Livro do Mês

Março de 2001

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Título: O Babuíno de Madame Blavatsky

Autor: Peter Washington

Editora: Record

Recomendação: Este livro mostra os bastidores das correntes místicas originadas na metade do século 19, denunciando tramas relacionadas a sexo, dinheiro e fraude entre gurus que pregavam castidade, desapego e integridade. O que a insatisfação espiritual dessa época pedia (semelhantemente à nossa própria época) não eram exatamente novas doutrinas, mas sacerdotes carismáticos, como a própria madame Blavatsy.

Sinopse Oficial: "Antes da virada do século, a renegada aristocrata russa Helena Petrovna Blavatsky, conhecida simplesmente como Madame Blavatsky, aportou na América com uma nova teoria - o homem não descendia do macaco, mas sim de seres elevados espiritualmente. Neste livro, Peter Washington conta a história desta excêntrica mulher e faz um estudo bem-humorado dos ideais religiosos, através dos anos até os dias de hoje. "

Sinopses Jornalísticas:

O Globo  / Data: 25/11/00
Blavatsky, a fraude
Cecilia Costa

O século passado foi um tempo de descobertas científicas que mudaram o mundo. De máquina a vapor, trem, telégrafo, código Morse, revolução industrial, darwinismo, comunismo, materialismo, formação de sindicatos, etc. Deus começou a ser posto em xeque. E com ele as religiões institucionais. O século passado foi um tempo de febre mística. Ocultismo. Esoterismo. Gurus. Sociedades teosóficas. Rosacrucismo. Pois parece que quanto mais o homem se desenvolve tecnologicamente, maior é a febre por magia, irracionalismo, vidência, santos humanos, portas para o além.

Os anos que geraram Balzac, Marx e Nietszche, às vezes se parecem muito com o nosso momento presente, e nos ajudam a explicar e entender a fome por seitas, espadas, magos, caminhos, poderes místicos, visões, mahatmas.

Daí se tornar extremamente interessante, elucidativa mesmo, a leitura deste livro do escritor inglês Peter Washington, editor geral da Everyman Library, que já foi professor de literatura européia na Universidade de Middlesex. "O babuíno de Madame Blavatsky" nos conta a vida e os feitos de alguns homens e mulheres "dotados" que fizeram a cabeça esotérica da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia no século passado e ao longo de todo o século XX, com a narrativa transcorrendo de forma leve e cinicamente divertida. Washington é um puro animal inglês, pois sua ironia é ferina, sem nunca ser grosseira ou explicitamente demolidora. Quem o lê, ri por dentro, ou às vezes apenas sorri, sem nunca dar gargalhadas altas. Mesmo que ele esteja nos desfiando um rosário de fraudes, charlatanismo, uso de sociedades ocultas para as práticas sexuais mais perversas, orgias, pedofilia ou apenas homossexualismo, sem falar na eternamente presente cobiça. O dinheiro rolava farto, e muitas vezes vinha de cabeças coroadas, intelectuais ou políticos eminentes. Um místico bem-sucedido raramente deixava de andar em Rolls Royce ou Mercedes-Benz e de ter uma vida entremeada por longas férias em lugares paradisíacos, férias essas essenciais, é claro, para que o guru em questão pudesse se dedicar à meditação e ao encontro com os mestres.

Mas vamos ao começo da história contada por Washington, a motivação. O que levou este crítico e ensaísta inglês a escrever um livro sobre "místicos, médiuns e a invenção do guru ocidental", além é claro, da possibilidade de vir a fazer mais dinheiro com esta obra do que com seus estudos literários? Foi quase que uma noção de serviço público. Em 1991, um conhecido político e radialista inglês, David Icke, deu uma entrevista coletiva para lançar seu novo livro, "The Truth Vibrations" ou "As vibrações da verdade". Icke, ao aproximar-se dos repórteres, que o conheciam de longa data - fora jogador de futebol e após uma artrite desenvolvera uma carreira bem-sucedida de comentarista esportivo na TV - estava vestido, assim como sua família, mulher e filhos, de roupas cor turquesa. Solicitado a explicar o por quê da cor, ele disse que o amor e a sabedoria vibram na mesma freqüência da cor turquesa. E acrescentou que tinha sido designado por Deus para desempenhar um papel vital no Plano Divino, envergonhando laicamente seu partido político na Terra, o ecológico Partido Verde inglês.

