Guerra nas Estrelas – Episódio 1: A Ameaça Fantasma
(Star Wars – Episode 1: The Phantom Menace),
de George Lucas (EUA, 1999)

Se a arte opera entre o universo da fabulação e das palavras de ordem da informação institucional, o novo episódio da série Star Wars é uma bela oportunidade para vermos os dois em ação. Primeiramente a fabulação: há um esforço colossal da equipe para a construção de imaginário; vemos a criação de mundos com regras próprias, quase um exercício de antropologia espacial. Mas todo esse trabalho é apenas aparente. George Lucas, em sua Ameaça Fantasma, seqüestra o imaginário do espectador (função de toda obra de sci-fi), mas apenas para reconduzi-la ao recanto do preconceito e da ordem 'estelar', onde a questão do outro é trabalhada apenas minimamente para situar-se entre o bocó bonzinho e o comerciante canalha, passando pelo máximo poderio maléfico. Mas as palavras de ordem conduzem a mais que isso: se nos filmes de ficção científica seqüestram nosso imaginário para depois explodi-lo (Cronenberg, Siegel, Wise), em A Ameaça Fantasma apenas pega nossa cabeça para dar uma voltinha, para depois nos jogar de volta ao universo de recognição, que é a voz do mestre nos remetendo ao ordenamento prévio das coisas. Por trás de todo reacionarismo simbólico de Star Wars (os outros falam outro inglês, o futuro malvadão é um ex-escravo), reside um conservadorismo mais latente: a ausência de ficção, tomada no sentido de pensar outros mundos.

Ruy Gardnier

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