FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   O Livro da Vida, de Hal Hartley

EUA, 1999


Como falar de Hal Hartley sem baixar o nível? Eis um mistério cuja solução pode ser encontrada através de uma permissividade, uma condescendência, uma compaixão. Pobre menino rico! Ou me engano a respeito de sua origem?

Nos seus filmes, que porventura (ou desventura...) pude pôr os olhos nos últimos cinco anos, como por exemplo, Confiança, Amateur e outros, absolutamente nada me impressionou. Poderiam ter sido divertidos, mas aborreceram. Minha cabeça (limitada, dirão alguns...) viu neles um amontoado de citações provenientes do Leonard Maltin's Guide. Ali ele parece ter obtido as informações perfeitas que o levaram a conhecer Godard, Antonioni, Bergman, entre outros. Anexo ao guia, o vasto catálogo americano, que inclui Mojica Marins e Ozualdo Candeias, fornece o suporte necessário para o bom menino transgressor delinear sua formação.

Basta citar alguns momentos desse O Livro da Vida. Eu abro o meu lap top, (indício da "modernidade") e Cristo aparece (indício de "fim da história"). A câmara é moderna: não foca. O roteiro é de uma ingenuidade tremenda. No fim do filme, o personagem central chega a se perguntar "se no futuro as pessoas serão mais humanas ou terão uma inteligência digital?" Ó HH, assim farás um grupo de indie com o Lars Von Trier e mais alguns tristes herdeiros do Velho Mundo. Ou então virás morar no Brasil para montar uma comunidade no Sana e tomar santo daime, till the end. Triste, mas antes, irritante.

Em todo caso, faz-se mister firmar compromisso: em termos de Hartleys, ainda ficamos com Nina. Ou não, cara pálida?

Bernardo Oliveira

 

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