FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição

   O MURO, de Alain Berliner

Bélgica, 1999


O que mais preocupa em O Muro é o que ele pode indicar do resto da produção desta série "2000 visto por...". Filmes (ou livros, discos, shows) de encomenda muitas vezes não funcionam por demostrarem claramente uma falta de interesse real do seu realizador no assunto retratado, uma certa obrigatoriedade em realizá-lo. Muitas vezes, é verdade, pérolas emergem deste formato, seja por grandes escritores, seja por cineastas talentosos, como se pode esperar de Walter Salles, Hal Hartley ou Tsai Ming-Liang nesta série específica.

A verdade é que este primeiro exemplo mostrado ao público é de grande desinteresse, capaz de provocar profundos ataques de tédio. Berliner teve uma boa idéia: cria uma disputa entre "etnias" dentro da Bélgica (valões e flamencos) com direito a combates e divisão do país em dois às vésperas do ano 2000. Embora existam estas duas correntes no sangue belga, é claro que Berliner exacerba o conflito para falar de todas as outras questões de nacionalismos e fronteiras que têm dominado a Europa e o mundo neste fim de milênio. Parece uma grande idéia, não? Sim, até porque até aí o esforço parece sincero, o tema interessa ao diretor contratado.

Infelizmente para Berliner, cinema não é tema somente, ou ter uma boa idéia. Dá trabalho desenvolvê-la e precisa de talento para fazer dela um grande filme. Nestes dois quesitos é que o filme parece se perder. Do início ao fim a narrativa meio ficção-científica, meio comédia romântica, meio (já não seria um terço eu me pergunto??) surreal-metafísica, meio crítica social, não se sustenta. E seria simplório dizer que é pelo excesso de coisas que ela tenta ser ao mesmo tempo, pois grandes filmes já ousaram quebrar estas fronteiras de gêneros. O que acontece mesmo é que os realizadores parecem tomados de uma grande preguiça de burilar suas idéias, de levar qualquer situação que seja até os eu desfecho satisfatório, de desenvolver um personagem mais do que o esperado. Assim, caminhando por uma história que daria no máximo um curta de 20 minutos, Berliner consegue entediar completamente o espectador ao longo de 70... Tudo parece improvisado, resolvido às pressas, mal pensado. Nem o belo plano final nem a definição da Bélgica como "país do surreal", nem o personagem interessante do fantasma do pai do protagonista conseguem manter nenhuma narrativa em andamento.

Espera-se mais, sem dúvida, do resto da série.

Eduardo Valente

 

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