O 13º Guerreiro (The Thirteenth Warrior),
de John McTiernan (EUA, 1999)

 

É quase de saber público a esta altura que o diretor deste filme "deserdou" o filme, desvinculando-se do projeto, e não reconhecendo na montagem final a sua versão para a história proposta. Alega que sua versão era muito mais "dark", sombria. Pode ser que tenhamos perdido um grande clássico do cinema de aventura com isso, porque a versão de O 13º Guerreiro nos cinemas já é por si só muito interessante, e não deveria fazer nenhum diretor se envergonhar.

Sendo uma história que se passa na Europa (após introdução no Oriente Médio), protagonizada por árabes e nórdicos, em meio ao tempo em que os dragões eram considerados ameaças plausíveis, o filme poderia esbarrar de saída no obstáculo da tentativa de "embelezar" esta época e seus costumes, e também de passar todos os personagens para um inglês com sotaque anti-natural. Cientes disso, os realizadores colocam a língua em pauta logo no início (fica claro que o inglês será usado "simbolicamente" como língua universal na qual eles se entendem), e não fogem a mostrar toda a sujeira, escuridão e crendices profanas da época. Além disso, à exceção de Antonio Banderas como o árabe, não há nenhum grande ator hollywoodiano no elenco, dando uma grande força aos intérpretes dos nórdicos.

A partir disso o filme assume que não há grande mistério, ou seja, tendo estabelecido um clima a partir da pitoresca paisagem, com os costumes e temores locais, uma trama básica de confronto de identidades (entre o árabe e os nórdicos com os quais se junta e entre estes e a tribo que os está cercando e destruindo), e contando com todo o fascínio natural que emana daí e das possibilidades das batalhas campais com espadas, massas e machados, o filme simplesmente faz o melhor na sua competência para dar fluidez, mistério e força às imagens e sons que dominam o espectador. As cenas de batalha são sangrentas sim, mas não pela exploração pura e simples da barbárie, mas porque não se pode retratar um tempo como aquele de outra forma. Mc Tiernan, mesmo à revelia, demonstra mais uma vez grande controle da narrativa de ação, e consegue criar um filme que não tenta revolucionar o gênero, mas simplesmente dar duas horas de diversão inteligente e bem realizada ao espectador. Quanto a sua questão de ordem com os produtores, o filme tem o suficiente de sombras, estranhezas e gore. Mais do que isso, não seria um filme de estúdio, mas sim um filme de arte, e aí ele não deveria ter aceito o orçamento de U$60 milhões também. Dentro da mesmice em que se encontra o gênero da ação hoje, certamente é dos melhores exemplares, em muito pela direção de McTiernan, que não reconheceu no próprio trabalho as qualidades que tem.

Eduardo Valente

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