Anarquismo na Itália

Os sucessores de Malatesta, assistiram pasmados ao enfraquecimento do anarquismo italiano depois da Segunda Guerra Mundial. Depois do fracasso da reconstrução da USI- União Sindical Italiana- as discuções passaram a ser apenas de nível ideológico. O tradicional humanismo anarquista influenciou e organizou os anarquistas só em relação à suas preocupações quanto as perdas do anarco-sindicalismo, que estava perdendo espaço na organização dos trabalhadores, para o reformismo. Este reformismo foi marcado por lutas dispersas sem nenhum conteúdo radical ou realmente revolucionário.

Pouco antes do ano de 1965, os antarquistas italianos fundaram a FAI- Federação Anarquista Italiana-, que tentou fazer um pacto de federações com os humanitaristas, anarco-comunistas e os sindicalistas. Em 1968 a FAI sofreu divisões internas, das quais saíram os Grupos de Iniciativa Anárquica- GIA-, que eram pequenos grupos pacifístas, que defendiam a autonomia pessoal e era contra qualquer participação nos órgãos do sistema, inclusive nos sindicatos.

Outra divisão gerou os GAF- Grupos Anarquistas Federados-, que duraram até 1971 e tentaram criar uma "base teórica para os grupos de afinidade".

Outra corrente formada destas cisões foi a dos comunistas libertários ou anarco-comunistas que tinham com plataforma a organização elaborada pelos russos exilados na França. Aliados a outros grupos anarco-comunistas, formados fora da FAI eles formaram núcleos de defesa sindical em cidades e fábricas.

Os anarco-sindicalistas são até hoje fortes na região da Toscana e trabalham para reconstruir uma oposição sindical revolucionária dentro dos sindicatos considerados reformistas.

A ascensão destas correntes da FAI foi em 1977, com o movimento estudantil. Eles defenderam a autonomia nas fábricas e escolas, apoiaram o feminismo, os grevistas e os marginalizados em geral: presos, homossexuais, ecologistas, etc.. Em setembro deste mesmo ano se reuniram mais de 40.000 jovens em um congresso em Bolonha. Eles dormiram em praças, comeram através das cooperativas agrárias, levaram jogos e esportes por toda a cidade e denunciaram a violência policial.

Desde o século passado que a Itália tem características muito particulares quanto aos seus movimentos libertários. O primeiro periódico italiano, o "II Proletário" era prodhoniano, apesar deste ter pouca influência posteriormente. Mas um dos líderes do "Rissorgimento", Carlos Pisacane, foi quem difundiu as idéias e teorias de Proudhon, tendo nitidamente um caráter libertário.

A Fraternidade Internacional de Bakunin marcou simultaneamente o surgimento do anarquismo na Itália e seu internacionalismo. Seu primeiros camaradas foram Guiseppe Fanelli, veterano francês de 1848, sendo quem praticamente fez nascer o anarquismo na Espanha, já que foi o representante da ala antiautoritária da I Internacional; Severino Friscia, médico homeopata de grande importância na Fraternidade; Carlos Gambuzzi, advogado íntimo de Bakunin, fiel colaborador e amante da mulher deste; e Alberto Tucci, um napolitano membro da cúpula internacional da Fraternidade.

Apartir de 1869, o anarquismo passou a influenciar muito a Itália, no início apenas no centro e mais tarde por toda a península. Em 1871 houve a adesão de muitos membros, entre eles Malatesta, Carlo Cafiero, Carmello Palladino, todos com mais ou menos 20 anos e com grande disposição libertária. Com o crescimento da Internacional, Bakunin teve maior apoio contra Marx e Angels. O maior centro anarquista foi a Romagna, sobre a regência de Andréa Costa.

Em 1873, o governo reprimiu e prendeu muitos membros de um congresso em Bolonha. Durante o ano seguinte os internacionalistas contaram com 30.000 membros da causa. Dois anos depois Carlos Cafiero e Malatesta partiram para o campo aberto propondo a "propaganda pela ação" como tática para os anarquistas de todo o mundo. Esta doutrina dominou os atos anarquistas europeus até 1890. Conforme explicitou Andréa Costa a ação violenta era necessário no país para iluminar o novo ideal entre os velhos camaradas que já estavam desanimados. Eles criaram organizações secretas e revoltas violentas em vários locais, mas todas fracassaram. Isto resultou em muitas prisões que acabaram cessando o anarquismo apesar da simpatia popular para com este movimento, principalmente no reinado Vittorio Emanuele.

Aos poucos os italianos esqueceram o coletivismo de Bakunin e passam ao anarco-comunismo. Ao mesmo tempo começaram os atos de violência: um cozinheiro tentou espancar o novo Rei Umberto; no dia seguinte uma bomba matou quatro pessoas num cortejo real em Florença; dois dias mais tarde outra bomba foi detonada em Piza. Neste mesmo ano, 1878, intensificaram-se os atentados, mortes e prisões anarquistas.

Andrea Costa abandonou a causa, se elegeu para a câmara dos deputado e ajudou na fundação do Partido Socialista Italiano.

Carlos Cafiero, em 1882, convocou os anarquistas para uma entrada em massa na social-democracia. O proletariado italiano passou a apoiar o socialismo parlamentar, reduzindo os anarquistas à minoria. Estes, sobreviveram graças às atividades incessáveis de Saverio Merlino e Malatesta. Como em toda Europa, no começo do século a Itália sofreu o renascimento das ações libertárias com o anarco-sindicalismo.

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