A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project),
de Eduardo Sanchez e Daniel Myrick (EUA, 1999)
Não se compreende o porquê de tanta polêmica. A Bruxa de Blair é uma simulação de três jovens que vão fazer um documentário sobre uma tal bruxa que matava criancinhas que saíam à noite ou que se afastavam da casa onde moravam. Eles levam com eles para a mata uma câmara 16mm e uma câmara de vídeo digital. Dois câmaras e um fotógrafo se embrenham pelas matas de Maryland para ouvir estórias sobre a tal bruxa e, se posível, filmar alguma coisa de assustador. A coisa vai ficando cada vez pior até que os meninos acham uma casa, começa uma gritaria e o filme acaba. Pronto. Mas além da história, coerente, e do hype desagradável feito em cima do filme, o que é Blair Witch Project? É simplesmente um filme que se aproveita de uma idéia ou outra: que uma câmara na mão com uma imagem fraca dá um certo ar de documentário ao filme, que qualquer coisa filmada à noite apenas com uma lâmpada que ilumine somente dois metros vai causar uma certa tensão no espectador, etc. Realmente, o filme não assusta nenhuma vez, mas causa uma certa tensão, um mal-estar. Revelam isso os signos "de bruxaria": as pedras amontoadas no chão, os pedaços de madeira amarrados como um vodu, os desenhos feitos pelos cipós das árvores... Mas talvez o "charme" do filme, se ele tem um, é se fazer de pseudo-snuff movie, de documento de um massacre, e do espectador como um grande intrusão na tela da vida dos personagens. Nada de novo até aí: Janela Indiscreta, de certa forma, já tratava da mesma questão; Minha Querida Irmã, filme holandês de rápida exibição por aqui, também. O que eles não fizeram foi tratar tão friamente o espectador como necrófago. No projeto da bruxa de Blair não há incoerência, como também seria um pouco tolo reclamar do ritmo do filme ou que ele realmente só começa nos minutos finais. Fora da necrofagia utilizada aliás tão melhor por Wes Craven em seus dois Pânico A Bruxa de Blair é falho por se constituir apenas em um projeto (no sentido publicitário do termo) como também por ser um projeto mal-pensado (mais da metade do filme discute sobre "por que continuar filmando"). Nem cá nem lá, apenas um tanto infantil. Esperemos o segundo.
Ruy Gardnier