Science Passion! - Livro do Mês

Título: As Maiores Invenções dos Últimos 2000 Anos

Autor: Richard Dawkins

Editora: Companhia das Letras

Recomendação: Nesse livro, especialistas de todas as áreas escolheram as maiores invenções da humanidade e contam suas histórias. Vale a pena pra conhecer melhor a aventura humana de moldar o universo.

Sinopse Oficial: "A pílula anticoncepcional, o alfabeto, a garrafa térmica, a geometria, a escada, a imprensa, a anestesia, a televisão- óbvias, inusitadas, surpreendentes. São respostas assim diversificadas que o agente literário John Brockman recolhe ao lançar por um site da Internet um desafio- na sua opinião, qual é a mais importante invenção dos últimos dois mil anos? Por quê? Richard Dawkins, Howard Gardner, Brian C. Goodwin, Oliver Morton, Joseph Le Doux são alguns dos que aceitam participar do instigante jogo proposto por Brockman. Com reflexões interessantes, estes e outros importantes pensadores da atualidade fazem sua escolhas e defendem apaixonadamente seus eleitos. Polêmico e divertido, As maiores invenções dos últimos 2.000 anos nos leva a atravessar séculos da nossa história e ver com novos olhos conquistas que se fizeram ao longo do tempo."

Gazeta Mercantil / Data: 31/3/2000
O escrutínio das invenções
Alessandro Greco

No final de 1998, o escritor, editor e agente literário americano John Brockman perguntou aos participantes do fórum eletrônico Edge (www.edge.org) qual era a maior invenção dos últimos 2000 anos. Presidente do fórum, que reúne cientistas, filósofos e pensadores do primeiro time, Brockman recebeu as mais variadas e disparatadas respostas. Daí a reunir 109 pessoas opiniões no livro ‘As Maiores Invenções dos Últimos 2000 Anos’ foi natural.

A abrangência das respostas apresentadas a Brockman é um convite a viajar pela mente de alguns dos intelectos mais bem preparados deste século. Separado em duas seções, como vivemos e como pensamos, as contribuições vão de invenções concretas, como instrumentos, máquinas e remédios a idéias e conceitos, como o livre-arbítrio e o método científico. Mas se computarmos todas as respostas, o resultado mostra como a tecnologia mudou nossas vidas e forjou nosso modo de pensar.

A tecnologia ‘vencedora’ da enquete, com cinco citações, foi óbvia. A invenção da imprensa com tipos móveis pelo alemão Johann Gensfleish Gutenberg. Houve também aqueles que votaram na cadeira, na Internet, no bit, na revolução verde e os que interrogaram a pergunta de Brockman. Tom Standage, correspondente de ciência da revista inglesa The Economist, inicia sua resposta colocando que ‘...tudo depende de como se define importante’. No que é seguido pelo matemático Reuben Hersh que diz: ‘A mais importante invenção de todos os tempos foi a sentença interrogativa- quer dizer, o fazer perguntas’. Não faltou também bom humor nas respostas. Leon Lederman, prêmio Nobel de Física em 1998, disse: ‘Se sugerirmos qualquer outra coisa que não a imprensa, Brockman cancela nossas gratificações de Natal e o peru de Ano-Novo. Portanto: a maior invenção dos últimos 2000 anos é a imprensa. Depois: a garrafa térmica’. A brincadeira está ligada ao fato de Brockman ser o agente literário de alguns dos participantes de fórum. A família Dyson também participou em peso das respostas. O físico, matemático e professor emérito de ciências naturais do Instituto de Estudos Avançados de Princeton Freeman Dyson, mais conhecido atualmente como o pai da guru da Internet Esther Dyson e do escritor George Dyson, talvez tenha chegado mais perto da ‘maior invenção’- se isso é possível.

‘A mais importante invenção dos últimos 2000 anos foi o feno. A civilização só podia existir em climas quentes, onde os cavalos podiam continuar a pastar durante todo o inverno. Sem capim no inverno, não se podia ter cavalos, e sem cavalos não se podia ter civilização urbana. Em algum ponto da chamada Era das Trevas algum gênio desconhecido inventou o feno, florestas foram transformadas em prados, o feno foi ceifado e armazenado, e a civilização passou para o norte além dos Alpes. Assim, o feno deu origem a Viena, Paris, Londres, e depois Moscou e Nova York’. As respostas de Esther e George não têm a mesma abrangência e padecem do mal de boa parte das respostas. Estão relacionadas à área de atuação profissional- o que não pode ser considerado uma falha, considerando-se quem fala, mas somente falta de generosidade para com as invenções e/ou idéias alheias.

