Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes
(Lock Stock and Two Smoking Barrels),
de Guy Ritchie (Inglaterra, 1999)

Em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes não há pessoas, não há decisões como também não há ficção ou história. Há simplesmente trocas, fluxos, relações. Poderia disso resultar uma experiência nietzscheana radical no cinema: um cinema apenas de devires e subjetivações, nenhuma essência ou sujeito. Mas Jogos... está absolutamente distanciado disso. A intenção não é um nada de vontade; antes uma vontade de nada, uma arbitrariedade da imagem, que faz com que ela se adeqüe melhor às injunções publicitárias do cinema "jovem" de hoje, com milhares de efeitos videoclípicos batidos, desnecessários (mas o que é necessário? – diriam) e por demais infantis. Jogos... é um filme que utiliza competentemente um vocabulário muito específico para agradar apenas a um público também muito específico. Tarefa de recognição, pois: vi/parece-com-as-coisas-de-que-gosto/gostei. Se parece muito estúpido no momento pedir algum tipo de pensamento a um filme como esses (até o pedido não seria um pouco blasé? – diriam), resta entretanto ainda a possibilidade de pedir alguma coisa, ou ao menos alguma originalidade, alguma criatividade.

Ruy Gardnier

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