FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   FLORES DE OUTRO MUNDO, de Iciair Bollain

Espanha, 1999


As duas cinematografias não-hegemônicas mais representadas nesta mostra são, disparadas, a do Reino Unido (como um todo) e da Espanha. Ambas dão sinais promissores de renovação, com o surgimento de um número impressionante de novos cineastas, dispostos a tematizar das formas mais diferentes a atualidade destes países. De fato, são duas coisas que às vezes faltam no cinema brasileiro (quando ele não falta de todo por falta de apoio): carreiras jovens e tematização da atualidade.

Dentro da nova safra espanhola, Flores de Outro Mundo ocupa um lugar peculiar, pois ao mesmo tempo que não inova em nada na forma, utiliza-se de um tema e uma paisagem pouco vistas no cinema: os imigrantes latinos (especialmente do Caribe) na Espanha e as cidadezinhas do interior. Muito do que nos chega fica centrado em Madri ou Barcelona, e fala de um povo espanhol nativo. No formato, Flores de Outro Mundo se estrutura de forma extremamente careta, aristotélica, quase novelesca. Seu ponto de partida é interessante: a tal cidadezinha resolve organizar uma "feira de solteiros", alugando um ônibus para trazer mulheres não-casadas que queiram se relacionar com os solitários homens do local. A partir daí o filme segue a história de três casais, sendo que dois deles têm no vértice feminino imigrantes (uma dominicana e outra cubana). Além de falar da dificuldade de adaptação nesta conservadora porção do país, o filme fala também de racismo já que ambas são negras.

Não se pode dizer que seja um filme genial nem nada. No entanto, é de grande honestidade e frescor, e de fato consegue manter a atenção e emoção do espectador com um mínimo de artifícios dramáticos que não sejam estritamente necessários. No meio tempo, alguns temas sobressaem com destaque pela sinceridade no tratamento: a dificuldade do amor à distância, as relações entre sogra e nora quando uma considera a outra uma invasora, a fronteira entre ciúme e sentimento de posse. Tudo muito acadêmico, mas com competência, o que como sabemos é uma das mais difíceis tarefas do cinema: seguir a cartilha e ainda assim ser interessante.

Eduardo Valente

 

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