FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   25 DE JULHO / NANA-NI-GO, de Wataru Hakayama

Japão, 1998


O cinema oriental, até onde nos permite saber, é um dos mais originais dessa segunda metade de década. A ver aí a ascensão de Takeshi Kitano, Wong Kar-wai, Hou Hsiao-hsien (já viu Flores de Xangai?), Tsai Ming-liang (e o Buraco?), entre outros. 25 de Julho, nesse ambiente de beleza absoluta, é apenas um pequeno filme. Mas em se tratando do primeiro de seu diretor, revela um talento que ainda pode ser muito bem falado.

São quatro os personagens principais do filme, como em Amores Expressos (Chungking Express), de Wong Kar-wai. 25 de Julho, inclusive, terá muitas outras ressonâncias com esse filme: a linguagem de diário (voz off dos personagens alimentando as imagens), os estranhos comportamentos dos personagens, o mundo das lojas de conveniência, a câmara rápida para trabalhar a rapidez da vida que passa. A trama mostra, de um lado, a tentativa de um jovem ambientalista em ver o momento de procriação (despejo das sementes) das duas árvores restantes em seu gênero; de outro, o esforço de um pretenso detetive para encontrar a menina que rouba artefatos na loja em que trabalha como vigia. A questão é que as árvores despejam as sementes sempre no dia 25 de julho, e a menina ataca sempre nos dias 25 de cada mês. É bela metáfora do amor, do desejo, da cupiditas, o desejo sempre como estranho cio que permite sempre o encontro dos opostos.

Apesar de ser um primeiro filme (e os vícios afloram nele tanto quanto as virtudes), já existe uma clara proposta de cinema: a captação do instante fugaz, do instante de solidão caseira tanto quanto o de um encontro. A solidão, aliás, parece a temática de 9 entre 10 filmes orientais a serem vistos por aqui. No cinema de Wong Kar-wai e de Tsai Ming-liang ela opera um papel fundamental, ela trabalha a partir desse dado da sociedade onde a juventude já não encontra mais lugares de encontro, onde o trabalho ocupa a maior parte de vida produtiva do personagem, onde trabalho e vida já não se tornam senão um só, e o lugar da felicidade (apesar de amarga) é o doce terreno da liberdade causada seja por um bom emprego seja pelo desemprego (a figura da menina ladra tomada com vividez, fugacidade e leveza). Tudo isso faz de 25 de Julho uma grata revelação do Festival do Rio, onde o trabalho dos grandes autores é comprovado e ampliado (Jarmusch, Almodóvar, Kitano, Cronenberg, Monteiro), mas onde as novidades já não aparecem tanto.

Ruy Gardnier

 

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