Mauá, o Imperador e o Rei,
de Sérgio Rezende (Brasil, 1999)
Nada sobre Mauá
Depois de seu Lamarca e de sua guerra de Canudos, Sérgio Rezende nos vem dar seu Mauá. O que haveria por trás de tanta volta ao passado, de tantos temas históricos? Poderíamos imaginar que Sérgio Rezende é um autor e tem uma obra destinada a rever certos aspectos da história brasileira e, assim fazendo, instigar o espectador a buscar novas interpretações sobre sua história e outras possibilidades de construção do Brasil. Mas diante da visão de cada plano seu, tudo se esvai. A paupérrima construção dramática anda de mãos dadas com a falta de perspicácia historiográfica: não vemos em seus filmes senão uma reconstituição correta mas sem o menor brilho, uma interpretação esvaziada de drama porque o que importa realmente é o ícone, uma câmara desgraçadamente inepta porque a ausência de interesse em contar uma história é patente. Então, o que nos diz Mauá? Sérgio Rezende diz que faz ficção, que prefere deixar a História para os historiadores. O que seria uma boa opção, caso ele partisse para um trabalho construtivo a partir do personagem. Mas qual o quê! Rezende não é artista: ele parece dirigir filmes como um operário coloca tampas em garrafas. Sempre dizemos que a cada filme Sérgio Rezende e Paulo Thiago lutam para ver quem é o cineasta menos talentoso do Brasil. Não tenho certeza se Mauá é pior do que Policarpo Quaresma, mas garanto que é 30 minutos melhor do que Guerra de Canudos, porque esse último tem 2h50, enquanto Mauá tem somente 2h20. Brincadeirinhas à parte, Rezende e Paulo Thiago são os cineastas "institucionais" do Brasil, aqueles retratistas-oficiais da côrte, o medíocre academicismo dos lambe-botas da "elite", elite aliás que Mauá insiste em achar que critica. Se Guerra de Canudos era o perfeito equivalente fílmico do Governo FHC1, com aquele conservadorismo covarde disfarçado de valente, Mauá é o perfeito FHC2, com o elogio do dinheiro externo e dos valores liberais contra a força do Estado. Rezende é coerente, e ao menos filma ao fim um Barão de Mauá falido, porém nobre, como provavelmente nosso presidente fará feição de estar quando (isto é, se) seu mandato acabar. Do filme mesmo, temos um formato desagradavelmente covarde e previsível de estruturação da narrativa, a tal ponto que não é Mauá que intervem sobre a forma do relato, mas o contrário. Audácia, ousadia? Esses atributos poderiam ser dados a Mauá, mas jamais a Mauá, o filme. Mauá é tão correto quanto um animal adestrado. Então, terminemos com um elogio: Muito bem, Flipper!
Ruy Gardnier