conde de Luna e de Sástago, Barão de Pedrola, Ersa e Pina. Era filho do primeiro casamento do terceiro conde. Matrimoniou-se com D.Maria Henriquez de Guzmán, filha dos Condes de Alba de Liste.
Devemos esclarecer que as referências a esta família se estendem no tempo, atingindo o final do século XVII.
São Francisco de Borja, tronco da Casa de Ficalho, foi outrora invocado como padroeiro secundário de Portugal, que agora é Santo António, e festejado a 10 de Outubro. A padroeira principal é Nossa Senhora da Conceição, representada pela imagem de Vila Viçosa.
A Condessa da Feira, D.Joana Forjaz Pereira de Meneses e Silva, casou com o fidalgo espanhol D.Manuel Pimentel, governador de Antuérpia e filho dos Condes de Benavente e Mayorga. Depois de viúva, regressou a Portugal com os seus filhos.
O Marquês de Alenquer, D.Diogo da Silva e Mendonça, usou também os títulos espanhóis de Conde de Salinas de Ribadeo e Duque de Francavilla.
Em 1615 foi nomeado vice-rei de Portugal, porém, a Câmara de Lisboa protestou tão energicamente contra esta nomeação que não tomou conta do cargo. Dizia-se, para justificar a atitude da vereação lisboeta, que embora tivesse nascido em Portugal não era português, pois estava profundamente espanholizado.
Em 1617, o monarca impôs que tomasse conta do lugar, concedendo-lhe nessa altura aquele título nobiliárquico.
O seu governo foi desastroso para o País, tendo sido substituído só depois da morte do rei.
O Conde de Arcos, D.Luís de Lima Brito e Nogueira, casou em Espanha com D.Vitória de Cadaillac, filha do Barão de La Chapelle Marival, descendente dos reis castelhanos, pelo ramo de Bourbon-Malause
O terceiro Conde de Tentúgal, D.Nuno Álvares Pereira de Melo, casou com D.Mariana de Castro, dama das infantas D.Isabel Clara Eugénia e D. Catarina Micaela, filha dos Condes de Altamira.
E o quarto Conde de Tentúgal e terceiro Marquês de Ferreira, D.Francisco de Melo, casou com sua prima D.Maria de Moscoso Sandoval, filha dos Condes de Altamira, em Espanha. Tendo enviuvado, contraiu segundas núpcias com sua sobrinha D.Joana Pimentel, filha do Marquês de Tavara e vice-rei da Sicília e Valença, D.António Pimentel.
Tendo enviuvado, em 1644, contraiu segundo casamento, agora com sua sobrinha D.Maria Ana da Áustria, filha de Fernando III e de D.Maria Ana de Espanha. Deste matrimónio nasceu o sucessor da coroa.
Uma filha de D.Filipe IV, D.Maria Teresa, infanta de Espanha e de Portugal, casou com Luís XIV da França. A sua vida matrimonial foi marcada por dissabores, pois seu marido entregava-se descaradamente a contínuas aventuras amorosas. Um neto do casal, Filipe de Anjou, ocupou o trono espanhol depois da Guerra da Sucessão, como veremos mais adiante.
Outra filha de D.Filipe IV, D.Margarida Maria Teresa, casou com o imperador Leopoldo I da Áustria. São os pais do outro pretendente ao trono, o arquiduque Carlos, que baseava as suas aspirações no facto de sua tia ter renunciado aos direitos à coroa.
No tempo deste monarca, os holandeses começaram a atacar o Brasil, onde ocuparam Pernambuco, Baía e outras terras do litoral. O almirante espanhol António Oquendo defendeu corajosamente as terras brasileiras, ao lado de outras figuras de nacionalidade portuguesa.
Angola sofreu também alguns assaltos, embora a ocupação de Luanda e Benguela pelos flamengos se efectuasse já no reinado de D.João IV.
A Revolução de 1 de Dezembro de 1640 afastou este soberano do trono de Portugal. Não vamos referir-nos ao facto, por desnecessário.
Depois da sua elevação ao trono, o rei D.João IV ainda tentou fazer as pazes com Filipe IV, propondo o casamento de seu filho D.Teodósio com a infanta D.Maria Teresa, futura rainha da França. A sugestão foi repelida.
As grandes batalhas da Guerra da Restauração -- Elvas, Ameixial, Castelo Rodrigo e Montes Claros --foram todas travadas ainda neste reinado.
D.Filipe IV colocou o governo dos seus estados nas mãos do Conde-Duque de Olivares, que se comportava como ditador e cometeu graves erros de administração; os seus desregramentos contribuíram para que a Catalunha e Portugal se revoltassem. Manejava o soberano ao seu arbítrio e procurava sujeitar todos os elementos aos seus caprichos, inclusive a própria rainha. A sublevação da Catalunha e a independência de Portugal puseram em evidência os erros da sua administração e passou a ser considerado culpado da ruína e decadência da Espanha.
D.Filipe IV foi designado pelos historiadores espanhóis, depreciativamente, pelo cognome de "Alegre"; em Portugal, é chamado "Grande", havendo também quem lhe chame "Opressor". O P.André Manjón escreveu a seu respeito que, quando morreu, andava a aprender a governar bem!...
O Marquês de Porto Seguro, D.Afonso de Lancastre, permaneceu em Espanha depois da restauração da nossa autonomia política, em 1640, conservando-se fiel a D.Filipe , que o cumulou de mercês. Casou com D.Ana de Sande Padilla y Bobadilla, Marquesa de Valdefuentes. Ele teve também os títulos de Marquês de Sardoal e Duque de Abrantes, que não foram reconhecidos em Portugal, apesar de se referirem a designações portuguesas. Depois de viúvo, tomou ordens sacras. O título português de Marquês de Porto Seguro continuou a ser usado pelos seus filhos, em Espanha, embora não fosse reconhecido no nosso País; referia-se à cidade desse nome, no Brasil.
D.Cristóvão Luís Guilherme, neto do pretendente ao trono de Portugal, em 1580, D.António, Prior do Crato, recebeu de D.Filipe IV o título de Marquês de Trancoso, em 1653, portanto muito depois da restauração da nossa independência. Nunca teve validade em Portugal. Referimo-nos a ele apenas por curiosidade histórica.
Podemos registar ainda que D.Manuel de Portugal, filho do Prior do Crato, casou em segundas núpcias com uma senhora espanhola, D.Luísa Osório, dama de honor de D.Isabel Clara Eugénia. Era, como os demais irmãos, de filiação ilegítima, visto que D.António nunca contraiu matrimónio, engendrando filhos de diversas mulheres.
Salientemos ainda que a numerosa descendência deste efémero rei de Portugal manifestou acentuada tendência religiosa, católicos uns e calvinistas outros.
O terceiro Conde de Tarouca, D.Duarte Luís de Meneses, seguiu também o partido da Espanha, contra o rei D.João IV, tornando-se mais acérrimo adversário depois da conspiração de 1641 e repressão política que se lhe seguiu. Recebeu do monarca espanhol o título de Marquês de Penalva, que nunca foi aceite entre nós.
Seu filho, D.Luís de Meneses, sucedeu-lhe no uso daquela dignidade nobiliárquica, e casou com D.Francisca Henriquez, filha dos Marqueses de Oropesa, tendo mais tarde contraído segundas núpcias com D.Luísa Ximenez de Gôngora, Marquesa de Almodovar e Condessa de Pinar, da nobreza espanhola.
D.Jorge de Lancastre, terceiro Marquês e primeiro Duque de Torres Novas, contraiu casamento por duas vezes e ambas em Espanha. A sua primeira esposa foi D.Ana Dória Colonna, filha do Príncipe de Melfi e da Princesa de Paliano; a sua segunda mulher veio a ser D.Ana Manrique de Cárdenas, filha dos Duques de Maqueda.
O Duque de Caminha, Conde de Alcoutim e Valença, e ainda Marquês de Vila Real, D.Miguel Luís de Meneses, casou em segundas núpcias com sua sobrinha D.Maria Brites de Meneses. Esta, depois de viúva, veio a casar em Espanha com D.Pedro Portocarrero, Conde de Medellin, que também usou a denominação de Duque de Caminha, embora nunca chegasse a ser reconhecida em Portugal.
