Mineiro de
BomJardim, Carlos Alberto Silva ainda se emociona ao relembrar alguns momentos da campanha
do título de 78.
O treinador fica com os olhos marejados de lágrimas. "Um time igual aquele nunca
mais vai existir", diz, emocionado. E para chegar ao título, Silva teve de passar
por situações embaraçosas. Suportou críticas, se disfarçou de espião e até o
portão do estádio Brinco de Ouro teve de pular. Mas, no fim do campeonato, com a taça
na mão, ele enfim foi reconhecido como um líder e um profissional vencedor.
Assim que Silva chegou no Brinco de Ouro no final de 1977, o seu principal desafio, além
de montar o time para o Brasileirão do ano seguinte, foi conquistar a confiança de
torcedores e da imprensa. Silva era um desconhecido apesar de, na época, já ter uma
experiência de dez anos como treinador e carregar em seu currículo o prêmio de técnico
revelação do futebol mineiro.
Mesmo assim, teve de pedir uma trégua para
a imprensa.
Ninguém acreditava no meu trabalho. O meu consolo foi que o presidente Ricardo Chuffi
garantiu que eu permaneceria no cargo, independentemente do que acontecesse",
recorda. "Mas para piorar a minha situação, logo na estréia do campeonato o time
perdeu para o Vasco por 3 a 1. Aí foi difícil agüentar tantas críticas", disse.
A força de conjunto do Guarani tanto dentro como fora de campo foi o fator que fez o time
evoluir, de acordo com o treinador bugrino. "Aos poucos passamos a mostrar a nossa
capacidade. Mas isso graças à família que se formou no Brinco. Eu não precisava cobrar
nada dos jogadores. Eram os próprios atletas que se cobravam. Os mais experientes como o
Zenon, o Zé Carlos e o Neneca não admitiam intrigas nem vaidades. Como era bom trabalhar
com aquele grupo. Isso nunca mais vai existir", acredita o treinador.
Mas não era somente a união que fazia a força no Guarani de 78. A qualidade técnica do
time era excelente, como lembra Silva. "O Careca tinha uma técnica apuradíssima,
além de uma personalidade incrível. Os laterais Mauro e Miranda não cruzavam a bola.
Eles simplesmente a colocavam na cabeça dos atacantes. Isso sem falar do Zenon e do Zé
Carlos que eram espetaculares no meio-de-campo", conta o técnico. "Lembro que a
disputa por uma posição de titular era acirrada. E quem mostrasse o mínimo de
indisposição saía do time. Foi, realmente, uma amostra de como se forma um time
campeão".
Depois do título, Silva se tornou um ídolo em Campinas. A faixa que estava colocada nas
vitalícias do Brinco com a seguinte frase: "Carlos A. Silva, sinônimo de
Guarani" dá a dimensão do amor dos bugrinos pelo técnico. "Eu, simplesmente,
não tenho palavras para agradecer tanto carinho", fala o treinador.
Texto- Silvio Marcos Begatti
Nota do autor: O mesmo Carlos Alberto Silva que foi Campeão
Brasileiro no Guarani, foi o responsável pelo rebaixamento do Bugre para a série A-2 do
Campeonato Paulista no dia 28 de abril de 2001. |