FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição
BERESINA OU OS ÚLTIMOS DIAS DA SUÍÇA,
de Daniel SchmidSuíça, 1999
Uma comédia maluquinha feita na Suíça?? Poucos prospectos parecem menos empolgantes do que este. No entanto, Beresina acaba sendo um filme bastante interessante, por conseguir construir um roteiro que leva a cabo idéias inteligentes até o final. Especialmente, parte de uma personagem genial: uma refugiada russa que acaba se prostituindo, mas que vê sua vida (e consequentemente a prostituição) de uma forma absolutamente lúdica. Dentro da moral do filme, será sua pureza de intenções que, no final, a levará à glória. Alguns leram no filme uma crítica satírica e preconceituosa aos russos, mas embora realmente as aparições da família da prostituta sejam neste tom, deve-se perceber que esta é a clave de todo o filme. E boa parte (a principal) das críticas aplica-se à própria Suíça em especial, e à sociedade capitalista e aos jogos político-financeiros mundiais. Neste contexto, a russa é uma heroína na sua bondade, com todos tentando usá-la, mas ela sobressai no fim, mesmo que involuntariamente.Desde o início trabalhando no tom do absurdo, o filme só ganha quando, na parte final, o roteiro cria sua melhor sacada, um golpe nacionalista-conservador que acaba colocando esta prostituta no poder. Este golpe e sua articulação (ligando o conservadorismo nacional a uma idéia de velhice e ultrapassado, mas ridicularizando ainda mais os que estão no poder atualmente, que não possuem outros ideais que não o próprio bem-estar) são o melhor momento do filme, verdadeiramente hilário. Não se enganem, Beresina não traz nenhuma grande inovação política, social ou cinematográfica, e nem se propõe a isso. No entanto o que consegue é criar com muita competência uma comédia satírica que entretém com inteligência ao mesclar o lúdico com o absurdo.
Eduardo Valente