O Conde de Castelo Novo, D.Francisco Mascarenhas, casou em Espanha com D.Luísa Antónia de Velasco, filha dos Condes de Sástago, sendo já viúva do Conde de Salazar. Morreu em luta contra os mouros, numa sortida efectuada em Mazagão, de que era governador. A praça, surpreendida por um ataque inimigo, foi corajosamente defendida pela varonil senhora, que assumiu o comando das tropas e a chefia do governo até chegar o sucessor de D.Francisco Mascarenhas.
O Conde de Óbidos, D.Vasco Mascarenhas, que deu o nome a uma conhecida zona portuária de Lisboa, a "Rocha do Conde de Óbidos", onde mandou construir o seu palácio residencial, casou em Espanha com D.Jerónima de la Cueva y Mendonza. Deste enlace nasceu D.Joana Mascarenhas, que casou também em Espanha com o Conde de Montijo, D.António de Luna Portocarrero. Os seus sucessores continuaram a usar indevidamente o título, a que juntaram o de Marquês de Castro Fuerte.
O Conde de Linhares, D.Miguel de Noronha, que antes tinha servido exemplarmente o seu País, não aceitou a restauração da nossa autonomia na pessoa de D.João IV, continuando fiel ao rei de Espanha, que o nomeou general das galés (na Sicília e na Espanha), e o elevou à dignidade de Marquês de Gijón e Duque de Viseu.
Finalmente, vamos referir-nos à família próxima do nosso rei D.João IV. Este, enquanto Duque de Bragança, casou com D.Luísa Francisca de Gusmão, filha dos Duques de Medina Sidónia.
A notável senhora possuía grandes qualidades, tendo influído favoravelmente no ânimo de seu esposo, apoiando-o e entusiasmando-o. Descendia de D.João I e de D.Fernando I de Portugal, e de D.Henrique II de Castela, além de outros.
O pai deste monarca, D.Teodósio, sétimo Duque de Bragança, casou igualmente em Espanha, com D.Ana de Velasco, filha do condestável de Castela, Duque de Frias, Marquês das Berlengas e Conde de Haro.
D.Serafina de Bragança, tia de D.João IV, casou com o
Duque de Escalona e Marquês de Vilhena, D.João Fernandez Pacheco.
E outro tio do nosso rei, D.Duarte de Bragança, foi Marquês
de Frechilla, em Espanha, onde casou com duas titulares deste país;
o seu primeiro casamento foi com D.Brites de Toledo Monroy y Ayala, Marquesa
de Jarandilla; contraiu segundas núpcias com a Marquesa de Malagón,
D.Guiomar Pardo y Tavara.
Não deve surpreender-nos o facto de muitos nobres portugueses casarem em Espanha, no período em que as duas coroas estiveram unidas. A corte atraía muitos membros da aristocracia, que por vezes tinham ali missões a desempenhar. Assim se estabeleciam conhecimentos e relações que estão na base de futuros enlaces matrimoniais.
Também não deve surpreender-nos que muitos nobres portugueses continuassem fiéis ao rei D.Filipe IV, mesmo depois de Portugal ter sacudido o jugo espanhol. O sentimento nacional, ao tempo, ainda se confundia com a fidelidade ao soberano. Grande número de fidalgos tinha interesses familiares e económicos na Espanha, e quase sempre estes valores pesam sobre a conduta dos seus detentores...
Nem toda a nobreza nacional se tinha comprometido com a conjuração de 1640, dando-se o caso de haver até quem não fosse partidário de D.João IV. Sessenta anos antes, a Duquesa de Bragança, D.Catarina, também não congregara à sua volta a grande maioria dos portugueses. E sessenta anos é período insuficiente para a mudança de mentalidades, sobretudo num tempo em que a evolução se fazia em ritmo moderado...
Nós vemos os acontecimentos a mais de trezentos e cinquenta anos de distância, e não devemos deixar-nos arrastar pelas paixões que se justificariam no momento mas que hoje são insustentáveis e inaceitáveis. Os nossos antepassados não pediram a nossa opinião para regularem por ela o seu procedimento e o pensamento dos nossos descendentes também não coincidirá perfeitamente com a nossa mentalidade!
Este rei possuía fracas qualidades de governante, tendo sido uma sorte que a regência estivesse noutras mãos. Tinha temperamento muito difícil, estando próximo da loucura. Depois da sua morte, entrou-se na Guerra da Sucessão da Espanha, em que Portugal tomou parte activa. Os pretendentes ao trono eram Filipe de Anjou, seu sobrinho-neto, filho de Luís, o Grande Delfim, e neto de sua irmã D.Maria Teresa, o qual tinha como opositor o neto de D.Filipe IV e seu sobrinho, filho do imperador Leopoldo I e de D.Margarida Maria, o arquiduque Carlos da Áustria.
Filipe de Anjou foi reconhecido como rei da Espanha em virtude de o arquiduque Carlos ter sido aclamado imperador, por morte de seu irmão, pois não convinha às grandes potências europeias restaurar o império de Carlos V. A guerra terminou pelo Tratado de Utreque, mais tarde confirmado pela Paz de Rastadt.
Foi durante a Guerra da Sucessão da Espanha que os ingleses ocuparam o morro de Gibraltar e nunca mais o entregaram aos espanhóis. Os Países Baixos aumentaram a sua autonomia; a autoridade da Espanha era simplesmente nominal, não tinha valor real, carecia de influência efectiva.
A primeira esposa deste monarca, D.Maria Luísa de Sabóia, foi o seu anjo bom. O tempo que viveu com ela foi, segundo quase todos os autores, o mais feliz da sua vida. Casou depois, em segundas núpcias, com D.Isabel Farnésio, que dominou os acontecimentos políticos da Espanha. O rei não era dotado de qualidades excepcionais e chegou a ser preciso haver um regente, por se lhe ter turvado a razão. Contam-se entre eles a rainha D.Isabel Farnésio e o político José Patiño y Rosales.
Em certa altura, abdicou em seu filho D.Luís, aí pelo ano de 1724, resolvendo abandonar a governação; porém, a morte prematura do jovem rei obrigou-o a voltar a interessar-se pelos assuntos da administração pública. O malogrado monarca costuma ser incluído na lista dos reis espanhóis sob o nome de D.Luís I. No tempo de D.Filipe V (cujo reinado corresponde, na prática, ao do nosso rei D.João V) a Espanha levantou-se da letargia em que tinha caído e começou a progredir, sob diversos aspectos. Deu-se também grande desenvolvimento à difusão da cultura e à instrução, tal como sucedeu em Portugal, usando os mesmos métodos e processos, a fundação das Academias de História, Língua e Medicina.
Uma neta de D.Filipe V e de D.Isabel Farnésio, D.Maria Teresa de Bourbon y Vilabriga, veio a casar com o famoso Príncipe de Paz, D.Manuel de Godoy, a quem foi concedido o título e a dignidade nobiliárquica de Conde de Évora Monte. Vamos referir-nos a esta família no lugar e na altura próprios.
Elevou a Espanha a um grau de prosperidade relativamente alto. Protegeu as ciências, as artes e a marinha. Foi chefe prestigioso e competente; soube rodear-se de pessoas honestas e de valor. Governou em paz, e por isso foi chamado "Pacífico". Recusou-se a todo o custo a entrar nas actividades bélicas da Guerra dos Sete Anos, para que a política europeia queria arrastá-lo.
A morte de sua mulher, D.Maria Bárbara de Bragança, que ele amava com ternura pouco vulgar em cônjuges reais, abateu-lhe o ânimo de tal maneira que entrou numa espécie de obsessão, muito próxima da monomania. Morreu um ano depois de ter enviuvado. O grande pedagogo espanhol P.André Manjón escreveu dele que "morreu cedo porque o que é bom dura pouco". É o maior elogio que pode fazer-se-lhe!
Foi grande impulsionador da cultura. Fundaram-se neste reinado a Biblioteca Nacional de Madrid, o Observatório Astronómico, o Jardim Botânico, o Seminário dos Nobres, o Conservatório de Música e Declamação, a Escola Pia, a Academia Latina, o Museu de Ciências Naturais, a Academia de Belas Artes -- que foi o antecedente do actual Museu do Prado, fundado mais tarde por D.Maria Isabel de Bragança, filha do nosso rei D.João VI. A cidade de Madrid foi provida com um sistema de esgotos e as suas ruas pavimentadas.
