Livro do Mês

Abril de 2001

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Título: Eva e os Padres

Autor: Georges Duby

Editora: Companhia das Letras

Recomendação: Este livro mostra a intimidade da mulher medieval sob o ponto de vista das confissões feitas aos sacerdotes católicos e também como eles começaram a manipular as mulheres de forma mais profunda a partir da intituição da confissão (século XII).

Sinopse Oficial: "O historiador Georges Duby faz uma análise da relação entre a Igreja e as mulheres no século XII, neste terceiro volume da trilogia Damas do século XII. Consideradas trangressoras da lei divina, precisavam ser controladas pelos padres. Para isso, a Igreja criou diversas formas de controle e, neste século, instituiu a confissão, uma forma de pôr a julgo a intimidade feminina."

Sinopses Jornalísticas:

Jornal da Tarde  / Data: 5/5/2001
Em busca da mulher dos tempos medievais

Com "Eva e os Padres", obra na qual avança rumo às mulheres sem nome, agora lançada no Brasil, o historiador francês Georges Duby encerrou sua trilogia sobre 'As Damas do Século 12'

Por Susani Silveira França

Interrogar sobre as mulheres e acabar sabendo mais sobre os homens. É a essa conclusão que chega Georges Duby no último livro que dedicou às mulheres do século 12. O historiador, que se declarou, numa de suas derradeiras entrevistas, mais confortável num domínio histórico em que o número pouco abundante de dados abre espaço para a liberdade imaginativa - caso do período que trabalha (do século 10 ao 12) -, teve de percorrer zonas bastante obsccuras em busca de perscrutar os vestígios deixados pelas damas do século 12. Do que pensavam de si próprias, contudo, nenhuma marca encontrada. Os discursos que lhes foram atribuídos são todos de homens, tendo o historiador de lançar mão, na sua busca, de testemunhos indiretos, que mais indicam como os homens as viam e como desejavam que fossem.

Diante dessa mediação parcial e tendenciosa, cuidado e reserva redobrados teve de ter Duby na sua trilogia "As Damas do Século 12". Os dois primeiros volumes em que tenta "adivinhar" a intimidade das mulheres medievais foram lançados no Brasil em 1997. No primeiro, o historiador ocupou-se em observar as damas pertencentes à nobreza a partir da fala, ainda que imprecisa, de algum cronista ou confessor. No segundo, as damas são conhecidas por meio do filtro dos homens da sua linhagem, padres ou cavaleiros que constroem a imagem das suas antepassadas tendo em vista o engrandecimento do seu próprio sangue. O terceiro volume, publicado na França pouco antes da morte do historiador (1996), só agora está sendo lançado no Brasil pela Companhia das Letras. Intitulado Eva e os Padres, neste livro o historiador avança rumo às mulheres sem nome, aquelas que se escondem sob o seu gênero, ou melhor, aquelas cuja virtude ou pecado, este especialmente, vem de terem nascido como Eva e não como Adão.

Complementando a sua arquitetura dos discursos masculinos sobre a mulher numa sociedade que, militar e clerical, via dificuldade em encontrar-lhe um lugar e uma função para além da procriação, Duby restringe-se neste volume a interrogar o que sobre elas deixaram escrito os homens de Igreja. Entram então em cena não só a imagem quase sempre ameaçadora que traçaram das mulheres como também a pedagogia que destinaram aos seus congêneres do sexo masculino para que mantivessem controle sobre as mesmas. O objeto de análise do historiador é o discurso da Igreja, um discurso que, embora não homogêneo, ilustra a tentativa de se forjar uma moral destinada às mulheres, porém moldada e controlada pelos homens.

Para levar a cabo esta última parte do seu "romance" sobre as mulheres, o historiador detém-se em algumas fontes do século 12, sem deixar, contudo, de referir-se a textos de períodos anteriores que ilustram tanto a evolução das práticas de controle da mulher por parte da Igreja quanto a persistência de certos juízos sobre ela e certas propostas de subjugá-la. Em primeiro lugar, percorre a obra pedagógica de Estevão de Fougères, redigida entre 1174 e 1178, obra na qual destaca a parte em que o bispo de Rennes mapeia os vícios das mulheres nobres e propõe formas de controle dos excessos femininos, excessos que passavam pela vaidade, pela recusa da submissão ao homem, pela prática de magia e, sobretudo, pela luxúria.

