Pizza, Birra, Fazzo, de Bruno Stagnaro

(Argentina, 1997)

A primeira coisa que a gente começa a se perguntar é: por que esse fime é ganhador de festival? As imagens são sujas, desconfortáveis. A vida dos protagonistas é tensa, eles deitam no chão da praça, batem carteiras, fogem dos cidadãos. Mas os jovens marginais argentinos não têm nada a ver com os nossos pivetes, a começar pelas suas roupas. Além disso o ritmo de sua fala é outro, a temperatura do seu país é bem mais baixa.

O que nos dizem esses jovens? "Nós habitamos a rua", – mas a rua é fria demais a ponto de lhes dar asma. "Nossos amores não formam família", – mas esses amores não triunfam. "Nós não somos submissos à maquina do emprego, às filas de desempregados, nós não somos assim tão miúdos". O que são, então? Agora a gente pergunta: "Gramado, o que são esses meninos?"

A câmera não está voltada para a classe média argentina. A trama não habita a rotina medíocre. Ao contrário, é um olhar sobre a marginalidade. Marginalidade ao razoável poder aquisitivo (os personagens só se movimentam para conseguir dinheiro), marginalidade etária. Os protagonistas são adolescentes, adolescentes plenos de hormônios e vagos de ação. Quando furtam transeuntes, ainda se afirmam velozes corredores, seus corpos jovens e fortes são mais rápidos. Mas aí vem o caso do asmático, que insiste em dizer "que vida mais insalubre!".

Quando a jogada é mais ambiciosa – roubar um restaurante caro –, têm de se utilizar de armas. Mas não são capazes de manejá-las, o manejo é desastroso. De que são capazes então? O filme é feito para dizer: de nada. Ou é moralista ou é niilista. Então pra que fazer cinema, por que ganhar Gramado?..

Se não fosse a cena do Obelisco, marco oficial da história da Argentina, por cujo interior os jovens chegam ao topo, para fumar maconha.... Eis a única bela subversão do filme, a maconha no topo do Obelisco (dentro dele!), e de lá um olhar sobre Buenos Aires. Tudo muito fugaz, porém.

Álvaro Almeida

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