FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   NÃO HÁ VAGAS, de Marius Balchunas

EUA, 1999


O painel do cinema independente americano até muda, mas não consegue deixar de ser a mesma porcaria a que vamos nos acostumando. E não é que eles realmente mudaram de proposta? Ao invés dos filmes supostamente realistas e familiares, onde as cicatrizes desinteressantes dos laços familiares se expõem, eles trocaram a antiga narrativa pela estética pop derrisória que vem do legado grotesco da contracultura dos anos 70 e 80 através de revistas como Mad que, entretanto, tinham algum valor e contestação. Em Não Há Vagas, ao contrário, trata-se de declarar a imbecilidade como padrão de existência – não gloriosamente, como o delicioso Quem Vai Ficar Com Mary?, mas hierarquicamente, só a partir dos happy few americanos "intelectuais" que vão compreender o humor fino do filme. Daí as figuras patéticas do filme: o wasp babacão, o papai latino, a chicana gostosa, o consertador de geladeiras bonitão, o gigolô de gala, o junkie metido a esperto, o junkie idiota, ad infinitum (e ad nauseam!!!). Não há ternura nenhuma na câmara do diretor, muito menos identificação, retrato de um alter ego: estamos sempre distanciados para rir dos personagens e não rirmos de nós mesmos. Essa estratégia é razoavelmente perversa, mas muito pior é a imagem de cinema que se forma, como se o máximo que o cinema pudesse alçar fosse um divertimento estúpido como esse No Vacancy.

Ruy Gardnier

 

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