Nos idos tempos de 1916, a Comarca de Santa Cruz esteve sob a jurisdição da Comarca do Acari, no impedimento do titular efetivo, quando foi convocado o júri dali para julgamento de dezoito processos com trinta e dois réus.
Era meu pai Promotor Público do Acari, sendo juiz de Direito o Dr. Celso Sales, que o advertiu da necessidade imprescindível da sua presença no julgamento, sob pena de ser obrigado a desconvocar o júri.
No dia aprazado, compareceu meu pai, tendo pernoitado na véspera na Aba da Serra, de onde saíram a cavalo, ele e seu tio Cel. José Bezerra. Ao chegarem a Santa Cruz, as notícias logo se espalharam de que meu pai estaria no bolso do seu tio Cel. José Bezerra.
Teve início o júri; a casa estava cheia, meu pai apresentou-se à sessão. Foram julgados dois processos, cujos crimes tinham pouca repercussão.
No dia seguinte, entrou em julgamento o terceiro processo com três réus, precisamente o de interesse do seu tio José Bezerra.
O deputado Cunha Lima era o encarregado da defesa. Dois réus foram absolvidos e um condenado à pena mínima. Em meio aos debates, levantou-se da assistência o seu tio José Bezerra, que voltou à Aba da Serra. Meu pai apelou das absolvições. Muito embora tenham viajado juntos, não houve entre eles nenhum entendimento sobre esse julgamento. Desde o primeiro dia de julgamento até o último, agiu do mesmo modo, de acordo com a sua consciência.
Em casa de Ezequiel Mergelino, onde estava hospedado, pediu-lhe a sua senhora que fosse benevolente para com o seu protegido que ia ser julgado. Respondeu-lhe meu pai: "A Justiça para ser reta precisa ser imparcial". Depois do último julgamento, o presidente do júri fez um relatório ao Governador do Estado, que respondeu agradecendo e dizendo em certo trecho o seguinte:
"APLAUDO-ME DA CORREÇÃO COM QUE SE HOUVE O NOSSO AMIGO
DR. FÉLIX BEZERRA, QUE SOUBE MAIS UMA VEZ CONQUISTAR UM RESULTADO
QUE TODOS NÓS DEVEMOS ABENÇOAR."
Página inicial | Felu & Mely | Raízes | JequitiNET |