Lulu On The Bridge, de Paul Auster
(EUA, 1998)
Paul Auster já tem uma face midiática bem caracterizada: é a figura do intelectual homem de letras que desce ao mundo do cinema para dele extrair a poesia da vida cotidiana, à maneira como só um bom escritor poderia. Lulu On The Bridge só tem a condescender com essa imagem de bom-mocismo. Não que o filme seja ruim, longe disso, mas finalmente é possível dizer que Paul Auster com esse filme caiu no estereótipo que se faz dele.
Harvey Keitel interpreta um saxofonista que, ao ser alvejado no pulmão, é impedido de continuar tocando. Ele acaba conhecendo uma garçonete de luxo, interpretada por Mira Sorvino, que tem sonhos de se tornar atriz. Ela será a Lulu do título, porque acabará conseguindo o papel para uma versão atualizada do filme A Caixa de Pandora. Mas Auster não deixa a comparação à toa: Lulu é também Harvey Keitel que, como Pandora, abre uma caixa de onde saem picotes de jornais de todas as nacionalidades. No fundo da caixa, ele acha uma pedra que emana uma luz azul simbolizando esperança.
Índice da total impossibilidade de contar uma história nova sem montar-se em um mito/narrativa passado (e nisso o filme tem semelhanças com o último filme de Atom Egoyan, O Doce Amanhã), o filme de Auster revela uma triste falta do que contar (primeiramente, porque ele é escritor) e do que mostrar (porque trata-se de um filme, logo, de imagem). Diferentemente de Cortina de Fumaça, filme em que trabalhou apenas como roteirista e argumentista, Lulu On The Bridge joga num rio a esperança de fazer do cinema um objeto vivo, reluzente e modificador. Trava uma batalha apenas consigo mesmo. Que pena.