Revista Sassy - Watch This Girl - 08/94
Por Maureen

Esta é uma história sobre uma menina da qual você nunca ouviu falar, um programa que tem de ver e o motivo pelo qual eu imploro que você preste atenção.

Em primeiro lugar, apresento Angela Chase, uma protagonista de 15 anos, de My So-Called Life, um programa que retrata a difícil chegada de sua maioridade na pacata Pensilvânia. Ela é de longe a adolescente mais descolada e realista a aparecer na amedrontada telinha. No primeiro episódio, ela pinta o cabelo de vermelho, abandona a melhor amiga, anda com os descolados de sua escola, começa a gostar de um atraente pateta, deixa seu anuário de lado porque não aceita hipocrisia (se você escrevesse sobre o que aconteceu na verdade, ela diz, seria um livro insuportável), é levada para casa por policiais depois de entrar escondida em um clube noturno e descobre que seu pai está traindo sua mãe. Angela está também passando por uma crise existencial, tentando entender quem ela é e quem são as pessoas com quem ela anda. Como ela diz parece que você concorda em ter uma certa personalidade para facilitar as coisas para todo mundo, mas quando você para pra pensar, como você pode saber que você está sendo você mesmo?

My So-Called Life, tendo a inteligente e cheia de alma Angela como centro, preenche uma grande lacuna de uma TV sem imaginação. Se a série 90210 Beverly Hills (Barrados no Baile) é cheia de brilho e cores My So-Called Life é meio escura e meio sombria, filmada em tons de marrom e cinza. Ela confere uma qualidade tênue aos corredores do colégio, fazendo você sentir-se incomodado pela imagem cheia de sombras. É diferente de outros programas moralistas que tem como objetivo dar lição de moral, este programa não ataca as grandes questões sociais em voga, ou seja, doenças sexualmente transmissíveis, sexo forçado e problemas universais de saúde, em um espaço de 53 minutos. Em vez disto, ele lida com questões menores e francas, como por exemplo a inquietação do pai de Angela, quando vê sua filha enrolada em uma toalha de banho. Em sua casa não existe jovialidade e alegria artificiais. Não existe aquele disfarce de angústia exagerada (Não sei o que dizer, Brandon!!), ou melodrama barato (Brenda corre aqui! Acho que a Laura vai se enforcar no teatro por não ter conseguido o papel na peça da escola!!!) Na verdade, My So-Called Life, faz de tudo para evitar o uso de sermão, como por exemplo quando Angela consegue ficar impune depois de mentir para os seus pais para poder sair para as festas da escola a noite. Nada de castigo, direto ou indiretamente. Angela é apenas uma garota que tenta entender por que ela odeia a sua mãe, porque as vezes se sente inexplicavelmente triste, e no geral qual é a dela.


Apresento agora Claire Danes que faz o papel de Angela Chase. No dia em que a vi no estúdio, ela se preparava para algumas cenas fortes. Em uma delas, eu estou na sala de uma assistente social, ela explica, e estou furiosa porque uma arma disparou na escola. Tem também um comentário se espalhando dizendo que Angela e Jordan Catalano(de quem ela gosta) transaram. É claro que Angela está mais irritada com o comentário do que com a arma. Entende o porque deste seriado ser interessante?


A própria Claire fez 15 anos recentemente e parece ser exatamente o oposto de Angela. Ela cresceu em Nova York com seu irmão mais velho e seus pais artistas. Minha mãe é pintora e meu pai é um fotógrafo. Ela diz que já dançava com 2 anos de idade e que cresceu nos sombrios teatros do Lower East Side de Nova York, onde fazem coisas de pequena expressão. Aos 10 anos, Claire decidiu tentar atuar e então se matriculou no prestigiado Lee Strasberg Theatre Institute. Nós tinhamos que praticar alguns exercícios estranhos, ela diz, do tipo imaginar que um ovo foi quebrado na sua cabeça e sinta as partes do seu corpo onde a gema atinge. Eu adorava aquilo. Ela conseguiu um papel em um filme estudantil em que fazia uma criança perturbada. Meus pais acharam que seria uma boa idéia pois eu conseguia dominar bem aquilo. Ela tinha apenas 11 anos. Fez também alguns filmes criados para TV e matriculou-se em Dalton, uma escola particular fácil de passar, em Nova York. Porém ela passou uma semana fazendo teste em Los Angeles, um dos quais para a série My So-Called Life. De repente ela se viu entre um novo emprego esperando por ela em Los Angeles e sua vida que ela deixaria para trás em Nova York. Quando eu soube que o show estava sendo reiniciado, ela diz calmamente, eu pensei comigo: deixa pra lá. Por isso eu coloquei esta barreira. Não deixo as pessoas se aproximarem demais pois sei que nunca vou ficar estabelecida em um lugar.


Angela define o colégio como um campo de batalha para o seu coração. Pergunto a Claire se ela concorda com essa definição e ela diz que a adolescência é um periodo muito ardente. Qualquer sentimento é aumentado e uma espinha é o fim do mundo, e se um cara lhe trai, é a morte. Além disso você sente atração sexual pela 1º vez. Isso é duro.

Uma descrição nada ruim sobre como é ser adolescente, porém não parece que saiu da boca de uma pessoa. Claire fala como um adulto, o que não combina muito com ela. Ela diz para mim que vai ter que se esforçar para conhecer pessoas fora do meio. Esta frase me faz encolher de medo e quanto é importante para ela estar entre colegas de trabalho. E ela ainda diz sem pudor, que ela adorava "Sassy", no tempo em que lia (ela confessa que não está lendo nada ultimamente, o que faz ela cair no meu conceito). E ela admite que se tivesse sido convidada para "Sassy", ela explodiria de alegria. Hoje já não significa tanto. Mas eu fico muito sentido por ela sentir-se tão só. Ela sente falta de seus amigos, de andar pelo parque paquerando os rapazes bonitos e de andar de metrô. Porém assim que ela terminar outra cena uma hora dessas, os outros integrantes da equipe brincam com Claire enrolando a atriz em um tapete de pele de urso...


Quando falo com Claire algumas semanas depois, ela parece deprimida. Ela me conta que provavelmente não voltará a Dalton e que seus pais estão procurando uma casa em Los Angeles. Mas ela está animada com as outras incríveis oportunidades: enquanto passa um tempo em Vancouver, ela filma Adoráveis Mulheres (Little Women) , com Winona Ryder e Susan Sarandon (ela faz o papel de Beth, uma menina sempre doente e sem amor próprio).


Claire me surpreende com sua atitude meio Zen. Ela diz que não está necessariamente perdendo nada. Só estou mudando de realidade. E diz, isto é o meu natural agora. Além de tudo, os garotos da escola tem uma vida monótona, e essa é a realidade dele. Não é a minha. Você entende o que eu quero dizer? Sim entendo. E Angela entenderia também.




®traduzido por Eduardo Paulo de Araújo especialmente para o O Mundo de Claire Danes




O Mundo de Claire Danes© ® 1998
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