Maximino veio juntar-se a Melaine. Ela o viu e ficou triste. Estranhou, porque achava que todo mundo na região sabia que ela "fugia de todas as companhias". Resmungando, o aceitou pondo como condição que ele não a incomodasse. "Pode deixar, eu me comportarei dereitinho", ele respondeu.
"Eu me divertia sozinha com as flores", escreve Melaine. Falava com elas sem mais nem menos, e Maximino, estupefato, ria dela e lhe dizia que não fizesse aquilo, pois as flores, para ele, não tinham olheras. O som do sino da Salete marcava a "hora do Angelus". Melaine rezava enquanto Maximino tirava o chapéu e guardava silêncio. Assim, chegou a hora de comer. Tirou o pão da mochila e, como costumava fazer, fez uma grande cruz com a ponta da navalha; no centro, abriu um pequeno buraco... "Se o diabo estiver, saia; se o bom Deus, fique." Assim falou Melaine; mas Maximino, que não parava de rir, jogou o pãp para ela ladeira abaixo, de um pontapé. Não se aborreceram e continuaram comendo.
No dia seguinte, 19 de setembro de 1846, voltaram a encontrar-se. Maximino se acostumara com Melaine; escutava atentamente o que ela dizia às flores... E se propôs que ela lhe ensinasse um jogo. Melaine disse: "vamos fazer um 'paraíso'." Puiseram-se a colher flores, uma boa quantidade. Não havia pedras no local, de modo que Melaine propôs conduzirem os animais até "uma pequena planície perto da ribanceira", onde as encontrariam. Partiram para a tarefa; terminaram, e Melaine explicava e Maximino o símbolo. ficaram olhando; o sono bateu neles, afastaram-se alguns passos e deitaram para dormir sobre a relva.
Ao acordar, Melanie não viu o gado. Chamou seu companheiro, enquanto subia a colina. Do cume, viu os animais deitados, muito tranqüilos, em outro prado.
Eu descia e Maximino subia quando de repente vi uma bela luz, mais brilhante que o Sol.
Chamou a atenção de Maximino e este gritou, jogando do chão o pau que trazia. viram aquela luz intensa, que não fazia mal, arrendondada, rasgando-se, e dentro dela apareceu uma belíssima Senhora, ainda mais luminosas, sentada sobre o paraíso feito por eles. "Meu Coração",conta Melaine "Queria correr mais depressa que eu." No início, tinha o rosto entre as mãos; parecia chorar muito. E então, a Senhora ficou de pé, crusou os braços sobre o peito e pediu-lhes cortesmente que se aproximassem. tinha "uma grande notícia" a anunciar-lhes. Bem na frente dela, muito perto, a Senhora começou a falar. Dos olhos Dela, caíam lágrimas constantes, que não cessaram durante todo àquele tempo extraordinário. A sua mensagem era profética, apocalíptcia, cheia de misericórdia, e Ela repetiu que o homem, se trabalha, deve santificar as festas, pois a sofreguidão do trabalho, da produção cega, é viciada, acaba maldizendo as colheitas dos campos, tornando-os estéreis e atraindo castigos sobre vidas e bens. A virgem disse-lhes o seguinte, para que o transmitissem a todos.
"Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade!"
"Se meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar cair o braço de meu Filho. É tão forte e tão pesado que não o posso mais"
"Há quanto tempo sofro por vós"
"Dei-vos seis dias para trabalhar, reservei-me o sétimo, e não mo querem conceder! É isso que torna tão pesado o braço de Meu Filho"
"E também os carroceiros não sabem jurar sem usar o nome de meu Filho. São essas as duas coisas que tornam tão pesado o braço de meu Filho"
"Se a colheita for perdida a culpa é vossa (...) Orai bem, obrai o bem."