A seguir, mostra Duby como um tal rol de qualidades negativas fundava-se num texto muito anterior ao de Fougères, a saber, aquele que foi consagrado como o da origem do gênero humano: o Gênesis. O historiador passa então a examinar comentários ao Gênesis feitos por "autoridades" medievais - entre as quais Santo Agostinho, Abelardo, Hugo de Saint-Victor e Roberto de Liège -, mostrando como o gênero feminino comumente representava o pecado, o perigo e a maldição, representações só relativamente compensadas pelo privilégio da geração da vida. Nesses comentários sobre Eva, a sexualidade aparece já como a fonte das transgressões e como argumento em favor da natureza inferior da mulher, na medida em que é o contraponto evidente do traço que dignifica o homem: a racionalidade.

O confronto entre Eva e os padres é levado adiante pelo historiador a partir do exame de certas cartas/sermões do século 12 que traçam uma imagem das damas com ênfase nas epístolas de Adão de Perseigne. O alvo dessas cartas edificantes e públicas eram as mulheres de alto escalão, aquelas que mais do que as outras deveriam procurar reprimir os atributos próprios do seu sexo - a fragilidade, a impudicícia e a destemperança - para assemelharem-se ao sexo oposto. É aqui, quando descreve o esforço dos padres no sentido de ajudar as mulheres a vencerem a sua própria natureza, por meio da prática da castidade ou de uma conduta sexual regrada e da atenção aos preceitos da Igreja e às ordens do marido, que Duby identifica uma promoção da condição das mulheres: os homens começam a conceder-lhes um pouco mais de liberdade e a temê-las menos.

Essa imagem relativamente positiva da mulher é especialmente reforçada, segundo o historiador, pela expansão das práticas do amor cortês, um amor ritualístico, regrado e idealizado, que posiciona a mulher em lugar privilegiado mas mantém o domínio dos homens, tão proclamado pelos padres. O tema do amor, nas suas formas lícitas e ilícitas, ocupa, a propósito, a última parte de Eva e os Padres, na qual se vê como a oposição entre o carnal, como condenável, e o espiritual, como o desejável, leva à difusão do culto da "anti-Eva" no nome e na conduta: Ave, a Virgem Maria.

É, em linhas gerais, com esse percurso que Georges Duby, consciente de que o historiador sempre transita entre as revelações e ocultações de uma época, procura elaborar neste livro uma certa verdade sobre as mulheres do século 12. Num estilo didático e persuasivo, sem temer servir-se de uma dose de poesia para polir as frases - a despeito das acusações de alguns colegas de que tal recurso contraria o rigor histórico -, o medievalista alterna-se entre a parráfrase e a citação de textos de homens de Igreja, buscando, menos do que lhes ser fiel, mapeá-los e dar a conhecer os seus fundamentos.

Livros dos meses anteriores:

Março de 2001 - "O Babuíno de Madame Blavatsky" - Peter Washington

Fevereiro de 2001 - "O Livro de Ouro da Mitologia" - Thomas Bulfinch

Dezembro de 2000 - "O Parente Mais Próximos" - Roger Fouts & Stephen Tukel Mills

Outubro de 2000 - "Darwin - A Vida de um Evolucionista Atormentado" - Adrian Desmond & James Moore

Setembro de 2000 - "Seis Caminhos a partir de Newton" - Edward Speyer

Agosto de 2000 - "O Céu da Mente" - Timothy Ferris

Julho de 2000 - "Rumo às Estrelas" - Alberto Delerue

Abril de 2000 - "Centros e Museus de Ciência - visões e experiências" - Diversos autores

Março de 2000 - "A Relatividade Especial e Geral" - Albert Einstein

Fevereiro de 2000 - "An Encyclopedia of claims, frauds and hoaxes of the occult and supernatural" - James Randi

Janeiro de 2000 - "A Perigosa Idéia de Darwin" - Daniel C. Dennett

Dezembro de 1999 - "O Milênio em Questão" - Stephen Jay Gould

Outras recomendações:

"O Mundo Assombrado pelos Demônios" - Carl Sagan - O Melhor de todos!!

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