Corra Lola Corra (Lola Rennt),
de Tom Tykwer (Alemanha, 1999)

O Segredo Mínimo de Lola

Tom Tykwer conseguiu fazer um filme radicalmente diferente de seu primeiro, Wintersleepers. Mas não se sabe se isso é bom ou ruim. Wintersleepers era aquela peça na neve que se passava por intelectual para enganar os mais incautos. Corra Lola Corra, nesse sentido, tem muito a acrescentar: é absolutamente desprovido de qualquer intelectualismo falsificante. Aproveita-se de uma forma simples para realizar um mero exercício (e é um exercício justo com o espectador admitir-se como exercício — tanta gente faz isso sem admitir). O grande problema que circunda a obra de Tykwer — até aqui restrita a esses dois filmes — é a incapacidade de transcender as formas fixas (filme cult, exercício) para poder finalmente concretizar uma forma sua. Seus personagens não passam de tipos: o sujeito sem memória que fotografa para saber de seu passado em Wintersleepers, a mocinha filha de banqueiro que tem vinte minutos para salvar o namoradinho traficante em Lola. Nesse filme, Lola corre o tempo todo, num relato que é contado três vezes seguidas, cada uma terminando num fim diferente. Tudo isso transforma Corra Lola Corra em um videoclipe de 80 minutos. Não é incômodo que Lola seja um grande videoclipe. O que incomoda é que esse videoclipe não tenha nada a dizer além do falso glamour do dinheiro, do tráfico e do figurino moderninho. Ao próximo.

Ruy Gardnier

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