Robert Todd Carrol
O Efeito Forer ou Barnum é também conhecido por efeito de validação subjetiva ou o efeito de validação pessoal (a expressão, "Efeito Barnum," parece ter sido originada pelo psicólogo Paul Meehl, se referindo à reputação do homem do circo P.T. Barnum como um mestre de manipulação psicológica).
O psicólogo B.R. Forer descobriu que as pessoas tendem a aceitar descrições vagas e gerais de personalidades como unicamente aplicáveis a si próprios sem perceber que a mesma descrição pode ser aplicada a praticamente qualquer pessoa. Considere o seguinte como se lhe fosse dado como uma avaliação da sua personalidade.
"Tem necessidade de que as outras pessoas gostem de si e o admirem, mas é critico para si mesmo. Embora tenha algumas fraquezas de personalidade, é geralmente capaz de as compensar. Tem ainda capacidades não utilizadas que ainda não aproveitou. Disciplinado e com auto-controle por fora, tende a ser inseguro no íntimo. Por vezes tem sérias dúvidas sobre se tomou a decisão correta ou se agiu corretamente. Prefere uma certa mudança e variedade e não gosta de restrições e limitações. Tem também orgulho no seu modo de pensar independente e não aceita afirmações de outrem sem prova satisfatória. Mas descobriu que não é bom ser demasiado franco ao revelar-se aos outros. Por vezes é extrovertido, afável e sociável, enquanto noutras é introvertido e reservado. Algumas das suas aspirações tendem a ser irrealistas."
Forer deu um teste de personalidade aos seus estudantes, ignorou as respostas deles e deu-lhes a avaliação anterior. Pediu-lhes que a avaliassem de 0 a 5, com 5 significando uma avaliação "excelente" e 4 que era "boa." A média de classificação foi de 4,26. Isto decorreu em 1948. O teste tem sido repetido centenas de vezes com alunos de psicologia e a média mantém-se em torno de 4,2.
Em resumo, Forer convenceu as pessoas de que podia conhecer o caráter de cada uma delas. A sua exatidão espantou os sujeitos, apesar da análise de personalidade ter sido tirada de uma coluna de astrologia e ser apresentada às pessoas sem ligar aos seus signos. O efeito Forer parece explicar, pelo menos em parte, porque tantas pessoas pensam que as pseudociências "funcionam". Astrologia, astroterapia, biorritmos, cartomancia, quiromancia, eneagramas, leitura da sorte, grafologia, etc., parecem funcionar porque parecem fornecer análises de personalidade corretas. Estudos científicos destas pseudo-ciências demonstram que não são ferramentas válidas, mas cada uma tem clientes satisfeitos que estão convencidos de que elas são exatas. Contudo, as validações pessoais e subjetivas delas não são relevantes para a sua exatidão.
As mais comuns explicações para explicar o efeito Forer consistem em esperança, "wishful thinking", vaidade e a tendência para encontrarmos sentido em todas as experiências. As pessoas tendem a aceitar afirmações sobre si próprias na proporção em que desejam que as afirmações sejam certas em vez de medirem a sua exatidão por uma medida não subjetiva. Temos tendência a aceitar afirmações questionáveis, ou mesmo falsas, sobre nós, se nos parecem positivas ou mesmo lisonjeiras.
Damos interpretações liberais a afirmações vagas ou inconsistentes para que façam sentido. Pessoas que procuram conselho de videntes, médiums, grafologistas, etc., ignoram falsas afirmações e, em muitos casos, pelas suas palavras ou atos, fornecem a maioria da informação que erroneamente atribuem a um conselheiro pseudo-cientifico. Muitos dos sujeitos sentem que os seus conselheiros lhes deram informações profundas e pessoais. Tal validação subjetiva, contudo, não tem valor cientifico.
O psicólogo Barry Beyerstein acredita que "a esperança e a incerteza evocam poderosos processos psicológicos que mantêm os leitores do oculto e da pseudociência no negócio." Estamos constantemente tentando dar sentido a uma avalanche de informação desconexa que enfrentamos diariamente" e "ficamos tão bons em preencher os vazios para criar um cenário de um input desconjuntado, que conseguimos dar sentido ao 'nonsense'." Criamos um quadro coerente do que vemos e ouvimos, mesmo que um exame cuidadoso das evidências revele dados vagos, confusos, obscuros, inconsistentes ou mesmo ininteligíveis. Os videntes, por exemplo, muitas vezes põem tantas e tão ambíguas questões em rápida sucessão que dão a impressão de ter acesso a conhecimento pessoal do seu sujeito. De fato, o médium não precisa de ter qualquer visão da vida pessoal do sujeito, pois é o próprio sujeito que, voluntária ou inadvertidamente, lhe fornece todas as associações e validações necessárias. Os videntes são ajudados neste processo por técnicas de leitura fria, o popular "jogar verde para colher maduro".
David Marks e Richard Kamman afirmam que
uma vez que a crença ou expectativa resolva incertezas desconfortáveis, ela leva o observador a notar novas informações que confirmam a crença, e a negar as provas do contrário. Este mecanismo de auto-perpetuação consolida o erro original e aumenta a autoconfiança na qual os argumentos dos oponentes são vistos como fragmentários e destinados a destruir a crença adotada.
Barry Beyerstein sugere o seguinte teste para determinar se a aparente validade das pseudociências mencionadas acima se devem ao efeito Forer, pensamento selectivo, ou outro fator psicológico. (Nota: o teste proposto também usa validação pessoal e subjetiva e não se destina a testar a exatidão de qualquer ferramenta de análise pessoal, mas antes contra-atacar a tendência para a auto-ilusão nestas matérias.)
um teste correto devia primeiro fazer leituras a um grande numero de clientes e então removendo os nomes dos perfis (codificando a informação para posteriormente poderem ser comparados com os seus donos). Depois de todos os clientes terem lido todos os perfis anônimos, ser-lhes-ia pedido que retirassem do monte aquele que melhor os descreve. Se os leitores tivessem incluído material pertinente suficiente, os sujeitos deveriam, em numero superior ao acaso, serem capazes de escolher o seu.
Beyerstein nota que "nenhum método oculto ou pseudo-cientifico de leitura passou com sucesso tal teste."
O efeito Forer, contudo, só parcialmente explica porque tanta gente aceita como exato as afirmações e procedimentos de caráter oculto e pseudo-cientifico que não têm qualquer suporte cientifico, isto é, validação objetiva. Leitura fria, reforço comunal e pensamento seletivo também suportam estas ilusões.
Bibliografia:
The Use of Graphology as a Tool for Employee Hiring and Evaluation
Beyerstein, Barry. "Graphology," in The Encyclopedia of the Paranormal edited by Gordon Stein (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1996), pp. 309-324.
Beyerstein, Barry and Dayle F. Beyerstein, editors, The Write Stuff - Evaluations of Graphology, the Study of Handwriting Analysis (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1991).
Forer, B.R.. (1949) "The Fallacy of Personal Validation: A classroom Demonstration of Gullibility," Journal of Abnormal Psychology, 44, 118-121.
Marks, David and Richard Kammann, The Psychology of the Psychic (Amherst, N.Y.: Prometheus Books, 1979).
Thiriart, P. (1991). "Acceptance of personality test results," Skeptical Inquirer, 15,116-165.
Texto originalmente publicado em Skeptics Dictionary, de autoria de Robert Todd Carrol
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