Os jornais populares britânicos fizeram a festa com a notícia. O "Sun" consultou seus leitores para saber se consideravam se Icke estava louco e 75% disseram que sim. A afirmação do ex-radialista de que Deus o escolhera para ser o novo pai cósmico despertou a atenção de Peter Washington. Eram poucos, entre os habitantes das ilhas enevoadas, que estavam entendendo o que acontecera com o comentarista esportivo. Mas Wasghington lembrou-se do seleto grupo de mestres indicado ao longo dos séculos para supervisionar o planeta, mencionado em muitos livros esotéricos - como Jesus, Buda, Merlin, Parmênides, Sócrates, Colombo, Confúcio, Lao Tsé, o Senhor do Sétimo Raio e o Sumo Sacerdote de Atlântida - e resolveu entrar nesta selva escura, munido do velho e bom wit, ou seja, sabedoria e humor. Ele começa, em seu livro, por tratar de astros menores do século XIX, tendo antes se referido a alguns de seus antecessores preferidos - ou seja, os homens que são as raízes do pensamento esotérico europeu, como Boheme, Swedenborg, Mesmer, Oliphant e Eliphas Lévi - sempre recheando o relato com dados biográficos, que demonstram uma pesquisa paciente, até chegar à seminal dupla da teosofia, Helena Petrovna Blavatsky e seu discípulo e companheiro de aventuras e sortilégios, o coronel Olcott.

Difícil alguém pelo menos uma vez na vida não ter se interessado por Blavatsky. Não só por ela ter formado a Sociedade Teosófica mais forte do mundo ocidental (e oriental) e ser a autora de livros que até hoje são a base de quaisquer pensamentos esotéricos, como "Isis desvendada" ou "A doutrina secreta", mas também por estar presente na biografia de um dos maiores poetas ocidentais, W. B. Yeats. O autor de "Bizâncio", ganhador do Prêmio Nobel de 1923, freqüentou o salão de Blavatsky em Londres, como seu discípulo, e quando se afastou dela, se encaminhando para o rosacrucismo, foi por querer mais energia em movimento, magia. Yeats e sua envolvente mestra, a quem tanto ele admirava, perdoando erros, fraudes e mazelas, entraram em choque, já que aos 59 anos, já próxima da morte, HPB (como era chamada em seus círculos) temia os fenômenos aos quais se dedicara no passado, por já ter sido acusada publicamente de trapaça e até mesmo chantageada por um casal de empregados que participara, em sua casa na Índia, das farsas, jogando cartas dos Mestres sobre os assistentes das sessões espíritas, batendo com bumbos atrás da porta ou fazendo objetos voarem.

Washington não conta a biografia inteira de Blavatsky. Quem comprar o livro atraído pela capa - que traz os grande olhos verdes espectrais da famosa médium - esperando revelações sensacionais sobre sua vida, vai se frustrar.

Galileu  / Data: 01/02/01
A caixa-preta da Teosofia
Obra desvenda o tortuoso caminho seguido pelos gurus ocidentais

Maurício Tuffani

Logo nas primeiras páginas de seu livro, Peter Washington mostra o impiedoso propósito de desmascarar os bastidores do desenvolvimento das correntes místicas originadas nos Estados Unidos e na Europa em meados do século 19. Ele cumpre brilhantemente essa promessa, denunciando tramas relacionadas a sexo, dinheiro e fraude entre gurus que pregavam castidade, desapego e integridade. Mas também consegue penetrar com profundidade no universo conceitual de diversas correntes do pensamento místico do Ocidente, com um surpreendente talento para lidar com as ambigüidades humanas. Se esse mergulho traz uma desconfortável transparência para muitas dessas instituições, comprova também, sem apelos irracionais ou místicos, que os homens têm profundas necessidades interiores a serem supridas.

A Sociedade Teosófica foi fundada em 1875 em Nova York, numa época em que parecia que se havia chegado ao auge do enfraquecimento das instituições religiosas. Os abusos de poder eclesiástico e as maquinações entre Igreja e Estado trouxeram para essas instituições uma grande vulnerabilidade, com revoltas internas e dissidências explícitas, expondo-as às críticas de ateus, liberais e radicais. Como diz Washington, "ia se tornando claro que existia no Ocidente um enorme e duradouro apetite público por formas novas e exóticas de crença religiosa, para suplementar e até mesmo substituir formas ortodoxas de cristianismo".

O místico Emmanuel Swedenborg (1688-1772) já havia tentado, na Suécia, um caminho que fundia ciência e religião, com direito a visões de Jesus Cristo e a sonhos reveladores. Outro antecessor da Teosofia, o suíço Franz Anton Mesmer (1735-1815), havia proposto que todos os corpos são envolvidos por uma espécie de fluido magnético, cujo fluxo poderia ser detectado e dirigido por indivíduos sensitivos com fins terapêuticos.

Mas o que a insatisfação espiritual dessa época pedia, segundo Washington, não era exatamente novas doutrinas, mas sacerdotes carismáticos, que poderiam muitas vezes ser substituídos por escritores e até por líderes políticos. A busca de uma "chave para tudo", mesmo que na forma de uma doutrina, teria de passar, necessariamente, por carismáticos mestres espirituais. Sobre isso, o autor de O Babuíno de Madame Blavatsky faz uma citação imperdível: "Talvez esta seja a definição de carisma: que cada pessoa pode tão facilmente revestir seu objeto com seus próprios sonhos" (pág. 216). Estava aberto, assim, o caminho para o surgimento do guru ocidental.

