PAYSANDU SPORT CLUB
Do Paysandu, no alvorecer do século, foi ocasionado pelo inconformismo reinante entre os componentes do Norte Club também chamado de Time Negra (por causa de seus calções brancos e camisas pretas), contra a Diretoria da Liga Paraense de Foot-Ball, que considerou improcedente recurso interposto, através do qual pediam a anulação da partida Norte Club 1 x 1 Guarany, realizada a 15 de novembro de 1913, cujo resultado deu ao grupo do remo (atual Clube do Remo), o título de campeão paraense de futebol daquela temporada.
Primeiro Time do Paysandu Sport Club - 1914
Em pé, o zagueiro Bayma, o goleiro Romariz e o zagueiro Sylvio.
Ajoelhados, no meio, Jaime, Moura Palha e o inglês Mittchel.
Sentados, Mattheus, autor do primeiro gol, Guimarães, Garcia, Hugo Leão e Arthur Moraes
O campeonato de 1913 estava chegando ao seu final. O Norte Club realizava uma boa campanha e tinha sérias aspirações ao título máximo. Para tanto, teria que derrotar o Guarany naquela partida, jogada dia 15 de novembro de 1913. A vitória daria chance ao Norte Club de disputar contra o Grupo do Remo, uma partida extra, o título de campeão de 1913. O Remo já havia cumprido toda a tabela e estava na liderança, somente esperando o resultado do jogo Norte Club x Guarany.
A partida entre o Norte Club e o Guarany foi realizada, como estava prevista, no dia 15.11.13 e encerrada com o placar de 1 x 1, o que beneficiou o clube do Remo, que, desse modo, sagrou-se campeão paraense daquela temporada, sem que houvesse necessidade de jogar a partida extra.
Os integrantes do Norte Club, inconformados com o resultado da partida contra o Guarany, oficiaram à Liga, solicitando "a anulação da mesma, por diversas irregularidade havidas".
A Liga recebeu o ofício do Norte Club e a 20 de novembro de 1913 reuniu-se, para julgá-lo. Contando com o apoio da Assembléia Geral, a Diretoria da Liga Paraense de Foot-Ball julgou "improcedente o recurso interposto pelo Norte Club, que pedia a anulação da partida realizada entre o recorrente e a equipe do Guarany , validando para todos os efeitos o mencionado jogo, que teve o resultado de 1 x 1".
A decisão da Liga não agradou nem um pouco aos integrantes do Norte Club, os quais, insatisfeitos, resolveram tomar posição para que sua associação se tornasse mais forte e pujante, a fim de que pudesse enfrentar em igualdade de condições os seus adversários e até mesmo superá-los.
Hugo Manoel de Abreu Leão, que jogava no Norte Club, era o líder do movimento destinado à fundação de uma nova agremiação. Os integrantes do Grupo do Remo chegaram até a convidá-lo para ingressar no time campeão de 1913, idéia que foi repelida, de imediato por Hugo Leão com a seguinte frase:
- Vou fundar um Clube para supera o Grupo do Remo!
Reuniões se sucederam e os componentes do Norte Club acabaram por decidir a extinção da agremiação, fundando-se em breve espaço de tempo uma outra, com nova denominação e mais forte que o Norte Club, de vez que deveria contar com o concurso de numerosos desportistas de outras agremiações que disputaram o certame da Liga, em 1913 e das quais pediriam desligamento.
No dia 7 de dezembro de 1913, domingo, o jornal "O Estado do Pará", na sua 3a página, Coluna "Chronica Sportiva " publicava a 1a nota convocativa dos elementos que iriam fundar a nova agremiação na capital paraense. Ei-la, na íntegra:
"PAYSANDU CLUB
Entre elementos esportivos de valor e da "elite" belemense , por iniciativa de nomes acatados em nosso meio, deverá em reunião a realizar-se nesta Capital, fundar-se sob o nome de Paysandu Club, uma sociedade esportiva que iniciará logo suas secções de remo e "foot-ball".