As boas frases e idéias do livro se estendem e seria impossível citá-las todas. ‘As Maiores Invenções dos Últimos 2000 Anos’ é um livro para ser aberto em qualquer página. Concordar ou não com o argumento apresentado serve somente de ponto de partida para se refletir sobre as grandes descobertas que moldaram os últimos 2000 anos.

O agente literário John Brockman, criador e editor de um endereço na Internet que costuma abrigar artigos diversos e estranhos como "A transformação do ouvido musical americano" e "O fim do cérebro", mandou e-mails para uma lista de colaboradores do site com uma pergunta aparentemente singela: "Qual é a mais importante invenção dos últimos 2 mil anos e por quê?" As melhores respostas, vindas de cientistas, professores, filósofos e artistas, acabaram reunidas no livro As Maiores Invenções dos Últimos 2.000 Anos, um informal e divertido conjunto de divagações que dá o que pensar.

O mais intrigante fica por conta das escolhas propriamente ditas. Um dos nomes procurados por Brockman não hesitou, por exemplo, em defender a borracha de apagar como a maior invenção dos últimos 20 séculos. E com argumentos nada desprezíveis: "Sem nossa capacidade de voltar, apagar e tentar de novo, não teríamos modelo nem meio de desenvolver governo, cultura ou ética. A borracha é nosso confessor, nosso absolvedor e nossa máquina do tempo", afirma o escritor Douglas Rushkoff, colunista do jornal The New York Times. Outro, Freeman Dyson, professor de Física no Instituto de Estudo Avançado em Princeton, nos Estados Unidos, elege o feno como a estrela dos últimos 2 mil anos. Depois de um raciocínio rápido, no qual afirma que sem capim não há cavalos e sem cavalos não haveria civilização urbana, conclui: "O feno deu origem a Viena, Paris, Londres, Berlim, e depois a Moscou e Nova York".

Com bom humor, os convidados de Brockman vão desfiando seus palpites frugais, do papel à Internet, da música clássica ocidental à televisão, mas também não esquecem aquelas invenções que poderiam ser consideradas mais óbvias, como a eletricidade. O que chama a atenção é a vivacidade dos argumentos, mesmo daqueles que precisam justificar escolhas estapafúrdias.

Como o tom das respostas, em geral, é simpático e despreocupado, o leitor tem acesso a algo muito mais vivo do que uma chata discussão acadêmica. E acaba descobrindo que, por trás das invenções mais retumbantes, estão os "ovos de Colombo" que possibilitaram os grandes saltos dados pela civilização nos últimos 2 mil anos.

Cientistas, filósofos, empresários e jornalistas escolhem a maior descoberta da nossa era.

Há quem diga, como o neurocientista Marc Hauser, da Universidade Harvard, que a garrafa térmica é a mais extraordinária invenção humana, "afinal, ela mantém o que é frio frio e o que é quente quente. Mas como é que ela sabe?!" A piada de Hauser não é das melhores, mas o livro As Maiores Invenções dos Últimos 2.000 Anos, no qual ela foi publicada, tem idéias brilhantes. Nele, três ganhadores de Prêmio Nobel e best-sellers de literatura científica, como Jared Diamond, Howard Gardner, Richard Dawkins e John Maddox, votam na maior invenção da humanidade desde o ano 1.

Como os textos são curtos, a leitura é leve - às vezes quase superficial. Mas a originalidade e a força dos argumentos se destacam. A psicóloga Susan Blackmore, da Universidade do Oeste da Inglaterra, indicou a pílula anticoncepcional, alegando que, ao diminuir o número de filhos, as mulheres ficaram menos ocupadas com o lar e passaram a dividir com os homens a tarefa de produzir cultura, modas e hábitos. Ou seja, mudou o mundo.

O matemático John Barrow, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, lembrou o sistema numérico indo-arábico.

Se ainda tivéssemos que contar como os romanos, com I, II e III, o cálculo se tornaria impossível. Com ele, quase toda a ciência, a economia e a tecnologia modernas.

Já o pintor americano Henry Warwick argumenta que nenhuma invenção merece o título. Afinal, todas têm um lado ruim - ou seja, "radioatividade acaba em Chernobil, computador em site pornográfico na Web e anestesia em plástica para velhas estrelas de cinema". Até o avanço da Medicina tem seu lado negativo: "Não acho uma boa idéia as pessoas viverem 300 anos. Não agüentaria mais 180 anos de Adolf Hitler".

O vencedor das indicações foi a imprensa com tipos móveis, que levou os livros às massas. Como escreveu Leon Lederman, ganhador do Nobel de Física de 1988, "a maior invenção dos últimos 2 000 anos é a imprensa. Depois, a garrafa térmica".