A Premonição (In Dreams),
de Neil Jordan (EUA, 1999)
Neil Jordan é um diretor que tem se revezado nos últimos anos entre idas a Hollywood para projetos onde é um diretor contratado (como Entrevista com o Vampiro) e projetos pessoais que remetem a sua Irlanda natal (como Nó na Garganta ou Traídos pelo Desejo). No geral, tem feito bem a transição, e num caso como Michael Collins pode-se dizer até que mistura as duas tendências realizando um filme pessoal e intrinsecamente irlandês num esquema hollywoodiano. A Premonição se insere nos casos onde trabalha como contratado.
Não é impossível para vários diretores (como exemplos podemos citar Robert Altman, Clint Eastwood, Kenneth Branagh, Martin Scorsese, Brian de Palma) trabalhar dentro de encomendas dos estúdios mantendo uma visão pessoal. Também são conhecidos casos que não houve esta compatibilidade, e Jordan parece ter caído nesta armadilha desta vez. O filme começa de uma forma muito misteriosa e onírica (se bem que usar o adjetivo é meio pobre de idéias num filme que se chama "Em Sonhos" no original), com imagens de uma cidade sendo inundada durante a criação de uma represa. Estas imagens têm grande poder de sugestão, assim como as que a seguem estabelecendo um clima entre o conto de fadas perverso (que Jordan exercitou em Na Companhia de Lobos) e o pesadelo completo (lembrando um pouco o Estrada Perdida de Lynch).
No entanto, daí em diante Jordan cai numa trama patética de "serial killer malucão" onde as soluções mais rasteiras fazem o roteiro continuar em movimento, utilizando uma fotografia estilizada incomodativa, onde o que era pesadelo vira interpretação freudiana de sonhos, onde tudo tem um significado. Esta explicação do onírico derruba qualquer interesse maior do filme, que tenta se explicar o tempo todo, quebrando o mistério inicial. O elenco se divide entre péssimas atuações (Annete Benning e Robert Downey Jr careteiro de doer) e bons atores completamente deslocados em personagens irrelevantes (Stephen Rea, Aidan Quinn). Fica a dúvida: até onde Jordan teve controle sobre o filme, até onde foi contratado. Infelizmente no entanto, a verdade é que o filme fica lamentável no final transformando tudo que há de interessante e misterioso em banal. O que impressiona é a aparente desconexão entre o que parecia ser a intenção inicial do autor, e sua completa inadequação em transformar o material num thriller formulaico. O resultado é um híbrido estranho (no mau sentido), que acaba alienando por completo seu espectador.
Eduardo Valente