No tempo do rei D.Carlos III fundou-se o Vice-Reinato do Rio da Prata, na América do Sul, causa futura de algumas perturbações diplomáticas entre os nossos dois países. Em 24 de Março de 1778, assinou-se o Tratado do Prado, que restabelecia as boas relações entre as duas cortes, de Lisboa e Madrid, pouco cordiais até então. Este convénio ficou a dever-se à benéfica influência da rainha D.Mariana Vitória, viúva de D.José , que depois da morte do marido se retirou para o seu país de origem, sem deixar de se interessar pelos problemas referentes a Portugal. Por este tratado, a Espanha garantiu a posse das ilhas de Fernando Pó e Ano Bom, que já no Tratado de Santo Ildefonso tinham sido consideradas como pertencentes à Espanha.
Sob a inspiração do Conde de Aranda, o rei D.Carlos expulsou os jesuítas do território espanhol. Imitou nisso o, nosso Marquês de Pombal! O respectivo decreto foi aplicado com um cinismo repugnante! Aproveitando a conhecida "Revuelta de los Sombreros", foram enviadas em que se determinava que os colégios da Companhia de Jesus fossem cercados e todos os seus membros presos em data definida. A ordem estava selada e devia ser aberta apenas em dia de antemão estabelecido. Os jesuítas aprisionados seriam enviados para os Estados Pontifícios, destinados ao porto de Civita Vechia. As condições em que a viagem era feita tinham muito de desumano, tendo morrido bastantes religiosos no trajecto para a Itália ou nos cárceres em que foram recolhidos.
A expulsão dos jesuítas foi prejudicial ao progresso do país, sobretudo quanto ao ensino. D.Carlos III colaborou com outros soberanos nas negociações que levaram extinção da Companhia de Jesus, tendo conseguido este objectivo depois da morte do Papa Clemente XIII, fazendo com que fosse eleito um Pontífice favorável à ideia da extinção, Clemente XIV. Mas a vitória não foi definitiva, visto que alguns anos mais tarde a famosa congregação voltou a ser restaurada.
A História da Espanha dá ao rei D.Carlos III o nome de "Contraditório", pois, como afirma o tantas vezes citado P.André Manjón, "sendo piedoso, inspirou-se na Maçonaria; amando a Espanha, sacrificou-a aos interesses da sua família; tendo-se por honrado, dispôs da liberdade e da fazenda dos cidadãos como o faria um sultão da Turquia".
A Espanha intrometeu-se demasiadamente nos negócios políticos da França, umas vezes pela Monarquia e outras vezes pela República. A política dúbia de Manuel Godoy levou-nos à guerra, provocando as invasões francesas.
Em 1801, a Espanha ocupou a cidade de Olivença, então portuguesa, que nunca mais voltou ao nosso domínio, o que foi previsto no Tratado de Paris e na Conferência de Berlim.
O príncipe herdeiro, futuro D.Fernando VII, promoveu uma revolta em Aranjuez, no dia 17 de Março de 1808. Assim colocou a coroa sobre a sua cabeça. Parece que Napoleão favoreceu a mudança e sugeriu mesmo a abdicação de D.Carlos IV; esta cerimónia realizou-se no palácio régio daquela vila, com grande esplendor externo. Já antes havia sido movido contra o príncipe herdeiro o chamado "processo do Escurial", por motivo idêntico. A Espanha estava cansada do governo do inepto rei e do seu antipático ministro, e punha as suas esperanças no sucessor do trono, que tantas desilusões veio a causar!
Receava-se em Espanha que a sua família real seguisse o exemplo da corte de Lisboa e se mudasse para alguma das cidades da América. Nos acontecimentos de Aranguez, o povo sublevado quis linchar Manuel de Godoy, que teve de se esconder para poder escapar à morte.
A desastrosa política seguida pela Espanha e as numerosas intrigas diplomáticas postas em acção levaram os monarcas espanhóis a entregar-se a Napoleão, em Baiona, curvando a cabeça a todas as suas imposições e acusando-se mutuamente de deslealdade quase todas as personagens desta farsa. Esteve em grande perigo a independência da pátria que os Reis Católicos criaram!
No dia 10 de Maio de 1808, Napoleão tomava "legalmente" nas suas mãos os destinos da Espanha, cuja política manobrava há muito tempo, em consequência da abdicação de D.Carlos IV e de D.Fernando VII.
O infante D.Carlos Maria Isidro nunca cedeu às imposições imperiais e por isso teve de suportar o cativeiro, embora suave, pois ficou detido às ordens de Napoleão em diversos castelos e palácios da França. O povo madrileno revoltou-se contra o domínio francês e sofreu a vingança dos opressores, os famosos fuzilamentos de Moncloa; isso deu a Goya o tema para o seu quadro imortal. A guerra começava a ser favorável aos espanhóis e Napoleão resolveu deslocar-se à Península. Em Janeiro seguinte, como consequência da abdicação de Baiona, colocou no trono espanhol seu irmão José. O seu nome não se inclui na lista dos reis do país. O período do seu "reinado" vai de 1808 a 1813.
Neste reinado, tornaram-se independentes quase todas as colónias espanholas da América: --México, Venezuela, Colômbia, Bolívia, Equador, Perú, Chile, Argentina, etc. Praticamente, só restaram as de Cuba e Porto Rico, continuando a exercer a soberania sobre as Filipinas, na Oceania.
D.Fernando VII casou quatro vezes. O seu casamento com a infanta portuguesa
D.Maria Isabel de Bragança foi o segundo; a sua última esposa
era a famosa D.Maria Cristina de Bourbon, regente do reino na menoridade
de sua filha D.Isabel II.
Quando a Academia de Belas Artes propôs a reunião, num
local único, das valiosas pinturas do tesouro artístico espanhol,
a rainha D.Maria Isabel acolheu a ideia com entusiasmo e cedeu para esse
fim uma avultada pensão que recebia. Assim conseguiu reunir no Museu
do Prado a sua famosa pinacoteca. No entanto, deve atender-se a que a sua
fundação efectiva vem de quase um ano após o falecimento
da rainha : -- 29-XII-1818 e 19-XI-1819.
No tempo de D.Afonso VI de Portugal e D.Carlos II de Espanha, foi assinado, em 13 de Fevereiro de 1668, o tratado de paz que pôs fim à Guerra da Restauração. Tentámos por duas vezes negociar o casamento de D.Carlos II com a infanta de Portugal, D.Isabel Luísa Josefa, filha de D.Pedro II, mas sem resultado.
O Marquês de Gouveia e Conde de Santa Cruz, D.João de Mascarenhas, casou em Espanha com D.Teresa de Moscoso Osório y Aragón, filha dos Marqueses de Almazan y Poza e Condes de Monteagudo, já viúva do Marquês de Malpica. Enquanto casado, D.João de Mascarenhas fugiu com uma mulher nobre e fixou-se com ela na Galiza, onde mais tarde e por influência do prelado de Tui foi acolhida num convento. O Marquês deslocou-se para a Inglaterra, passando a ter vida airada, sem pouso definido, renunciando mesmo aos seus direitos e títulos nobiliárquicos.
D.Teresa de Moscoso Osório y Aragón foi elevada, depois de viúva, pelo rei D.João V, à categoria de Marquesa de Santa Cruz, tendo exercido as funções de aia dos príncipes reais portugueses, o futuro rei D. José I e seus irmãos, os "Meninos da Palhavã".
O rei de Espanha, D.Filipe V teve dois filhos que contraíram matrimónio com príncipes de Portugal. O futuro rei espanhol D.Fernando VI casou com D.Maria Bárbara de Bragança, e o nosso rei D.José I casou com D.Mariana Vitória. A "troca das princesas" efectuou-se, com faustosas cerimónias, no dia 19 de Janeiro de 1729, num pavilhão armado na fronteira dos dois países, sobre o rio Caia.
Os monarcas espanhóis D.Fernando VI e D.Maria Bárbara são os fundadores do Convento das Salesas Reales, o actual Palácio da Justiça, de Madrid. Estão ambos sepultados na igreja deste convento, em magnífico sepulcro expressamente construído, preferindo-o ao panteão régio do Escurial, por expressa vontade dos instituidores.
D.Fernando VI e D.Maria Bárbara de Bragança eram muito queridos do seu povo e a sua memória ainda hoje é evocada com respeito. Os espanhóis apreciavam as suas virtudes e compreendiam quanto eles se preocupavam com o bem-estar geral, segundo as normas do tempo.
D.Carlos III assinou o conhecido Pacto da Família. Portugal não o aceitou, apesar de ter sido convidado a subscrevê-lo. Isso nos arrastou para a guerra com a Espanha, a chamada "guerra fantástica" dos historiadores hispânicos.
