Mark: Como é que você se envolveu em representação, então?
Claire: É uma história meio longa; normalmente todas as pessoas têm uma história meio longa para contar. Pratico dança moderna desde pequena. Participei de alguns pequenos espetáculos de dança no Lower East Side, e acredito que foi um impulso para que eu começasse a dançar. Aos onze anos, fui para o Lee Strasberg Performing Institute, onde aprendi mais sobre representação e fiquei apaixonada por teatro. Depois então fui para um colégio recém fundado de representação e dança, pois eu odiava minha escola de primeiro grau e queria sair dela.
Mark: Você então se identifica com sua personagem Angela, de My So-Called Life (Minha Vida de Cão), por ela também odiar a escola?
Claire: Sim. É difícil não se identificar com este tipo de coisa quando você é um adolescente. Mas Angela é uma personagem difícil de interpretar, pois ela fala sobre coisas a respeito das quais eu mesma ainda não tenho opinião formada. Portanto, é meio que...
Mark: ... aprender na prática!
Claire: Isso mesmo, é como estar mexendo na ferida. Parece meio sombrio, mas é verdade.
Mark: Como foi fazer o papel de uma adolescente em uma outra época, em Adoráveis Mulheres (Little Women)?
Claire: Tive que mudar radicalmente de uma menininha grunge dos anos 90, ou seja lá o que for, para uma personagem bondosa e singela. Foi bom finalmente estar fazendo algo diferente, pois eu já estava trabalhando em My So-Called Life por muito tempo. Mas Adoráveis Mulheres não fala somente a respeito da adolescência. Fala mais a respeito da relação entre as irmãs, e elas sendo como uma família. Uma parte muito importante do meu papel no filme é que eu morro, o que foi, para mim, uma experiência muito intensa. Não esperava que fosse tão difícil quanto foi. Eu tinha que mudar de maquiagem no trailer, para parecer que estava com escarlatina e isso era muito incômodo. Eu lembro que quando eu entrei no set pela primeira vez, as pessoas da equipe começavam a cochichar quando eu me aproximava delas. Elas abriam as portas para mim. Era difícil para minha mãe me ver daquele jeito, e era difícil para mim também.
Mark: A morte não é algo que os jovens pensam muito a respeito.
Claire: Em todos os estágios da sua vida você pensa sobre a morte. Mas o adolescente, em particular, considera-se invencível. Ele não consegue pensar em morte, senão teria muito medo de viver, Beth é vista como a irmã fraca e frágil, embora ela suporte o resto da família de várias maneiras, especialmente Jo (Winona Ryder), o que não deixa de ser irônico, pois Jo é a mais extrovertida, forte e corajosa.
Mark: Como foi aprender sobre este período da vida das mulheres atrvés da Beth?
Claire: Quando começamos, eu não sabia nada sobre este período. Eu havia lido a respeito. Nós recebemos um pequeno panfleto sobre modos e regras de etiqueta. Eu pensei: Droga! será que tenho mesmo que ler esta coisa toda? Será que eu tenho que memorizar isto tudo? Entre os assuntos , havia milhões de coisas que você pode fazer com um leque em uma festa, todos os protocolos de um flerte, ou então falando que as mulheres devem sentar com o corpo reto o tempo todo, e que devem vestir colete. E eu pensava: Que cruel deve ser viver assim. Que bom saber que mudamos tanto, embora ainda há muito a mudar. Como acontece com qualquer tipo de preconceito, não fazemos idéia dos vários níveis de discriminação que há contra a mulher. Se soubessemos o quanto ela já foi discriminada, poderiamos resolver esta questão.
Mark: O fato de você fazer um filme que lhe permite conhecer a raiz de um problema como este, deve dar a você uma nova compreensão.
Claire: Aprendi muito fazendo este filme. E me senti uma pessoa de sorte por trabalhar com um grupo tão forte das mulheres.
Mark: O que foi que você mais aprendeu a respeito de você mesma?
Claire: Meu Deus. Que pergunta difícil. Aprendi a admirar pessoas como Beth, que são ignoradas e menosprezadas. Quando comecei a fazer Adoráveis Mulheres (Little Women), eu dizia: Como é que vou fazer Beth? Não tenho nada em comum com esta personagem! Com o desenvolver das filmagens, pude perceber que nós éramos parecidas em certos aspectos.