"Se a colheita se estraga, e só por vossa causa, Eu vo-lo mostrei no ano passado com as batatinhas: e vós nem fizestes caso! Ao contrário, quando encontráveis batatinhas estragadas, juráveis usando o nome de meu Filho. Elas continuarão asssim, e neste ano, para o Natal, não haverá mais"
A palavra "batatinhas",em francês: "pommes de terre", deixa Melania intrigada. No dialeto da região, se diz "la truffa". E a palavra "pommes" lembra-lhe o fruto da macieira. Ela se volta então para Maximino, para lhe pedir uma explicação. A Senhora porém, adianta-se dizendo:
"Não compreendeis, meus filhos? Vou dize-lo de outro modo"
A Senhora repete, as últimas frases no dialeto de Corps, língua falada correntemente por Maximino e Melânia, a Bela Senhora prossegue sempre no dialeto:
"Se tiverdes trigo, não se deve semea-lo. Todo o que semeardes será devorado pelos insetos, e o que produzir se transformará em pó ao ser malhado"
"Virá grande fome. Antes que a fome chegue, as crianças menores de sete anos serão acometidas de trevor e morrerão entre as mãos das pessoas que as carregarem, Os outros farão penitência pela fome. As nozes caruncharão, as uvas apodrecerão"
De repente, a Bela Senhora continua a falar, mas somente Maximino a entende. Melânia percebe seus lábios se moverem, mas nada entende. Alguns instantes depois, Melânia por sua vez, pode ouvir, enquanto Maximino, que nada mais entende, faz girar o chapéu na ponta do cajado ou, com a outra, brinca com pedrinhas no chão. - "Mas nenhuma sequer tocou os pés da Bela Senhora!", excusar-se-ia alguns dias mais tarde.- "Ela me disse alguma coisa ao me dizer: Tu não dirás nem isso. Depois, não compreendia mais nada, e durante esse tempo, eu brincava".
Assim a Bela Senhora falou em segredo a Maximino e depois a Melânia. E novamente, os dois em conjunto ouvem as seguintes palavras:
"Se se converterem, as pedras e rochedos se transformarão em montões de trigo, e as batatinhas serão semeadas nos roçados"
"Fazeis bem vossa oração, meus filhos?"
Respondem as crianças. "Não muito Senhora",
"Ah! Meus filhos, é preciso faze-la bem, à noite e de manhã, dizendo ao menos um Pai Nosso e uma Ave Maria quando não puderdes rezar mais. Quando puderdes rezar mais, dizei mais"
"Durante o verão, só algumas mulheres mais idosas vão à Missa. Os outros trabalham no domingo, durante todo o verão. Durante o inverno, quanto não sabem o que fazer, vão a Missa zombar da religião. Durante a Quaresma vão ao açougue como cães"
"Nunca viste trigo estragado, meus filhos"
"Não Senhora," responderam eles.
Então Ela se dirige a Maximo:
"Mas tu, meu filho, tu deves te-lo visto uma vez, perto do Coin, com teu pai. O dono da roça disse a teu pai que fosse ver seu trigo estragado. Ambos fostes até lá. Ele tomou duas ou três espigas entre as mãos, esfregou-as e tudo caiu em pó. Ao voltardes, quando estaveis a meia hora de Corps, teu pai te deu um pedaço de pão dizendo-te: "Toma, meu filho, come pão neste ano ainda, pois não sei quem dele comerá no ano próximo, se o trigo continuar assim"
Maximino responde "É verdade, Senhora, agora lembro. Há pouco não lembrava mais".
E a Bela Senhora conclui, não mais em patois, e sim em francês:
"Pois bem, meus filhos, transmitireis isso a todo o meu povo."
Terminou assim a aparição daquela grande Senhora após um diálogo com as crianças. Deu meia-volta; cruzou o corregozinho, que tinha agua e ficava seco em alguns períodos do ano, e a partir daquele momento já nunca pararia de fluir; continuou subindo até a colina onde Melaine estivera antes. Ela andava, mas as plantas de seus pés não esmagavam a relva, quase não dobravam os talos. Melaine correu e a contemplou de novo lá no alto. Teve a visão mistica de seus olhos. E depois desse presente, viu o rosto e a figura da Senhora desaparecendo à medida que a luminosidade aumentava, como funcindo-se com a luz, até a imagem sumir e restar apenas o fulgor, que aos poucos acabou sendo também absorvido aos olhos de Melaine.
Desceram para o povoado mais rápido do que era de costume. Assim que chegaram, Melaine não falou, mas Maximino não agüentava esperar. Os dois tinham vistos e ouvido a grande Senhora, e ela lhes falara. "O vestido era branco prateado, não de pano, mas de "glória". Muito bela, tudo Nela "respirava magestade, esplendor, a magnifiência de uma Rainha imcomparável". Trazia sobre a cabeça uma coroa de rosas "que não eram da terra"; elas mudavam e emitiam raios. Das rosas surgiam feixes de ouro e multidão de outras florezinhas, misturadas com pedrinhas preciosas. Aquele diadema "brilhava mais que o nosso Sol da terra". tinha um Cruz pendurada, com um Cristo; num dos extremos, um martelo, e no outro, um torquês. Sua voz era doce; e quanto aos olhos, para que falar dos olhos? Melaine tenta, mas nada é comparável a eles; nem os diamantes, nem as pedras preciosas jamais achadas... nada. Ela aparecera com um avental em cima do vestido, segundo era costume das camponesas do lugar. Esta peça e os sapatos eram tão sublimes e formosos quanto o vestido...
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