Quem diria, o sertão já foi mar. Há 350 milhões de anos, quando começou a se formar o Jalapão era o fundo enrugado de um oceano. Há 280 milhões de anos o esfiiamento da temperatura da Terra aprisionou a água congelada nos pelos e rebaixou o nível dos mares. Surgiram continentes, montanhas e, no leste da América do Sul, uma vasta superfície aplaina-da. Durante milênios, a erosão desgatou esses terrenos, gerando as serras baixas típicas do Planalto Brasileiro. Então, lentamente, no Período Cretáceo, há 60 milhões de anos, emergiram o Espigão Mestre e a Chapada das Mangabeiras, delimitando, no seu interior o Jalapão.
Se a Geologia caprichou, a História também deu uma boa mão. A região foi pouco alterada nos 500 anos de formação do Brasil e chegou quase despovoada aos dias de hoje. Tem só 26000 habitantes. Adensidade demográfica é de 1,3 indivíduo por quilómetro quadrado, igual à do Estado do Amazonas. Uma erva abundante, a Jalapa-do-Brasil (Qperculiona macrocarpa), deu o nome a um território de 34 113 quilômetros quadrados, maior que o Estado de Alagoas.
A paisagem é aquela descrita pelo escritor João Guimarães Rosa (1908-1967) em Grande Sertao: Veredas, considerado um clássico da literatura universal: bela, rude e grandiosa. Apesar das queimadas, o Jalapão é tão grande que ainda contém santuários ecológicos com animais selvagens, rios transparentes e inúmeras cachoeiras. Tem chapadões de 800 metros de altura e dunas de areia. O solo, árido, pouco apropriado para a agricultura, sustenta savanas, matas de galeria (aquelas que crescem nas margens dos rios), e palmeirais de buriti. Não faltam lagos, pedras bizarras esculpidas pelo vento, canyons profundos e até pinturas rupestres, nunca estudadas, de povos indígenas pré-históricos. Cenário para qualquer escritor ficar deslumbrado.