Mark: Quais?
Claire: Nunca havia me considerado tímida, e então percebi que eu sou um pouco; eu apenas construo defesas para esconder minha timidez. Beth possui uma maturidade, que eu acho que posso também e talvez eu tenha trazido isto para esta personagem, esta coisa de compreender como as coisas funcionam em sua família. Ela é perceptiva, e eu sou também. Mas o que eu realmente respeitei em Beth, foi sua generosidade com os outros, algo do qual eu gostaria de ter um pouco mais. As pessoas me perguntam se eu teria amizade com a Angela se ela fosse de verdade, e eu respondo que não sei se teria. Porém me sinto bem com ela, e acho que temos muito em comum. Às vezes me sinto tão só quando estou trabalhando. Além das pessoas do programa, não existem muitos jovens da minha idade com quem eu possa sair. Estou próxima deles, mas não somos amigos fora do ambiente de trabalho. Portanto, Angela torna-se, de fato, uma amiga minha, sabe.
Mark: O que pensa a respeito do modo como as adolescentes são representados hoje em dia? Ou seja, essa coisa toda da Geração X.
Claire: Bem, o que é esta imagem para você? Esta coisa do acomodado? Ou do sem esperança? Ou do que é céptico? Acho que a minha geração está mais preocupada com suas espinhas no rosto, e em descolar um programa para Sexta-Feira a noite. Acho que esta é a realidade deles. Não sei se eles estão muito preocupados com o futuro.
Mark: É com este tipo de coisa que você mais se preocupa?
Claire: Você está falando sobre as espinhas e o programa de Sexta à noite? É claro que sim, e graça a Deus que eu me preocupo com isto. É sinal de que eu sou normal. Mas estou sempre refletindo sobre ser adolescente. Toda semana tenho que olhar no espelho do programa (My So-Called Life). Quando eu era pequena eu adorava aqueles filmes do John Hughes, como Sixteen Candles e The Breakfast Club, Fotloose é ainda um dos meus filmes prediletos. Eu ficava encantada com os adolescentes e eu queria muito ser um. E aqui estou eu em um desses programas, vivendo um adolescente.
Mark: Você acha que se um adolescente é uma boa hoje em dia?
Claire: É uma boa época. Mas acho também que, de um certo modo, as pessoas amdam com medo. É uma época um pouco assustadora, com a AIDS, toda a tecnologia, a mídia e tudo mais.
Mark: A escarlatina era como a AIDS na época de Adoráveis Mulheres. Mesmo aos quinze anos, hoje em dia você tem que pensar em AIDS.
Claire: Sim, mas eu não lindo com isto diretamente. Eu anida não pratico sexo. Mas é como uma nuvem de medo que te cerca. Esta ali, bem no fundo da sua consciência.
Mark: E por falar em medo, você alguma vez sentiu que os adultos tem medo dos adolescentes?
Claire: Sim, no sentido de que os jovens estão finalmente decidindo sozinhos, tornando-se menos dependentes ou predispostos a cometer besteiras. Os adolescentes possuem uma energia intensa a qual não pode ser mexida, e é muito particular desta idade. Eu acho que ela é muito poderosa e assustadora para os adultos. Pode haver também um pouco de inveja, pelo fato de os adolescentes terem corpos saudáveis e estarem prontos para cair no mundo. Isto pode ser ameaçador. A mudança causa medo, mas a maioria dos adultos não acham que isto seja verdade.
Mark: Sua vida mudou?
Claire: Parece que deu uma enorme volta de 180 graus. Quando comecei My So-Called Life, a minha família e eu mudamos para o outro lado do país. Deixei
todos os meus amigos para trás e agora vivo esta vida estranha como numa bolha. Fiquei mais próxima de uma porção de pessoas novas. Muita coisa aconteceu, e eu ainda estou digerindo
isto tudo, mas é bom. Eu queria que tudo acontecesse assim mesmo, e estou muito contente por dar uma parada no colégio. O trabalho abre novas perspectivas. Você não leva as
coisas tão a sério, e percebe que o mundo não vai acabar se você não for bem em uma prova de História. Mas o trabalho também te distancia um pouco dos outros jovens, o que é triste,
porque parece que não há volta. Eu me sinto muito diferente hoje em dia.
®traduzido por Eduardo Paulo de Araújo especialmente para o O Mundo de Claire Danes