Parece ser aqui que se localiza o lendário episódio do embaixador de Espanha e do Marquês de Pombal, quando este lhe disse que, para tirar um morto de sua casa, são precisos quatro homens vivos. Ninguém pode garantir, efectivamente, a autenticidade da famosa objecção!
Em 8 de Maio de 1785, realizou-se em Vila Viçosa a cerimónia da "troca de princesas", que não deve confundir-se com a do Caia, cinquenta e seis anos antes. Veio para Lisboa D.Carlota Joaquina, e partiu para Madrid a princesa D.Mariana Vitória Josefa.
Aquela casava com o futuro rei D.João VI e esta consorciava-se com o infante D.Gabriel António Francisco, irmão de D.Carlos IV e tio de Carlota Joaquina.
Explicando melhor, diremos que o infante D.Gabriel era filho de D.Carlos III e a princesa D.Carlota era filha de D.Carlos IV.
Do matrimónio de D.Mariana Vitória com aquele infante espanhol nasceu D.Pedro Carlos António, que depois da morte de seus pais e de seu avô D.Carlos III (que faleceram os três com poucas semanas de diferença, no final de 1788), veio para Portugal, onde foi educado. Seguiu com a corte para o Brasil, e aí casou com sua prima coirmã, D.Maria Teresa Francisca, filha de D. João VI e de D.Carlota Joaquina.
Na Paz de Badajoz, que pôs fim à Campanha do Roussilhão e escaramuças seguintes, os espanhóis arrebataram-nos Olivença e tivemos de pagar ainda vinte e cinco milhões de francos, como dívida de guerra.
Apesar de aquele convénio ter sido anulado pelo Tratado de Paris e pela Conferência de Berlim, nunca mais pudemos recuperar Olivença, apesar do esforço desenvolvido.
Pelo Tratado de Fontainebleau, que antecedeu as invasões francesas, Portugal era formalmente riscado do mapa da Europa. Napoleão serviu-se dele para, na prática, dominar toda a Península Ibérica, sujeitando aos seus caprichos as duas gloriosas nações hispânicas.
D.Teresa Cristina de Bourbon, neta do rei de Espanha, D.Carlos IV, veio a casar com o imperador do Brasil, D.Pedro II, bisneto do mesmo soberano.
O famoso político espanhol D.Manuel Francisco Domingos de Godoy y Alvarez de Faria Rios Sánchez Zargosa, abreviadamente conhecido por D.Manuel de Godoy, e que usou o nome de Príncipe de Paz, foi o primeiro Conde de Évora Monte, em Portugal. Nesta altura, 1797, os dois países estavam de boas relações, mas pouco depois abriam-se as hostilidades, chegando o Conde de Évora Monte a entrar em Portugal à frente de um exército, na qualidade de capitão-general, durante a campanha que os espanhóis chamam Guerra das Laranjas -- não sabemos por que motivo! Foi ele um dos negociadores do Tratado de Fontainebleau, que riscava Portugal do mapa da Europa, tendo-lhe sido atribuído o hipotético Principado do Algarve, que abrangia parte do Baixo Alentejo. Felizmente, as previsões não se concretizaram!
Em Espanha, D.Manuel de Godoy foi Duque de Alcudia, Duque de Sueca, Marquês de Alcudia, Visconde de Alto Castillo e Barão de Mascalbó. O Papa fê-lo ainda Príncipe Paserano. Depois de a armada espanhola ter sido desfeita na batalha de Trafalgar, fugiu para a França, sendo-lhe confiscados os seus bens. Atribuiu-se-lhe a culpa do desastre, pois ele era o generalíssimo das forças de terra e mar.
Casou pela primeira vez com D.Maria Teresa de Bourbon y Vilabriga, Duquesa de Sueca, Condessa de Chinchon e Marquesa de Boadilla del Monte, neta do rei D.Filipe V e da rainha D.Isabel Farnésio. Contraiu segundas núpcias com D.Josefa Petra Francisco Tudó Cathalan Alemany y Luecia, Condessa de Castillo Fiel. Foram ambas Condessas de Évora Monte, como cônjuges do detentor da distinção.
O segundo titular da dignidade foi D.Carlota Luísa Manuela de Godoy y Bourbon, filha do primeiro casamento de Manuel de Godoy, que usou ainda os títulos de Duquesa de Sueca, Condessa de Chinchon e Marquesa de Boadilla del Monte. Casou com D.Camilo Ruspoli, de origem italiana, que podemos considerar também Conde de Évora Monte, embora nunca tenha usado o título.
O terceiro Conde de Évora Monte, D.Adolfo Ruspoli y Godoy, foi também Duque de Alcudia. Casou com D.Rosália Álvarez de Toledo y Silva, filha dos Duques de Medina Sidónia.
O quarto Conde, D.Carlos Luís Ruspoli y Álvarez de Toledo, filho dos anteriores, Duque de Alcudia, Duque de Sueca e Conde de Chinchon, casou com D.Carmen Caro y Caro Alvares de Toledo y Gomurcio, da família dos Marqueses de La Ramana. Depois de ter enviuvado, casou com D.Josefa Pardo y Manuel de Villena, Condessa de Via Manuel e Marquesa de Rafal. Concluímos, pois, que os Condes de Évora Monte foram todos de nacionalidade espanhola.
O rei de Espanha D.Fernando VII casou com a princesa de Portugal D.Maria Isabel de Bragança, filha do rei D.João VI e de D.Carlota Joaquina. Foi a grande impulsionadora e fundadora efectiva do Museu do Prado, que bastantes anos antes havia sido criado por decreto e a que a sua iniciativa, decisão e desprendimento deram concretização prática.
Os primeiros tempos deste reinado foram perturbados pelas invasões francesas, três para Portugal e só uma para a Espanha, de onde nunca chegaram a sair as tropas napoleónicas, até ao final de luta. Logo de começo, enquanto nós derrotávamos os invasores em Roliça e no Vimeiro, em Espanha os franceses sofriam as derrotas de Saragoça e Bailén, entre outras. Viveram-se tempos muito difíceis!
O irmão do rei espanhol, o infante D.Carlos Maria Isidro, casou também com uma filha de D.João VI, D.Maria Francisca de Bragança. Este foi o pretendente ao trono e fundador de Dinastia Carlista.
Os casamentos realizaram-se em Cádis, ambos na mesma data, 22 de Fevereiro de 1816, estando as noivas no Rio de Janeiro. Partiram para a Europa a 3 de Julho seguinte, desembarcando naquele mesmo porto no dia 4 de Setembro.
Outra princesa de Portugal, D.Maria Teresa de Bragança, casou na cidade do Rio de Janeiro, onde estava a corte, com seu primo D.Pedro Carlos António, neto do rei D. Carlos III de Espanha, que tinha sido educado na corte portuguesa, como já vimos atrás. D.Maria Teresa de Bragança é chamada pelos autores espanhóis pelo designativo de "Princesa da Beira", que durante algum tempo lhe competiu, como herdeira presumptiva do trono de Portugal. Casou, depois de viúva, com seu tio e cunhado D.Carlos Maria Isidro, tendo-se dedicado profundamente à tarefa da educação dos seus sobrinhos, de quem foi mãe adoptiva. O seu primeiro marido havia falecido vinte e seis anos antes, o que nos leva a pensar que o seu segundo casamento deverá ter sido efectuado, em boa parte, por dedicação aos órfãos.
O primeiro Conde da Moita, D.José António Miguel Rafael João Pedro Paulo de Aragón Azlor y Pignatelli de Aragón, era de nacionalidade espanhola, usando também os títulos de Duque de Villahermosa, Conde-Duque de Luna, Conde del Real, Conde de Sinarcas, Conde de Villanova, Duque de Palata e Marquês de Cabrega, em Nápoles. Casou com D.Maria del Carmen Fernández de Córdoba y Pacheco, filha dos Marqueses de Mancera e Duques de Arión.
O segundo Conde da Moita, D.Marcelino de Aragón Azlor y Fernández de Córdoba, filho dos anteriores, Duque de Villahermosa, Conde-Duque de Luna, Conde de Guara e Barão de Panzano, casou com D.Maria del Patrocínio de Idiáquez y Correl, filha do Duque de Grana de Ega.
A terceira Condessa da Moita, D.Maria del Cármen de Aragón
Azlor y Idiáquez, teve os títulos usados por seus pais. Casou
com D.José Manuel de Goyoneche y Gamio, Conde de Guaqui.
