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"O bom gosto de ser tricolor"
Vitral de AlmeidaTricolores do céu e da terra, é hora do reconhecimento. O futebol brasileiro tem muito a agradecer ao Fluminense, e vice-versa. Estranho, logo no primeiro parágrafo, ler esta palavra vice em um texto sobre um clube tantas vezes campeão, nacional e internacional.
Explico: o futebol brasileiro deve agradecer ao Tricolor das Laranjeiras pelo pioneirismo do clube na implantação do profissionalismo e ao seu fundador, Oscar Cox, por ter trazido uma bola de couro ao Rio, objeto único na cidade no começo do século. O Flu também deve um "obrigado"ao futebol brasileiro. Um, não, vários, a urubus, bacalhaus, foguinhos e timões da vida, que tantas alegrias nos vêm dando.
Para ser tricolor, é preciso, antes de tudo, ter bom gosto. Tenho dúvidas se se nasce tricolor. Mas a partir do momento em que a pessoa adquire discernimento - virtude não de tantos assim -, ela vira torcedora do Fluminense. Não importam a idade, classe social, endereço, naturalidade, filiação. Importa, sim, o bom gosto. Nélson Rodrigues, um dos nossos orgulhos além-gramado, dizia que nossa torcida era tão grande e diversificada que até entre os mandarins e esquimós acharíamos pares.
Somos uma elite, sim, mas uma elite democrática, aberta a todos os que sabem optar pelo melhor. Acho até que inventamos o urubu tão-somente para afastar de nossa arquibancada as pessoas que desprezam o fefinamento. É mais ou menos como um trilha sonora de novela que é desmembrada de CDs single de Chico Buarque e Chitãozinho e Xororó. É lógico que em quantidade a dupla caipira será imbatível na venda. Mas alguém tem dúvidas sobre o disco de melhor qualidade?
É um sentimento genuíno e exclusivo do tricolor torcer para o mesmo time de Cartola, Chico Buarque, Tom Jobim, Sérgio Porto, Nélson Rodrigues, Braguinha, Arthur Moreira Lima, Jô Soares, Millôr Fernandes e Mário Lago, sem contar a ala mais jovem de Evandro Mesquita, Fausto Fawcett e Susaninha Werner.
Se na arquibancada nossa companhia é a melhor possível, dentro de campo não há do que se queixar. Nosso desempenho esportivo é invejável a qualquer time do planeta. Sim, somos o único clube das Américas a ser premiado com a Taça Olímpica, o que já encerra qualquer papo sobre os esportes de quadra e piscina.
No futebol, nossas glórias são covardia. Respire fundo para não interromper a leitura: temos seis títulos nacionais; somos os recorditas de títulos estaduais - os campeões do século - e único time tetra na competição; somos o único penta da Taça São Paulo; e, para concluir, foram dois tricolores os personagens providenciais na conquista do tetra mundial: Parreira e Branco.
Temos a melhor torcida, os títulos mais importantes e o estádio mais charmoso do país, palco da primeira conquista internacional da Seleção, o Sul-Americano de 1919.
Neste fim de século, nosso desempenho deixa a desejar. Mas seremos pioneiros de novo, contribuindo para a moralização do futebol brasileiro. E, como bem disse o grande Chico Buarque: Vai passar.
Entre e desfrute dos prazeres de ser tricolor!