Extremos do Prazer

por Ruy Gardnier

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Roberto Miranda mostra que é macho em Extremos do Prazer

O isolamento geográfico é um artifício que se usa para esmiuçar as diferenças individuais. Tchekov, Nelson Rodrigues, Godard... Em Extremos do Prazer, Reichenbach enclausura sete personagens numa casa de campo para trabalhar um tema que lhe é muito caro em seus filmes femininos: a opressão física, intelectual e psicológica do homem sobre a mulher, a utilização da mulher antes como joguete sexual do que como uma individualidade – e nisso funciona sua adoração pelo cinema japonês de um Mizoguchi ou um Masumura. Se Roberto Miranda em O Império do Desejo era o personagem que comovia a todos por seu comportamento, em Extremos do Prazer ele é seu exato contrário: suas frases, musicalmente faladas, brilhantemente construídas, coloca a nu todo o preconceito de uma posição social, masculina, dominadora, paternalista. Através da crítica dos preconceitos do homem, Reichenbach faz por tabela a crítica de toda dominação. A política é vivida antes em sua instância interpessoal do que em sua forma molar. Daí uma grandeza política de Reichenbach num momento em que o cinema brasileiro não sabia muito bem por onde ir. O contraponto do personagem de Roberto Miranda é interpretado por Luiz Carlos Braga. Novamente aparece em sua obra a figura do intelectual fendido, dessa vez por um amor precocemente perdido. Mas em Extremos do Prazer são as mulheres que comandam os acontecimentos. São elas que se movimentam enquanto os homens são fixos (Miranda e Braga passam o tempo todo na casa e as mulheres viajam, vão e voltam). Se as trocas simbólicas assim ocorrem nas sociedades ditas primitivas, no cinema de Reichenbach isso não é diferente: são elas que desencadeiam os sentimentos, que desenrolam a história e desenvolvem as situações. O homem é um recipiente, um espaço para os valores constituídos (conservadores ou libertários), mas são sempre as mulheres que fazem as coisas passarem. Definitivamente uma de suas obras-primas, Extremos do Prazer tem a seqüência preferida de seu diretor: o reencontro da felicidade após a morte, que acontece fora de campo (a câmara foca a entrada da casa), de onde sai o moribundo. Elogio rasgado à beleza do real, esse filme pouco conhecido tem tanto de brilhante quanto de simples.

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