Também com este título se deu o que já tinha acontecido
com o de Évora Monte, os seus detentores tiveram todos a nacionalidade
espanhola.
O período que acabamos de percorrer é caracterizado pela profunda influência francesa na vida espanhola, que se explica em primeiro lugar pela origem da dinastia (D.Filipe V era francês) e em segundo lugar pelos acontecimentos relevantes que se registaram na França e tiveram repercussão mundial.
Devemos, no entanto, salientar que Portugal e Espanha, apesar de por vezes as relações serem bastante tensas, puseram em prática estreita política de casamentos, não só entre os monarcas como entre outros membros da família real. Tendo sofrido fortemente a influência francesa, Portugal recebeu-a em grande parte através da Espanha. Deve salientar-se também que foram criados no nosso País dois títulos nobiliárquicos em favor de importantes personagens espanholas.
Nota-se, nesta época, impressionante paralelismo entre o que se fez em Portugal e o que se fez em Espanha, havendo até bastante semelhança de temperamento entre os respectivos soberanos, o que nem sempre pode explicar-se pelos laços de parentesco, por vezes remotos, embora noutros casos tenham sido muito próximos. Não devemos esquecer a influência do ambiente social nas primeiras décadas do século XIX, pois só deste modo pode compreender-se muito do que aconteceu.
As lutas dinásticas da Espanha devem estudar-se em conjunto com as de Portugal. Com efeito, encontramos um paralelismo chocante tanto nos personagens como no desenrolar das lutas, época em que se verificaram e resultados obtidos.
Quando morreu seu pai, D.Isabel II era ainda muito pequena, pois nascera em 1830 -- e veio a morrer em 1904. Ficou a governar a Espanha, como regente, sua mãe D.Maria Cristina, na qualidade de rainha-viúva. Defendeu corajosamente os direitos e interesses da filha, conseguindo afastar o pretendente contrário. Contou também e sempre com dedicações incondicionais. Mas não conseguiu vencer as dificuldades levantadas pela política liberal, que muito a fez sofrer. Devido a sobressaltos revolucionários registados em Madrid, abandonou em segredo a capital espanhola, pois uma enorme multidão pedira em altos gritos a sua morte, mesmo em frente do palácio real onde residia.
Também mais tarde D.Isabel II teve de abandonar o território espanhol, partindo para o exílio, tendo atravessado a fronteira, em Hendaye, no dia 30 de Setembro de 1868.
Fundou-se neste reinado a Cruz Vermelha Espanhola; construiu-se o primeiro
barco a vapor utilizado em Espanha, a que se deu o nome de "El Delfin";
inaugurou-se a primeira via férrea, de Barcelona a Mataró;
começou a lançar-se a linha para a ligação
ferroviária de Madrid com Lisboa.
Esteve também em causa o nome do rei português, D.Fernando II, viúvo de D.Maria II, que pôs como condição imprescindível para a aceitação da coroa que os dois reinos jamais se uniriam. Os políticos portugueses não viam com agrado que D.Fernando II aceitasse a coroa espanhola, pois era quase certo que uma dinastia estabelecida daquele modo e tão precipitadamente não poderia subsistir.
Entrou em Madrid no dia 2 de Janeiro de 1871. Na véspera, o primeiro ministro, o general João Prim y Prata, tinha sido assassinado.
Abdicou em 11 de Fevereiro de 1873, reconhecendo ser impossível governar com dignidade. O famoso educador P.André Manjón comenta assim o governo de D.Amadeu:-- "O saboiano nada fez, apenas teve de sofrer desgostos e desenganos".
1) ESTANISLAU FIGUERAS Y MORAGAS foi empossado em Fevereiro de 1873 e abdicou em Junho desse mesmo ano. Proclamou-se neste período o Estado Catalão, independente de Madrid, embora federado à República Espanhola.
2) FRANCISCO PI Y MARGAL tomou conta do poder depois da renúncia de Figueras. O seu mandato durou pouco mais de um mês. A demissão foi devida em parte a um violento discurso anticatólico do deputado Suñer y Capdevila e à resposta que lhe deu o cónego Manterola. Múrcia transformou-se numa República, independente mas federalizada.
3) NICOLAU SALMERON Y ALONSO foi eleito no dia 18 de Julho de 1873 e apresentou o seu pedido de demissão em 5 de Setembro seguinte. As províncias de Valência, Sevilha, Salamanca, Toledo e Granada declararam-se independentes.
4) EMILIO CASTELAR Y RIPOLL iniciou o seu mandato em 6 de Setembro. Foi irradicado devido à intervenção de Manuel Pavia y Albuquerque, em 3 de Janeiro de 1874.
5) FRANCISCO SERRANO Y DOMINGUEZ esteve provisoriamente à frente dos destinos da Espanha. Foi um grande chefe político liberal, que jugulou a insurreição de Cartagena e libertou Bilbau da pressão das tropas carlistas. Tomou conta do poder depois da queda de Castelar.
O tempo que separa a queda de D.Isabel II da restauração da monarquia pela ascensão de D.Afonso XII ao trono espanhol, foi de profunda agitação política, social e até militar; quase todo esse período foi preenchido pelas actividades da segunda guerra carlista; a primeira corresponde, praticamente, à regência de D.Maria Cristina.
D.Afonso XII casou, pela primeira vez, com sua prima D.Maria das Mercês, a quem dedicou amor ardente e apaixonado, que os romancistas, dramaturgos e cineastas puderam aproveitar.
Contraiu segundo casamento com a conhecida D.Maria Cristina de Habsburgo, regente da Espanha na menoridade de seu filho e sucessor, D.Afonso XIII, a qual se desempenhou do encargo com muita dignidade, grande competência e rara dedicação.
Na Conferência de Berlim, a Espanha desinteressou-se de defender os direitos que podia sustentar sobre certas zonas da África. Ficou apenas com diminutos territórios deste continente, então disputado por diversas potências cujos direitos e aspirações eram de recente data.
D.Afonso XII tinha temperamento muito popular e feitio afável, grandes dotes de simpatia e dedicação pelo seu povo. No entanto, as condições sociais e políticas que o envolveram não lhe foram favoráveis.
Apesar de ser muito querido do seu povo, havia quem lhe votasse ódio mortal, tendo sido alvo de dois atentados, um na Calle Mayor e outro na basílica de Atocha, em Madrid, sem consequências trágicas.
O rei de Espanha D.Afonso XII encontrou-se em Elvas com o nosso rei D.Luís I, por ocasião da inauguração da linha férrea que ligava Madrid com Lisboa. Repetiu a visita na altura da inauguração da linha directa, Madrid-Lisboa, por Marvão (em Portugal) e Valência de Alcântara (em Espanha). Mais tarde, visitou ainda oficialmente a cidade de Lisboa; e o nosso rei D.Luís I e sua esposa D.Maria Pia de Sabóia visitaram também a cidade de Madrid, retribuindo assim a gentileza dos monarcas espanhóis. As relações entre os dois países eram então muito cordiais.
O rei D.Afonso XII foi atacado pela tuberculose e faleceu vitimado por
esta doença, no palácio do Pardo, em 25 de Novembro de 1885.
Alguns meses depois nascia o sucessor do trono, D.Afonso XIII.
No dia do seu casamento com a rainha D.Vitória Eugénia de Battemberg, no decurso do ano civil de 1906, apesar da proibição de deitar flores sobre o cortejo, foram lançados alguns ramos sobre a carruagem régia, onde estavam escondidas criminosas bombas, que explodiram causando numerosas vítimas mortais.
O rei D.Afonso XIII visitou Portugal em 1903. O rei D.Carlos I tinha feito já uma visita à Espanha, em 1902; repetiu-a, acompanhado de sua esposa, a rainha D.Amélia, em 1906. Foram recebidos com fidalguia e distinção, com carinho e galhardia excepcionais.
D.Afonso XIII deu acolhimento aos monárquicos portugueses, depois de implantada a República em Portugal, no dia 5 de Outubro de 1910. Prepararam-se em Espanha algumas incursões militares que pretendiam restaurar o antigo regime. A mais famosa de todas ocorreu em Junho de 1912, e era chefiada pelo célebre oficial monárquico Henrique Mitchel de Paiva Couceiro.
A Espanha perdeu as últimas terras que possuía na América, Cuba, e na Oceania, as Filipinas.
