Do Fundo do Mar (Deep Blue Sea),
de Renny Harlin (EUA, 1999)

 

Quando em 1977 George Lucas dirigiu Star Wars ele certamente não sabia o legado pavoroso que aquele trabalho teria no cinema americano. Com a criação da instituição do "Filme de Verão", a indústria se voltou completamente para um público adolescente e cada vez mais imbecilizado em busca de lucro fácil. Entretanto, desde meados da década de 80, e em especial na década de 90, o filme de verão tem se tornado cada vez mais uma massa completamente distante de qualquer coisa que seja "arte", pois é um produto onde importa mais os "tie-ins", ou seja, vender bonecos, cuecas, lanches do McDonald´s, etc; repetindo eternamente as mesmas fórmulas, acreditando cada vez mais na idiotização das crianças e adolescentes do mundo todo.

Dentro deste quadro (que, é bom que se saliente, alguns filmes vêm enfrentar a cada ano como Men In Black, O Último Grande Herói ou O Sexto Sentido injetando algum fôlego diferenciado), Do Fundo do Mar é o que de pior se pode ver em termos de cinema americano hoje. Renny Harlin foi um diretor de alguns sucessos (principalmente Duro de Matar 2), e que se encontrava na posição onde geralmente diretores e atores cometem seus piores filmes: saindo de dois monumentais fracassos. Tentando de tudo para se mostrar "útil" ao seu patrão, eles se rendem a toda e qualquer projeto. Este filme nada mais é do que uma tosca mistura de Tubarão com Alien (a junção de propostas já consagradas é um estratagema clássico em Hollywood hoje). O filme tenta sustentar seu interesse a partir deste fato e também dos efeitos visuais computadorizados, que são a verdadeira estrela do filme. Não há personagens, há clichês ambulantes com funções de "roteiro". Não há lógica interna ou externa - indica que o tubarão tem o tamanho de uma quadra de tênis, mas persegue as pessoas por corredores inundados estreitos. Há uma absurda fascinação pelo "over", ou seja, quanto mais barulho, quanto mais exageros, quanto mais efeitos de computador, mais afogado o espectador estará e não perceberá quão estúpido é isso tudo.

Com isso, o filme se compõe de uma série de situações de "ação" onde nenhuma precisa de fato se ligar a outra, só permitir que sejam ininterruptas, que não se pense. Se estrutura em torno de um completo fascínio pela violência e desinteresse por qualquer coisa de humano (enquanto em Tubarão e Alien a luta era exatamente do homem contra o desconhecido), e acha extremamente divertido e plástico mostrar pedaços de corpos humanos se despedaçando. Do Fundo do Mar é um videogame, onde Alien e Tubarão são retirados de tudo que lhes dava poder e força, e jogados numa vala comum. Ao espectador que se aventure pede que se deixe o cérebro na porta e que não exija nada de estrutura, novidade, cuidado ou respeito.

Eduardo Valente

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