O Corruptor (The Corruptor),
de James Foley (EUA, 1999)

Contrariada com a força (estética mais que comercial) que vêm chegando de Hong-Kong (John Woo, Tsui Hark), Hollywood resolve descontar com esse O Corruptor, história passada em Chinatown sobre dois policiais, um oriental (corrompido e experiente) e um wasp (incorruptível e novato). A estética segue a trilha deixada pelo novo cinema de ação da China: estilização da violência, planos espetaculares, abuso de cores vivas, tudo em planos muito fugazes. Mas é no desenrolar da trama que vemos a real face do filme: trata-se de um pequeno exercício de xenofobia (que porventura será vendido e muito visto pela própria China...) em que vemos a polícia matar orientais de caráter duvidoso, resgatar ou prender moças que fazem uso ou são vítmas da prostituição, ofender membros da máfia do bairro, etc. Resta que, ao final do filme, percebemos quem é o herói do filme: o jovem wasp Mark Wahlberg, que faz o papel de dedo-duro fortudo e cheio das morais, que mais tarde termina como o único sobrevivente de um duelo em que apenas ele era não-oriental. É só assim, parece, que a indústria americana consegue homenagear um estrangeiro: de longe, no enterro, depois de morto, desde que a homenagem seja de cima para baixo. O Corruptor é o reflexo cinematográfico dessa pretensão (realizada) da América do Norte de ser a fonte de todos os bens do mundo, inclusive dos direitos de imagem de cada povo e de cada evento histórico, que os americanos parecem ter nascido com o direito de narrar.

Ruy Gardnier

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