Escreveu Pedro Taques:
No anno de 1599 occuparam a ilha de S. Sebastião trez náos
de hollandezes inimigos, contra os quaes madou D. Francisco de Souza por
sua provisão datada em S. Paulo a 7 de Junho do mesmo anno sahir
se S. Paulo um soccorro de gente, que se incorporou em Santos ao capitão
de infanteria Diogo Lopes de Castro com os moradores das villas de Santos
e S. Vicente, para irem atacar o inimigo hollandez. No anno de 1601 os
mesmos hollandezes occuparam os mares da ilha de S. Sebastião cum
uma grande urca chamada Mundo Dourado ( esta talvez seria a mesma assim
chamada que em 1599 veio ao porto de Santos, e só de direitos que
pagou a fazenda real, se encarregou em receita ao almoxarife João
de Abreu 6:129$678 réis); e navegando um religioso benedictino com
varias pessoas em um barco, e outras em uma canôa para o Rio de Janeiro,
foram todos captividados pelos ditos inimigos.
Acudiram os moradores de Santos e S. Vicente por ordem de D. Francisco
de Souza, governador geral do Estado que n'este anno se achava em S. Paulo,
que mandou ao capitão-mor da capitania Gaspar Barreto que sahisse
com o corpo de mil homens e indios flecheiros em armadas de canôas
contra o pirata, para cujo effeito mandou o dito governador geral
assistir com polvora e bala, e mantimentos necessarios e ficaram victoriosas
as nossas armas e rendida a urca com todos os hollandezes cujo capitão
era Lourenço Brear, artilharia e mais munições
de guerra e prezas, que tudo se conduziu para o porto de Santos, onde por
espaço de 50 dias foi guardada a urca pelos moradores, fiando-se
esta importante conducta de atividade e seja e zelo de Manoel Pereira Lobo,
moço da camara de el-rei, e de Manoel Fernandes Cavaco. finalmente
desde 1641 1655 infestaram os hollandezes a costa do sul e portos de Santos
e S. Vicente, e no deccurso desses 14 annos deram de perda mais de 100.000
cruzados nos navios, barcos e fazendas que tomaram navegando de Santos
para o Rio de Janeiro. Existindo o pirata hollandez n'estes 14 annos, occupando
a costa, e apparecendo sobre a barra de Santos um navio, sahio o capitão
Manoel Affonso Gaya contra o inimigo sem mais embarcação
que uma canôa armada em guerra, e n'esta facção o acompanhou
seu genro Antonio Barbosa Sotto Maior, o qual em 1642 foi provido em capitão
da gente de Santos, que de antes occupara seo sogro Manoel Affonso Gaya.
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