Registaram-se neste reinado diversos acontecimentos funestos, entre os quais se conta a famosa "semana trágica" de Barcelona, iniciada em 26 de Julho de 1909. Basta o nome para nos apercebermos do que significou para muitas pessoas! A actividade subversiva era enorme. Destacaremos os acontecimentos lamentáveis de 1917, que fizeram com que ficasse a ser conhecido pelo nome de "ano turvo".
O exército espanhol sofreu derrotas em diversos lugares, sobretudo em Marrocos. Durante a primeira Grande Guerra (assim como na segunda), o país manteve-se neutral.
No dia 13 de Setembro de 1923, o general Primo de Rivera realizou o golpe de estado que lhe entregou o poder, iniciando-se o período de governo conhecido como "ditadura" do seu nome. Caiu no dia 29 de Janeiro de 1930. Entrou-se então num tempo que os espanhóis designam, ironicamente, por "ditabranda".
Em 12 de Abril de 1931, realizaram-se eleições municipais que, aparentemente, nada tinham a ver com o regime político. No entanto, os acontecimentos precipitaram-se e o rei viu-se na necessidade de se exilar -- atitude que pode ser discutida! No dia 14 seguinte era proclamada a Segunda República.
A menos de um mês da proclamação da República, em 11 de Maio de 1931, registou-se em Madrid e noutras cidades espanholas a famosa "queima dos conventos", em que foram destruídos ou danificados cerca de oito dezenas de edifícios religiosos.
No dia 31 de Dezembro do mesmo ano, deram-se os assassinatos de Castilblanco, perto de Badajoz, e em Janeiro de 1933 os de Casas Viejas, na Andaluzia meridional; no dia 8 de Julho de 1932, Villa Fradique, na zona de Toledo, proclamava o "regime comunista" local. No mês de Outubro de 1934, houve a sublevação das Astúrias, reprimida pelo poder público, segundo uns com excessiva benevolência e segundo outros com extrema desumanidade. Fosse como fosse, o certo é que deixou atrás de si enorme sede de vingança! Cometeram-se excessos lamentáveis e houve represálias sangrentas.
O general Sanjurjo tentou arrancar a Espanha ao domínio da rua e dos partidos políticos, manobrados por agitadores profissionais e anarquistas. Não conseguiu realizar o seu intento, pois fracassou o golpe de força que preparava. Tinha sido planeado para o dia 10 de Agosto de 1932. Foi preso, julgado por um tribunal marcial e condenado à morte; a pena veio depois a ser comutada em prisão perpétua; mais tarde, permitiram-lhe que se exilasse, fixando então a sua residência em Portugal, no Estoril, onde veio a morrer, quando se preparava para regressar à Espanha, a fim de tomar o comando da sublevação militar de 1936, que deu o poder a Francisco Franco. Terminou os seus dias por se ter despenhado o avião em que devia viajar, no momento da decolagem.
O assassinato de José Calvo Sotelo, deputado católico e monárquico (que tinha também sofrido o exílio em Portugal), na noite de 12/13 de Julho de 1936, iria precipitar os acontecimentos e lançar a Espanha nos horrores da guerra.
Quando morreu o rei da Espanha D.Fernando VII, seu irmão D.Carlos Maria Isidro dirigiu ao povo espanhol uma mensagem, assinada em Abrantes, onde se encontrava. Os seus primeiros decretos foram emitidos em Santarém. Portugal cortou relações diplomáticas com Madrid, devido a D.Miguel ter reconhecido D.Carlos como soberano. Este fortificou-se em Marvão, mas os liberais portugueses refugiados em Espanha atacaram esta vila e tomaram-lhe grande quantidade de armas e munições. A proeza foi realizada por um grupo que se designava Legião Patriótica do Alentejo.
A permanência de D.Carlos em Portugal, e a localização do comando das actividades bélicas na cidade correspondente, deu origem a um curioso dito popular que indica imobilidade, apatia, nulidade de resultados, e que é: -- "Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes".
Quando as tropas de D.Pedro IV saíram do Porto, depois do prolongado cerco que ali sofreram, o pretendente ao trono espanhol foi para Viseu e daqui seguiu para a Guarda. Até então tivera a sua corte em Vila Real. Entrou depois em Espanha, confiado no auxílio de algumas tropas e no bom acolhimento do seu povo; regressou logo a seguir ao nosso País, entrando pela fronteira da Guarda e chegando a esta cidade em 14 de Abril de 1834. Saiu definitivamente de Portugal em 1 de Junho desse ano, depois de ter sido assinada a Convenção de Évora Monte, que fixou no trono a nossa rainha D.Maria II. Embarcou no navio "Donegal", no Montijo, então designado Aldeia Galega, e rumou para a Grã-Bretanha.
A rainha D.Isabel II de Espanha casou com D.Francisco de Assis de Bourbon y Bourbon, filho do Duque de Cádis, o infante D.Francisco de Paula, irmão do rei D.Fernando VII. Note-se que D.Isabel II era prima coirmã de seu marido, pois eram ambos netos de D.Carlos IV.
Uma sobrinha do rei-cônjuge, D.Maria Isabel Cristina de Bourbon, filha da infanta D.Isabel Fernanda, casou com um capitalista português, Bartolomeu da Costa de Macedo Giraldes Barba de Meneses, Visconde de Trancoso. Este titular é o autor do livro "Apontamentos para a História da Dominação Castelhana em Portugal". Possuía grandes propriedades em Espanha, tendo perdido a maior parte dos seus bens por diversas causas. O primogénito deste matrimónio, D.Afonso Giraldes y Gurowski, casou com D.Amália de la Helguera y Gonzalez Garcia Marchante, filha de família fidalga espanhola.
O Barão e Visconde de Almeidinha, João Carlos do Amaral Osório de Sousa Pizarro, casou também, em segundas núpcias, com D.Vitória Catalá de Ascensio y Domenech, filha de um pundonoroso militar espanhol.
O Visconde de Reguengo e Conde de Avilez, Jorge de Avilez Jusarte de Sousa Tavares, casou em segundas núpcias com a espanhola D.Josefa González Pérez de Mendónza.
O Conde do Carvalhal, Leandro da Câmara do Carvalhal Esmeraldo Atouguia Sá Machado, consorciou-se com D.Matilde de Montufar Infante, filha dos Marqueses de Selva Alegre, de nacionalidade espanhola, de família muito conhecida.
O único Barão de Ezpeleta foi o súbdito espanhol Francisco Xavier de Ezpeleta Irisarri Larrain y Alzueta, que exerceu as funções de cônsul de Portugal em Bordéus.
Este título foi-lhe concedido pelo rei D.Fernando II, regente do reino de Portugal na menoridade de D.Pedro V.
O Barão e Visconde de Nossa Senhora da Luz, Joaquim António Velez Barreiros, casou em Espanha com D.Rosa Montufar Infante, filha dos Marqueses de Selva Alegre. Esta senhora ficou historicamente conhecida pela sua formosura e pela ardente paixão que soube despertar no nosso escritor romântico, Almeida Garrett. Em regra, é designada abreviadamente por Viscondessa da Luz.
O Visconde de Orta foi o espanhol José de Orta, que casou com uma senhora desta nacionalidade, D.Manuela Toranjo. Do matrimónio nasceu o sucessor do título, Barnabé de Orta, e quatro filhas, três das quais casaram com titulares nobiliárquicos portugueses: --D.Maria Francisca foi Condessa de Valbom; D.Antónia Maria foi Condessa de Magalhães; e D.Maria da Encarnação foi Viscondessa do Rio Sado. O título de Visconde da Orta ficou a dever-se à magnanimidade de D.Fernando II, regente do reino durante a menoridade de D.Pedro V.
O Conde de Azarujinha, Jaime Augusto de Albuquerque de Lemos Dias de Freitas, casou com a espanhola D.Maria Aurora Lasso de la Vega y Jimenez, neta dos Marqueses de Bejarano.
O título espanhol de Conde de Lumbrales foi atribuído a um português, Ricardo Pinto da Costa, que casou com uma rica proprietária da povoação daquele nome, tendo-lhe sido concedido o galardão nobiliárquico pelos altos serviços prestados à população da zona salmantina.
Assinou o diploma a regente de Espanha, D.Maria Cristina de Habsburgo.
O segundo Conde de Lumbrales foi o cidadão português João Vítor Pinto da Costa Bartol, nascido em Espanha, na localidade que dá nome ao título. Um dos seus filhos veio a ser o famoso político português Professor Doutor João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), ministro das Finanças, das Obras Públicas, do Interior e da Presidência, no tempo de Oliveira Salazar.