Folgamos assim em registrar essa notícia, porquanto, conhecendo bem a capacidade e esforço dos organizadores do Club, neles vemos a mais real segurança para, em certo prazo, elevar a sua iniciativa ao nível dos mais antigos e melhores que possuímos.
São elementos esparços até agora do antigo Norte Club, cujo denodo fê-lo invencível na recente época do foot-ball, sendo a sua "team" a única que não conseguiu os "players" do Grupo do Remo bater na disputa do campeonato de 1913, assim como outros que se achavam retraídos no momento.
Tal acontecimento é motivo de congratulações, no seio de nossos homens esportivos e na sociedade, pois é mais uma roda selecta que se forma para o bom convívio social, onde seus fundadores e sócios escolhidos gosam de estima e consideração grangeadas pelas qualidades morais e finos que possuem.
Antecipamos votos de prosperidade à novel Associação sportiva".
A primeira nota anunciando o surgimento da nova agremiação teve a repercussão entre os desportistas paraenses, inclusive junto a integrantes de outras agremiações, pois muitos se sentiam insatisfeitos em seus clubes e o aparecimento de um novo núcleo esportivo seria uma grande oportunidade para muitos poderem mostrar suas reais qualidades, o que, por um motivo ou outro não podiam fazer em seus times.
No dia 29 de janeiro de 1914, o jornal "O Estado do Pará" voltava a tratar sobre a fundação da nova agremiação esportiva, inserindo na Coluna "Chronica Sportiva", a seguinte nota:
"Um grupo numeroso de denodados 'sportmen' , muitos quais de saliente figura nos 'matchs' realizados no ano findo pela Liga, cogita fundar nesta Capital de foot-ball. Para esse fim estão convidados os interessados a comparecer no dia 2 de fevereiro próximo, às 8 horas da noite, no prédio à rua Pariquis, 22, onde terá lugar a reunião".
Ainda o jornal "O Estado do Pará", na edição de 1o de fevereiro de 1914, assim se reportava sobre a fundação do novo Clube:
"Amanhã, às 8 horas da noite, em casa n.º 22, à rua Pariquis, realizar-se-á importante reunião que terá por fim assentar as bases de uma nova sociedade esportiva, em Belém. Os elementos que irão constituir a nova agremiação são, na sua maioria, denodados 'sportmen' que, na temporada última, conseguiram manter em linha de destaque a simpatizada 'Team Negra', tornando-a invencível em todas pugnas travadas. Daí o prevermos que será valorosa e forte a nova "Team" de 'foot-ball'.
No dia 2 de fevereiro de 1914, data de fundação do Paysandu, o jornal "O Estado do Pará" inseria a última nota, convocando desportistas para que tomassem parte na fundação do Paysandu.
"Estão convidados todos os interessados na fundação do novo clube de 'foot-ball' , a comparecer hoje, às 8 horas da noite, no prédio à rua Pariquis , 22. Sabemos que reina desusado entusiasmo entre os 'sport-men' que pretendem fundar mais esse núcleo esportivo, pugnando muitos para que tome o nome de 'Team Negra', continuado, assim, as gloriosas tradições dessa invencível e bastante simpatizada 'Team'."
As convocações feitas pelo jornal "O Estado do Pará" surtiram o efeito desejado, fazendo com que comparecessem à reunião 42 desportistas, muitos dos quais haviam integrado o Norte Club e outros de agremiações diferentes, como, por exemplo, do Internacional Sport Club, ou Recreativa.
A reunião foi iniciada às 20,15 horas de uma segunda fira, 2 de fevereiro de 1914, na residência de Abelardo Leão Conduru, que ficava localizada à rua do Pariquis, 22, entre as travessas Apinagés e São Matheus (atual Padre Eutíquio)
Por unanimidade, a assembléia escolheu o desportista Hugo Leão, o mais entusiasmado com a idéia da fundação da nova agremiação, para presidir os trabalhos, escolha essa feita à unanimidade.