Os criadores da Teosofia ou "ciência sagrada" foram o norte-americano Henry Olcott (1832-1907) e a russa Helena Petrovna Blavatsky. Eles conheceram-se nos EUA um ano antes de fundar a sociedade inspirada nas culturas hinduísta, xivaísta, egípcia e outras da Antiguidade. Seu objetivo era pesquisar e divulgar "as leis que governam o Universo". Havia, para eles, o pressuposto da existência de uma doutrina universal secreta e o de que todas as religiões são essencialmente uma mesma religião. A descoberta dessas leis universais se dava, segundo eles, por revelações feitas por espíritos que se manifestavam por cartas dirigidas a Blavatsky e a Olcott. Apesar dos fracassos iniciais, a Sociedade Teosófica logo conseguiu atrair nobres e outros endinheirados, que custearam a expansão da entidade e de suas filiais, além de viagens e hospedagens da sua dupla de fundadores para vários países.

O grande sucesso da tarefa a que Washington se propõe está na sua estratégia. Se ele tivesse apelado para o conhecimento científico para desqualificar os propósitos ou os fundamentos da Teosofia e de outras correntes místicas, o resultado seria inevitavelmente um diálogo de surdos, pois é nos fundamentos que estão as grandes diferenças entre o misticismo e a cientificidade. A eficiência de sua crítica está justamente em mostrar que os principais mentores dessas seitas - que enfatizavam a busca da autodisciplina física e mental, a fraternidade e o desapego dos valores materialistas - eram apenas seres humanos idênticos aos das mentiras e das trapaças da política e dos negócios.

Um casal de ex-seguidores de Blavatsky, e depois desafeto, revelou posteriormente papéis em branco idênticos aos das cartas em que eram "precipitadas" as mensagens dos supostos espíritos guardiães do planeta. As alegadas viagens de Blavatsky - cuja data de nascimento ainda é um mistério - ao Tibete e a outros lugares do Oriente são praticamente consideradas fatos improváveis por Washington. Além disso, a fundadora da Teosofia é apresentada como um ótimo contra-exemplo da ferrenha autodisciplina individual proposta por ela mesma, pois devorava diariamente ovos fritos boiando na manteiga e vários alimentos gordurosos. Extremamente sedentária e balofa, precisava às vezes ser içada por ganchos por não conseguir usar escadas.

Washington não restringe seu livro às peripécias da fundadora da Teosofia. Ele percorre também todo o caminho dos sucessores da dupla fundadora, como os britânicos Annie Besant (1847-1933), que fazia vista grossa aos problemas éticos e materiais da instituição, e Charles Leadbeater (1847-1934), sempre em encrencas por assédio sexual a rapazes da Europa à Austrália. O livro segue também a trajetória do indiano Jiddu Krishnamurti, que foi preparado por Besant e Leadbeater para ser um novo Cristo, mas pulou fora, dos russos George Gurdjieff e Peter Ouspensky, do austríaco Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia, e vários outros.

Blavatsky, que morreu em 1891, era contrária à seleção natural de Darwin. Para ela, a evolução humana se dera a partir de "seres elevados espiritualmente". Em seu apartamento em Nova York, que dividia com Olcott - em quartos separados - ela tinha na sala um babuíno empalhado, com óculos, colete, fraque e gravata, portando sob um dos braços um volume de A Origem das Espécies, de Darwin. Ele simbolizava, diz Washington, "a Insensatez da Ciência diante da Sabedoria da Religião". Mas apesar do destaque no título, o babuíno pouco aparece nesse brilhante livro, que é uma verdadeira caixa-preta da trajetória dos gurus ocidentais.

Livros dos meses anteriores:

Fevereiro de 2001 - "O Livro de Ouro da Mitologia" - Thomas Bulfinch

Dezembro de 2000 - "O Parente Mais Próximos" - Roger Fouts & Stephen Tukel Mills

Outubro de 2000 - "Darwin - A Vida de um Evolucionista Atormentado" - Adrian Desmond & James Moore

Setembro de 2000 - "Seis Caminhos a partir de Newton" - Edward Speyer

Agosto de 2000 - "O Céu da Mente" - Timothy Ferris

Julho de 2000 - "Rumo às Estrelas" - Alberto Delerue

Abril de 2000 - "Centros e Museus de Ciência - visões e experiências" - Diversos autores

Março de 2000 - "A Relatividade Especial e Geral" - Albert Einstein

Fevereiro de 2000 - "An Encyclopedia of claims, frauds and hoaxes of the occult and supernatural" - James Randi

Janeiro de 2000 - "A Perigosa Idéia de Darwin" - Daniel C. Dennett

Dezembro de 1999 - "O Milênio em Questão" - Stephen Jay Gould

Outras recomendações:

"O Mundo Assombrado pelos Demônios" - Carl Sagan - O Melhor de todos!!

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