O terceiro Conde de Lumbrales é Ricardo Pinto da Costa Leite, filho dos segundos Condes. Prestou serviço como engenheiro civil na Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, em Lisboa.
Ao contrário do que aconteceu com os Condes de Évora Monte, que foram todos espanhóis, os Condes de Lumbrales tiveram todos a nacionalidade portuguesa.
O Conde de Mendia, em Portugal, e Marquês de Mendia, em Espanha, foi D.Eugénio de Mendia y Cunha Matos. Nasceu no Brasil e morreu em Lisboa. Era neto, por sua mãe, D.Maria Eugénia da Cunha Matos, do ilustre militar e historiógrafo luso-brasileiro, marechal Raimundo José da Cunha Matos, e de sua mulher D.Maria Venância de Fontes Pereira de Melo, prima de seu marido.
A esposa do marechal Cunha Matos era irmã do grande estadista português dos mesmos apelidos. O nome desta família está ligado a outros de destaque, tanto em Portugal como no Brasil.
O segundo Conde de Mendia, Eduardo Pereira Caldas de Mendia, era sobrinho do antecedente e tinha o direito a usar o título espanhol, assim como o terceiro Conde, Eugénio de Sousa Coutinho de Mendia, o qual casou com D.Maria Mafalda Brandão de Melo Magalhães Guedes de Queirós, filha dos Condes de Cabral. Também desta vez o ilustre título espanhol se fixou numa família portuguesa.
O único Visconde e Conde de Cunha Matos, Raimundo de Mendia e Cunha Matos, natural do Brasil e falecido em Lisboa, era irmão do primeiro Conde de Mendia, filho como ele de José Mateo de Mendia e Elorza, oriundo de Oñate, na 0Espanha, e neto do marechal luso-brasileiro Raimundo José da Cunha Matos.
Um dos filhos dos Barões de Ornelas, Fernando Henrique Vasco José de Ornelas, casou em Espanha com D.Maria do Rosário Silva y Agrela, Marquesa de Vilanant.
O quarto Marquês do Faial, António Maria da Assunção Sousa e Holstein-Beck, que usou também o título de Conde de Calhariz, tomou parte activa na Guerra Civil da Espanha, combatendo ao lado das tropas nacionalistas.
O quarto Conde e terceiro Marquês de Penafiel, João António Mártens da Mata Sousa Coutinho, alistou-se também nas forças nacionalistas.
Os comandos espanhóis distinguiram-no com referências muito elogiosas e honrosos louvores pela sua coragem e dotes de chefia. Veio a morrer na batalha do Ebro, e o Governo Português condecorou-o a título póstumo, concedendo-lhe a medalha de prata de valor militar, e promovendo-o ao posto de alferes.
D.Pedro de Alcântara Gastão, bisneto do imperador do Brasil,
D.Pedro II, casou com D.Maria de la Esperanza de Bourbon-Sicílias,
filha do príncipe D.Carlos de Bourbon-Sicílias, infante de
Espanha.
D.Teresa Maria Teodora, irmã do antecedente, casou com o espanhol
Ernesto Martorell y Calderó, nascido em Portugal, onde o casamento
se realizou.
O último período da História de Espanha, na vigência das respectivas monarquias, não teve repetidas uniões matrimoniais entre os seus monarcas e outros membros da família real, portuguesa e espanhola; apenas as dinastias proscritas fizeram casamentos entre si, e pouco frequentes, mas que podem considerar-se como prolongamento e continuação da antiga tradição. No entanto, encontramos maior número de titulares que procuraram consortes no outro país, embora não sejam da alta nobreza, por certo devido às facilidades de comunicações que a segunda metade do século XIX nos proporcionou.
Continuamos a verificar, sem qualquer dificuldade, o paralelismo que os dois países mantiveram ao longo deste período. Correspondem, de perto, às guerras liberais que ambos tiveram, às revoluções que sofreram, à mudança de regime político que em ambos se registou, e também ao aparecimento de chefes em que talvez poucos atentassem, Franco e Salazar, muito diferentes e muito parecidos entre si, com algo de carismático...
Conseguiram, tanto um como o outro, pôr fim à instabilidade política e a administrações ruinosas, talvez ainda mais notórias na Espanha do que em Portugal, apesar da boa vontade, da dedicação e até da competência e honradez de muitos governantes...
Francisco Franco Bahamonde e António de Oliveira Salazar, ao princípio, mostraram-se pouco interessados pelo exercício do poder; todavia, uma vez estabelecidos nas cadeiras governamentais, mantiveram-se ali até ao fim da vida...
Numa coisa diferem profundamente as crónicas dos dois povos peninsulares, nas últimas décadas: Portugal não sofreu os horrores de uma guerra civil sangrenta e desgastante em vidas e em valores, que só teve fim após muito sofrimento. No entanto, cerca de um quarto de século mais tarde, foi levado a sustentar prolongada guerra colonial, em Moçambique, Angola e Guiné, à custa de sacrifícios incalculáveis. Concluiremos que, no fundo, também nisto apresentamos semelhanças!
Casou com D.Maria Francisca de Assis e Bragança, filha de D.João VI e de D.Carlota Joaquina, portanto, sua sobrinha. Tendo-lhe falecido a primeira esposa, casou algum tempo depois com sua cunhada D.Maria Teresa de Bragança, que havia vinte e seis anos era já viúva. Foi como segunda mãe dos seus sobrinhos órfãos, dedicando-se-lhes inteiramente. Esta senhora havia sustentado uma importante questão judicial com o que veio a ser seu segundo marido, em defesa dos direitos de seu filho D.Sebastião Gabriel Carlos.
D.Carlos V abdicou em 1845, transitando todos os seus direitos e pretensões ao trono para seu filho D.Carlos VI. Morreu dez anos depois.
Ainda se pensou na pacificação da família espanhola, unindo em casamento as duas casas reais, mas o projecto nunca pôde ter realização.
Morreu no dia 13 de Janeiro de 1861, vitimado por uma epidemia de febre tifóide. No dia seguinte falecia também sua mulher, e no dia 1 de Janeiro tinha morrido já o seu irmão D.Fernando, todos eles atacados pelo mesmo mal.
Era filho segundo de D.Carlos V e de D.Maria Francisca de Assis e Bragança, portanto irmão do seu antecessor, que faleceu sem descendência. Por morte do pretendente carlista à coroa de Espanha, passou a ser o legítimo representante da causa. Porém, os partidários do tradicionalismo espanhol não confiavam nele.
A própria D.Maria Teresa de Bragança, sua mãe adoptiva e sua tia, reconhecia não merecer a confiança dos seus partidários e, consequentemente, fez publicar então a famosa "Carta aos Espanhóis", na qual defendia a hipótese de a sucessão passar directamente para D.Carlos VII. Este documento é considerado um modelo de clareza política e a exposição perfeita da doutrina tradicionalista.
D.João III levou sempre vida desregrada. O seu estranho temperamento fez com que tivesse desavenças permanentes com sua esposa, a arquiduquesa D.Maria Beatriz de Este, de quem veio a separar-se, tendo os filhos sido confiados aos cuidados maternos. Chegou a pedir um lugar na corte de D.Isabel II, não sendo atendido. Vendo que todos estavam contra ele, abdicou em 1868. Faleceu dezanove anos mais tarde.
A infanta de Portugal, D.Maria Teresa de Bragança, de quem acabámos de falar, e a quem os autores espanhóis dão habitualmente a designação de "Princesa da Beira", por ter usado este título como herdeira presumptiva do trono português, sofreu ainda o desgosto de saber que o seu filho D.Sebastião Gabriel Carlos jurou obediência à rainha D.Isabel II. Estava ligado por laços matrimoniais à família reinante, visto que sua esposa, D.Maria Amélia, era irmã da regente D.Maria Cristina. Casou ainda, mas em segundas núpcias, com D.Maria Cristina Isabel, da família real espanhola. Só do segundo casamento houve descendência, que se continuou nas famílias dos Duques de Marchena, Duques de Durcal, Duques de Ansola e outras.
Recebeu o documento da abdicação das próprias mãos de seu pai, na cidade de Paris, em 3 de Outubro de 1868. A rainha D. Isabel começara o seu exílio três dias antes.
Depois que D.Amadeu I ocupou o trono, os carlistas intensificaram a luta pela conquista do poder, mas os resultados foram, na sua generalidade, desfavoráveis aos "requetés".