Hugo Leão como líder do movimento e na qualidade de presidente da reunião, convidou o desportista Humberto Simões para funcionar como secretário. Em seguida, tomou posse como presidente da sessão, passando a esclarecer a finalidade da reunião que era a da constituição de uma nova Agremiação Esportiva, propondo, ao mesmo tempo, a denominação de Paysandu Foot-Ball Club, "como homenagem ao feito glorioso e heróico da Marinha de Guerra Brasileira ao transpor o Passo do Paysandu, na guerra contra o Paraguai".
A sugestão de Hugo Leão foi motivo de acirrados e acalorados debates na assembléia, que logo se dividiu em duas alas , uma a favor da proposição de Hugo Leão e outras contrárias, pugnando pela denominação Team Negra Foot-Ball. Os debates já se prolongavam por mais de meia hora, até que Hugo leão colocou em votação uma proposta, que era a da maioria dos presentes. Edgar Proença requereu que a votação fosse feita nominalmente, o que foi aprovado.
Feita a votação, registro-se a vitória, por maioria de votos dos 42 desportistas presentes, escolhendo-se a denominação de Paysandu Foot-Ball Club.
Em seguida Hugo Leão dirigiu-se à platéia com palavras de agradecimento pela aprovação de sua proposta, que analisou como uma prova de consideração e cavalheirismo da mesma para com a sua pessoa, e da qual não ser merecedor, porque se encontravam outros mais dignos e que constituíam uma pléiade de valorosos "sportmen".
Durval Carneiro pediu a palavra e passou a fazer considerações várias e terminou requerendo da assembléia que fosse feita a aclamação da primeira diretoria, que iria gerir uma nova Associação, durante o exercício de 1914, composta dos seguintes membros: Presidente, Deodoro de Mendonça; vice-presidente, Eurico Amanajás; 1o Secretário, Arnaldo Morais; 2o Secretário, Humberto Simões; Tesoureiro, Gastão Valente; Comissão de sindicância e Fiscal, Pedro Paulo Penna e Costa, Manoel Marques e Edgar Proença; Delegado perante a liga de Foot-Ball, Hugo Leão.
A Assembléia tratou ainda da escolha dos nomes dos associados que passariam a integrar uma comissão, destinada a redigir os Estatutos do Clube, recaindo a escolha nos nomes de Deodoro de Mendonça, Eurico Amanajás e Arnaldo Morais.
Não foram escolhidos na reunião de fundação do Clube os capitães dos 1o e 2o times, porque não estavam ainda os mesmos organizados, o que seria feito no tempo oportuno.
Por último, deliberou-se que o número de sócios não excederia os 50, sendo considerados como fundadores os 42 presentes à reunião, que foram os seguintes:
Deodoro Machado de Mendonça,, Eurico Amanajás, Gama e Lobo, Arnaldo Morais, Hugo Manoel de Abreu Leão, Humberto Simões, César Coutinho de Oliveira, Waldemar Macedo, Gastão Valente, Edgar de Campos Proença, Pedro Paulo Penna e Costa, Humberto Macedo, Amadeu Simões, Abelardo Leão Conduru, Heraclito Gurjão, Durval Carneiro, Adalberto Santa Rosa, Mário Gurjão, Manoel Marques Guerra, Ângelo Marques Guerra , Arthur Moraes, Leonel das Neves, Renato Christo, Renato Amanajás, José Penna e Costa, João Barata, Alberto José Leôncio, Manoel Oliveira da Paz, Hugo Mattos, Joaquim Pinto, Antonio Gonçalves, Antonio Garcia, Joaquim Infante de Castro (Sady) , Sylvio Serra de Morais Rego, Antonio Pessoa, Eduardo Pessoa, Antonio Linhares, Waldemar Linhares, Frederico da Costa e Silva, Miguel Pernambuco Filho, Bladgen Barata, Mário Paiva.
A sessão foi encerrada às 22:30 horas em meio de uníssonas palmas e vivas, tendo o presidente, Hugo Leão agradecido o comparecimento de todos, convocando-os para uma nova reunião, para o dia 10 de fevereiro, no mesmo local.
*Fonte: "A História do Paysandu Sport Club 1914 - 1998" |