A Fortuna de Cookie (Cookie's Fortune),
de Robert Altman (EUA, 1998)

Como sempre nos filmes de Robert Altman, temos de um lado as pessoas risíveis, produtos da inveja e da breguice, e de outro, as pessoas honestas e boas de coração, o filme se desenvolvendo de alguma forma no conflito — nem sempre maniqueísta — resultante. Mas e esse Cookie's Fortune, em que é diferente? Não em muita coisa: é mais um filme seu passado no interior da América, mais um filme em que Altman distila seu preconceito sobre os pobres caipiras americanos, que vêm sendo a toda hora atacados por cineastas como Sam Raimi, Joel Coen e Oliver Stone, só para citar os mais ilustres. Não que Altman seja um mau diretor: algo do que se constituiu em filmes como Voar É Com os Pássaros ou, nessa década, com O Jogador ou Short Cuts está um pouco aqui também, no modo como ele fillma o negro que vai para a prisão porque o sangue nobre da família sulista não pode ser profanado. Esse personagem e sua relação com Liv Tyler são as únicas coisas salváveis desse filme fraco. Pobre Julianne Moore, pobre Lyle Lovett. A Fortuna de Cookie é sintoma de que a América está prestes a perder um cineasta que uma vez soube narrar com perspicácia e muito sarcasmo os caminhos de sua sociedade.

Ruy Gardnier

1