Abandonou a Espanha em Fevereiro de 1876 e fixou a sua residência em Paris, de onde foi expulso sob a acusação de se dedicar a actividades políticas incompatíveis com a sua situação. Acredita-se que fossem outras as verdadeiras razões, e que a sua presença não fosse apreciada pelas autoridades francesas, de tendências liberais.
Viveu durante algum tempo em Londres e transferiu-se depois para Veneza, onde a sua mãe pôs um sumptuoso palácio à sua disposição. O Patriarca de Veneza, o futuro Papa S.Pio X, distinguia-o com a sua estima, assim como o grande Pontífice Pio IX, de cujas mãos recebeu o Crisma, e igualmente o seu irmão, o futuro D.Afonso Carlos I.
Era filho de D.Carlos VII. Estudou em Viena de Áustria, na Academia Militar, mas não usava o respectivo uniforme por ser o pretendente à coroa de Espanha. A rainha-viúva, D.Maria Cristina, era sobrinha do imperador.
. Foi ajudado, pecuniariamente, por D.Maria das Neves de Bragança, sua tia, filha de D.Miguel I, de quem falaremos mais adiante. O rei D.Afonso XIII, então no exílio, manteve relações amistosas com este seu primo, à semelhança do que tinha acontecido com a rainha D.Isabel e D.Carlos VII.
Diz-se que se apaixonou pela princesa D.Matilde da Baviera, mas que o pai dela se opôs ao casamento, pelo que nunca mais pensou a sério em casar. Morreu solteiro, em 2 de Outubro de 1931.
Era filho de D.João III. Alistou-se como simples soldado nos exércitos dos Estados Pontifícios, o que deu grande satisfação a sua tia-avó, D.Maria Teresa de Bragança.
Casou com D.Maria das Neves de Bragança, filha de D.Miguel I de Portugal, em 1871. No ano anterior havia tomado parte nos combates travados contra as tropas do rei Vítor Manuel, no assalto à Porta Pia, por ocasião da tomada de Roma.
Durante a primeira Grande Guerra, dedicou-se a auxiliar os feridos e doentes, nos hospitais, amparando as obras de assistência, na medida das suas possibilidades económicas.
Recebeu os direitos e pretensões ao trono espanhol por morte de seu sobrinho D.Jaime III. Contava então mais de oitenta anos de idade. O seu curto "reinado" corresponde ao período da Segunda República. As ideias tradicionalistas, em resultado de intensa actividade política, expandiram-se bastante; os seus partidários, vulgarmente designados "requetés", exerceram papel preponderante no levantamento militar de Julho de 1936.
D.Afonso Carlos I fixou a sua residência em São João de Luz, na França, próximo da fronteira com a Espanha. Morreu pouco depois de começar a guerra civil, no dia 28 de Setembro daquele ano, em Viena de Áustria, vítima de um desastre de viação, tendo sido atropelado por um camião, quando atravessava uma rua. Nesse mesmo dia saíam do alcácer de Toledo os seus famosos e heróicos defensores. E no dia a seguir ao do seu funeral, um grupo de generais, em reunião efectuada em Salamanca, resolveu entregar os destinos da Espanha ao seu colega Francisco Franco, que passou a partir de então a ser designado por Generalíssimo dos Exércitos e Caudilho de Espanha.
D.Sancho I, rei de Portugal | D.Dulce de Aragão, filha de D.Raimunfo |
D.Teresa, filha de D.Dancho I | D.Afonso IX, rei de Leão |
D.Afonso II, rei de Portugal | D.Urraca de Castela, filha de D.Afonso VIII |
D.Mafalda, filha de D.Sancho I | D.Henrique I, rei de Castela |
D.Pedro, filho de D.Sancho I | D.Aurêmbia, Condessa de Urgel |
D.Sancho II, rei de Portugal | D.Mécia Lopes de Haro, neta de D.Afonso IX |
D.João Afonso, Conde de Barcelos | D.Teresa Sanchez, filha de D.Sancho III |
D.Fernando, Infante de Serpa, filho de D.Afonso II | D.Sancha Fernandez de Lara |
D.Afonso III, rei de Portugal | D.Beatriz de Castela, filha de D.Afonso X |
D.Dinis, rei de Portugal | D.Isabel de Aragão, a Rainha Santa |
D.Afonso, filho de D.Afonso III | D.Violante, neta de D.Afonso X |
D.Afonso IV, rei de Portugal | D.Beatriz de Castela, filha de D.Sancho IV |
D.Constança de Portugal, filha de D.Dinis | D.Fernando IV, rei de Castela |
D.Pedro I, rei de Portugal | D.Branca de Castela, neta de D.Sancho IV |
D.Pedro I, rei de Portugal | D.Constança, bisneta de D.Fernando III |
D.Pedro I, rei de Portugal | D.Inês de Castro, bisneta de D.Sancho IV |
D.Maria de Portugal, filha de D.Afonso IV | D.Afonso XI, rei de Castela |
D.Leonor de Portugal, filha de D.Afonso IV | D.Pedro IV, rei de Castela |
D.Maria de Portugal, filha de D.Pedro I | D.Fernando, irmão de D.Pedro IV de Aragão |
D.Beatriz de Portugal, filha de D.Pedro I | D.Sancho, irmão de D.Henrique II de Aragão |
D.João de Portugal, filho de D.Pedro I | D.Constança, filha de D.Henrique II |
D.Beatriz, filha de D.Fernando I | D.João I, rei de Castela |
D.Isabel de Portugal, filha de D.Fernando I | D.Afonso de Castela, filho de D.Henrique II |
D.Isabel, neta de D.João I | D.João II, rei de Castela |
D.Afonso, filho de D.João I | D.Constança de Castela, neta de D.Henrique II |
D.Duarte, rei de Portugal | D.Leonor de Aragão, filha de D.Fernando I |
D.Joana de Portugal, filha de D.Duarte | D.Henrique IV, rei de Castela |
D.Afonso, filho de D.João II | D.Isabel de Aragão e Castela, filha dos Reis Católicos |
D.Manuel I, rei de Portugal | D.Isabel de Aragão e Castela, filha dos Reis Católicos |
D.Manuel I, rei de Portugal | D.Maria de Aragão e Castela, filha dos Reis Católicos |
D.Manuel I, rei de Portugal | D.Leonor de Castela, filha de D.Joana I |
D.João III, rei de Portugal | D.Catarina de Castela, filha de D.Joana I |
D.Isabel de Portugal, filha de D.Manuel I | D.Carlos I, o Imperador Carlos V |
D.Maria, filha de D.João III | D.Filipe II, rei de Espanha e de Portugal |
D.João, filho de D.João III, pai de D.Sebastião | D.Joana de Castela, filha de D.Carlos I, mãe de D.Sebastião |
D.Teodósio, pai de D.João IV | D.Ana Velasco, filha do Duque de Frias e Conde de Haro |
D.João IV, rei de Portugal | D.Luísa de Gusmão, filha do Duque de Medina Sidónia |
D.José I, rei de Portugal | D.Mariana Vitória, filha de D.Filipe V |
D.Maria Bárbara de Bragança, filha de D.João V | D.Fernando IV, rei de Espanha |
D.João VI, rei de Portugal | D.Carlota Joaquina, filha de D.Carlos IV |
D.Mariana Vitória Josefa, filha de D.Maria I | D.Gabriel António Francisco, filho de D.Carlos III |
D.Maria Teresa Francisca, filha de D.João VI | D.Pedro Carlos António, filho dos antecedentes |
D.Maria Isabel de Bragança, filha de D.João VI | D.Fernando VII, rei de Espanha |
D.Maria Francisca de Bragança, filha de D.João VI | D.Carlos V, fundador da Dinastia Carlista |
D.Maria Teresa Francisca, já referida | D.Carlos V, também já referido |
D.Pedro II, Imperador do Brasil, neto de D.João VI | D.Teresa Cristina, neta de D.Carlos IV |
D.Bartolomeu da Costa e Meneses, Visconde de Trancoso | D.Maria Isabel Cristina, bisneta de D.Carlos IV |
D.Sebastião Gabriel Carlos, neto de D.João VI | D.Maria Cristina Isabel, bisneta (neta?) de D.Carlos IV |
D.Maria das Neves de Bragança, filha de D.Miguel I | D.Afonso Carlos I, da Dinastia Carlista |
D.Maria Antónia de Bragança, filha de D.Miguel I | D.Roberto de Bourbon, filho de D.Carlos de Parma |